29 February 2008

PALAVRINHA HORROROSA: QUASE... I

Ainda pior que a convicção do não,
é a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda,
que me entristece,
que me mata
trazendo tudo que poderia ter sido,
e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades
que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas idéias que nunca sairão do papel
por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me,
às vezes,
o que nos leva a escolher uma vida morna;
ou melhor não me pergunto,
contesto.
A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância
e frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "Bom dia",
quase que sussurrados.
Sobra covardia e
falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima,
o amor enlouquece,
o desejo trai.
Talvez esses
fossem bons motivos
para decidir entre a alegria
e a dor,
sentir o nada,
mas não são.
Se a virtude
estivesse mesmo no meio termo,
o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina,
não inspira,
não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio
que cada um traz dentro de si.
Não é que fé
mova montanhas,
nem que todas as estrelas
estejam ao alcance,
para as coisas
que não podem ser mudadas
resta-nos somente paciência
porém,
preferir a derrota prévia
à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Prós erros há perdão;
prós fracassos, chance;
prós amores impossíveis,
tempo.
De nada adianta
cercar um coração vazio
ou economizar alma.

Um romance
cujo fim é instantâneo
ou indolor não é romance.
Não deixe
que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino
e acredite em você.

Gaste mais horas
realizando
que sonhando,
fazendo
que planejando,
vivendo
que esperando
porque,
embora quem quase morre
esteja vivo,
quem quase vive
já morreu...
Luís Fernando Veríssimo ...
Pintura de João Carita

12 nhận xét :

Maria said...

Teoricamente está tudo certo....
Na prática, bem na prática às vezes não é bem assim..
... é "quase"....

Beijinhos

Filoxera said...

São palavras que podiam ter sido escritas por qualquer de nós.
E, de facto, algumas pessoas estão mortas e ninguém as avisou...
Beijos.

Statler said...

Ahhh, grande Verissímo.
Um homem que me sabe ler os pensamentos!

Blue, desejo-te um fim de semana carregado de muitos quases.

E... é melhor ficar por aqui.

Sunshine said...

Este veio mesmo a calhar, é mesmo para mim.
Beijinhos com reaios de Sol

whitExpressions said...

Simplesmente adoro este!

Bom fim de semana.

Muitos beijinhos

Olá!! said...

lindoooooooooooo
bom fim de semana kiducha
Beiinhos

Unknown said...

O "quase morreu", ainda é a única incerteza que consola, admissível, toda a outra é muito imquietante sem dúvida.

:|

beijocas e bfs

Carminda Pinho said...

Também não gosto da palavra, mas às vezes...nada mais conseguimos sentir senão, uma "quase"...vida.:(

Beijos

Anonymous said...

Para quem gosta de poesia, pode dar um saltinho ao blog de um amigo meu que se lançou há pouco tempo nestes coisas: http://www.asurdezdapoesia.blogspot.com/

Angel said...

Era optimo se levassemos...a vida desta forma..o que não acontece porque por mais que não se goste existe sempre a possibilidade do talvez...mas é uma boa escolha e já agora...Sim...gosto de passar por aqui..;)beijinhos uma boa noite

ana said...

É bem verdade querida blue,quem quase vive...já morreu.Sou da opinião que devemos viver sempre ao limite,aproveitar cada dia como se fosse o ultimo e nunca adormecer com aquela sensação do poderia ter feito mas não ousei fazer! pode ser complicado na prática sermos textualmente como dizem estas palavras mas o facto é que para mim esta é sem dúvida a melhor maneira de estarmos na vida.
Carpe diem,:))

Beijinho docinho,:)*

Oliver Pickwick said...

Conheço este texto do L. F. Veríssimo, é de fato muito bem escrito, contudo, discordo da sua essência. "Quase" é um estágio, o "por um triz", um aprendizado para um posterior "na mosca!"
Não se chega a lugar nenhum sem que esteja quase perto.
Beijos!