15 November 2007

NÃO ME LIXES, PÁ!!!

Rebuscando nos meus guardados, encontrei esta pérola, no suplemento Ípsilon, do Público.
João Bonifácio entrevista Camané, a propósito de um espectáculo que o fadista resolveu fazer, interpretando canções de Jacques Brel, Aznavour e Sinatra, entre outros.
De Brel, Camané interpretou "Ne Me Quittes Pas".
Recordo parte da letra dessa magnífica canção:


"Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main/L'ombre de ton chien"

Comenta João Bonifácio: "É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: «Deixa-me ser o ombro do teu cão…»

Camané acrescenta: «Ele queria ser o ombro do cão dela
porque queria estar ao pé dela, não queria que ela o deixasse.
E nessa fase da canção existe o desespero:
nem que seja uma mosca à tua volta, o ombro do teu cão, qualquer coisa, mas que eu possa estar ao pé de ti».

O ombro do teu cão?!

Quer dizer: nem o jornalista Bonifácio nem o fadista Camané sabem que "ombre" significa sombra.

Desse modo, os versos «deixa-me ser a sombra da tua sombra/ a sombra da tua mão/ a sombra do teu cão», transformaram-se em «deixa-me ser o ombro do teu ombro/ o ombro da tua mão, o ombro do teu cão»

O ombro do teu cão?!
O jornalista Bonifácio não percebe patavina de francês, não consultou o dicionário e
pior: O fadista Camané, interpreta uma canção sem se preocupar muito com o que está a cantar; para ele, tanto lhe faz estar a cantar um poema soberbo, como um chorrilho de asneiras.
Para ele, é tudo chinês (ou francês, tanto dá…)

Já agora, por que não traduzir
"Ne Me Quittes Pas" por "Não Me lixes, Pá!"?

Enquanto isso, muitos dos que escrevem estes Blogs, estão desempregados ou para lá caminham. Pode uma coisa destas?

Para me refazer de tamanho despautério resolvi ouvir a versão original,
gravada em 1959, numa “performance”emocionada do grande poeta.
Aqui fica.
Enjoy!

21 nhận xét :

Simone said...

Credo! Até assuste tamanha ignorância por parte de quem interpreta músicas de outrém...
J'adore Jacques Brel.
Beijinhos

Silêncio © said...

Oh meu Deus!
A minha alma ficou parva com tamanha burridade!
É como bem dizes não me lixes pá!
Um beijo incredulo

Sol da meia noite said...

Estou-me a lembrar duma letra que diz "Moi je ne suis une fille de l'ombre..."
Como traduziriam então?...

Beijinhos

Jasmim said...

Um beijo para ti e perdoa a minha ausência:a agora virei menos aqui; mas por mais que queira nunca saberi dizê-lo a importância que as tuas palavras tiveram nests ultimos tempos da minha vida.
Obrigada

Portanto, devemos:
fazer da interrupção um caminho novo,
da queda, um passo de dança,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro." - Fernando Sabino

Homem sem rosto said...

Palavras para que ???

Jacques Brel, uma forma simplesmente divina de interpretar uma canção singular.
Beijos e obrigado pelas tuas visitas.

Alexandre said...

Só posso dizer que este é um post divino, dos melhores que já li na blogosfera. Dos críticos que grassam pelos jornais nada me admira até porque eu conheci muitos do meu tempo do Expresso e posso assegurar que havia críticos de TV - não os de renome - que, imagine-se, nem sequer tinham televisão em casa, porque a televisão era considerado um símbolo anti-cultural. No entanto, para ganharem dinheiro à conta dela (TV) e debitarem o que (não) sabiam, já não eram anti-cultura.

Vi muitos pseudo-críticos de cinema, teatro, TV, exposições que poderiam saber de muitas coisas mas do que estavam a falar não sabiam, viviam da ignorância dos outros - muitos só comentavam discos que saiam nos EUA e que nunca cá chegariam - na altura ainda não havia compras pela internet - em detrimento da música portuguesa - porque de música portuguesa não percebiam patavina.

Sobre exposições havia críticos que enchiam 2 páginas tablóides com... nada! Em Portugal continua a escrever-se muito de crítico para crítico - mal sabem eles que o grande público se está lixando para eles!

Eu cheguei a ser crítico de TV - aliás, inaugurei a crítica regular de desporto na televisão em Portugal, não no Expresso, mas em jornais desportivos - e depois revistas - mas passava muitas mas muitas horas em frente ao televisor vendo os programas e tomando notas - ainda hoje tenho esses apontamentos.

Quanto aos artistas, o importante é que tenham voz - e Camané tem, mas se soubessem pelo menos francês e inglês não se perdia nada!

Que grande comentário! Muitos beijinhos!!!

Bia said...

nem imaginas o quanto me fizeste rir... e eu que tenho uma cadela, estou agora a olhar para ela e não lhe encontro ombro nenhum :))
e ela está a olhar para mim e se é que pensa deve estar a dizer passou-se!!!
beijo meu

irneh said...

Terão traduzido o poema no Google? Fartei-me de rir!!! Francamente!

Beijinhos

Tiago Nené said...

obrigado pelo simpatico comment sobre a minha poesia;)


abraço:)

www.tiagonene.pt.vu

Filoxera said...

Daaaah...! Acorda, Camané!
Não sei se o pior é a paixão levada ao degradante, se a ignorãncia elevada ao expoente público máximo...

Sky Walker said...

olá passei por aqui e gostei do teu cantinho.
Beijo

Oliver Pickwick said...

Olá, babe Velvet! Hoje é feriado no Brasil, assim, tive um pouco de tempo livre para visitar este lugar cheio de atrações especiais, o qual eu tanto aprecio.
Aqui, até os comentários são uma atração extra. O amigo Alexandre, como sempre, não deixa de lançar seus projéteis ácidos quando necessários, mas é um rapaz de bom coração, quando assistiu Stars Wars, torceu contra Darth Vader e a turma do Império. Som do Silêncio, veja só, criou um neologismo: burridade. A Bia, descobriu que a sua cadela não é tão assim, como dizem, o melhor amigo dos humanos.
Você está em ótima companhia.
Ainda por cima, descobri que temos muitas coisas em comum: "Gosto de rir, Gosto do Natal, Não gosto do Inverno, Gosto da noite, Não gosto de dormir", dentre outras coisas mais.
Tenha uma ótima semana, e desfrute da amizade com sua nova amiga.

"Amigo é coisa pra se guardar/no lado esquerdo do peito..."
Milton Nascimento

Aleisa said...

Esta música é sem sombra de dúvida lindissima... Até porque eu sou uma apaixonada, por natureza, e amo o romantismo, gestos romanticos, textos romanticos, musicas romanticas...

Um beijinho

mitro said...

Uma fabulosa interpretação que encontra eco no meu coração!

(Porquenãod eixam o génio ao génio e continuam no fado faduxo?)

O Profeta said...

Uma pérola de majórica...~


Os Deuses acordaram a ilha
Passaram a noite em celeste folia
Irritaram a chuva e o vento
Construíram castelos na maresia

Bom fim de semana



Mágico beijo

Melga do Porto said...

Pelo que escreveste.
Pelas tontearias ditas ao segundo.
Pelos impropérios transformados em linguagem.
Pelo abuso dos “significados implícitos”.
Por tantos outros “desastres”.
“Carpe diem quam minimum credula postero”
:)

Zebra said...

Blue, isto é do melhor que tenho ouvido!
A "bronquite" que anda por aí é terrível.
Do Camané, paciência, o rapaz não pode ter tudo.
O jornalista, tirou o curso aonde?
Deixa lá pá!, ainda há coisas piores...
Beijinho

Carlinha said...

Olá!
Cheguei aqui pelo blog da Bárbara Cecília e adorei o que li. Fiz um ano de Erasmus em Coimbra e, por isso, sou apaixonada por Portugal. O título do post foi o que me chamou atenção e despertou uma saudade um pouco adormecida...
Quanto ao comentário: concordo plenamente com o que vc escreveu e indico ainda um agravante. Na minha opinião, o Público é o melhor jornal publicado em Portugal atualmente... Se o melhor está assim, imagina como não é o nível dos outros? Realmente, não fiz pesquisa de mercado aí, pois lia o público e as coisas locais de Coimbra... Mas imagino que não deva estar caminhando mto bem!!
Gostei muito do seu espaço. Voltarei mais vezes!!
Beijos.

Sol da meia noite said...

Um beijinho e um fim-de-semana cheio de coisas boas!!!
E um muito obrigada pelas tuas palavras.

Oliver Pickwick said...

Data venia, babe Velvet, precisa perguntar se pode pegar um avião? Saiba que estarei lá, no aeroporto, com baianas vestidas a caráter; tocadores de berimbau; os tambores do Olodum; roda de capoeira; e, é claro, água de coco com acarajé, só para recepcioná-la.
Tenho comigo as minhas desconfianças de que a Bahia morre de saudades de você.
Se espante não, essa menina! (isso é baianês), a Bahia é assim mesmo, uma terrinha sentimental, se apega às pessoas que chegam, especialmente quando sente que a paixão é correspondida.
Num sabe daquela expressão, essa menina? (baianês), a tal de Carpe Diem? É, minha filha (baianês), não parece, mas foi inventada aqui, por um baiano, oxente!
Um beijo, e tenha o melhor dos fins de semana!

Maria said...

Jacques Brel merecia melhor...

Beijo