14 April 2008

É HORA DE RESPIRAR


Quanto tempo levamos para deixar de ser o que éramos?
As pessoas mudam algumas coisas, mas quando é que a gente já mudou tanto que já não é a mesma pessoa de antes? Se mudamos uma opinião, ou várias, se mudamos de postura política, se não nos comportamos bem ou passamos a comportar-nos melhor, se deixamos de amar alguém e nos apaixonamos novamente, se mudamos de modo de vestir, cortamos o cabelo, isso tudo não quer dizer que nos tenhamos tornado outra pessoa.
Quando é que isso acontece, se é que acontece? Quando é que a metamorfose chega num ponto em que já não somos uma lagarta mas uma borboleta?
Não sei, sinceramente, mas há um dia em que a gente olha para trás e vê um casulo abandonado, olhamos-no no espelho e vêmos que o avesso tomou conta do dia, ou que há, em algum lugar, uma carapaça abandonada, tal como a de uma aranha que aumentou tanto de tamanho que nela já não mais cabia.
Nesse dia a gente nota que o vento do começo do mundo sopra nos nossos cabelos e eles escalam torres, enroscam-se nos ponteiros do relógio e param o tempo, que tudo é fértil e nas nossas pegadas habitam besouros e formigas.
Então, com muito cuidado, porque é perigoso, é hora de respirar, novamente pela primeira vez.
Pintura de Ronnie de Winter

12 nhận xét :

f@ said...

Ai Quanto tempo!!!???
O tempo todo que decorreu até ao exato momento em que nos interrogamos...
Acho que a mudança de t6ão lenta e passiva nunca nos deixa tão distantes do ser original...Agora o mundo das borboletas é bem diferente... do ser humano...na história de como a noite surgiu( e essa eu não sei onde anda.. além disso tem 26 páginas) tudo tem uma razão se ser... a borboleta tem asas e os homens Alguns tb têm mas não nas costas,... as asas do sonho da imaginação da criatividade...
Adoro o Final do teu texto... estou mesmo a pensar nem cortar os cabelos... só para quando o tempo soprar de feição eles se enroscarem bem e tão forte que o tempo possa ficar quieto e por longos meses ou anos...beijinho infinito das nuvens

Coragem said...

A pintura é simplesmente fantástica.
Quando em mim a mudança se fez notar, mesmo assim num click, foi no dia em que fui Mãe, tudo mudou.
O passado, presente e principalmente a forma de ver o futuro, e não falo do corpo, falo da consciencia, da forma de encarar a vida, nunca mais apartir desse momento fui a mesma.
Beijinho

Filoxera said...

Que maravilhosa escritora tu és. O post é soberbo e o conteúdo convida à reflexão.
Também filosofei hoje, mas de outra forma, e com muito menos estilo...
Beijos.

Oliver Pickwick said...

Eu mesmo não mudei muito, continuo praticamente o mesmo de anos antes, é claro que mais experiente e com mais conhecimento. Não tenho interesse em mudar, satisfaz-me adquirir apenas mais conhecimentos e melhorar a lógica da minha percepção.
Mudança radical mesmo, só na política: fui da extrema-esquerda até a direita conservadora, por conta do meu desencanto com os políticos.
Casulos, avessos, carapaças abandonadas, aranhas gigantes, ventos que param o tempo, respirar de novo... Suas mudanças são muito complicadas, Velvet. Imagino o tempo e a energia perdidas em gerenciá-las.
Um beijo!

Manuel Damas said...

Mas outrps dias há em que apenas vejo a lagarta.
Um beijinho grande, "blue"...

Pitanga Doce said...

Sair do casulo às vezes dói. Mas vá lá...uma asinha de cada vez!

beijos e seguiu mail.

Carminda Pinho said...

Excelente o teu texto, Blue.
Eu ando a tentar, lá isso ando...
mas sabes? Ainda não consegui. Bolas!!!

Beijos

Mary said...

Mudar físicamente é necessário...por vezes uma imagem longa cansa...agora quando falamos em mudar princípios, valores, critérios...aí é diferente porque estamos a alterar a nossa essência!!!
Um beijo

Sunshine said...

Voltei a respirar pela primeira vez um dia destes... e é óptimo voltar a sentir a vida e o seu gosto.
As transições levam tempo e, por vezes, passamos, por tempestades onde o Sol parece teimar em não querer aparecer. De repente, num dia acordamos e sentimos o conforto da nossa cama, respiramos o cheiro doce da nossa casa e vemos as cores do que nos rodeia. Neste dia nascemos de novo... sou uma sortuda por ter tido esta oportunidade.
Beijinhos com raios de Sol radioso.

Sol da meia noite said...

Belo este texto!
Se há um tempo em que sentimos em nós a idade do mundo, vem um outro tempo em sentimos que o mundo começou nesse instante...
Oscilamos sempre entre sentires opostos...

Beijinhos, querida

FM said...

Texto excelente, mensagem bem descrita... Força e vai em frente, se for mesmo o caso.
Beijos.

Melga do Porto said...

Uma questão pertinente.
Não pelo tema, mas pela realidade crua dela própria.
Quanto tempo!
Eu sinto que cada vez menos tempo é tomado.
Até há um tempo atrás um contrato tinha meia dúzia de folhas, hoje parecem romances.
Porquê?
Porque se deixa de ser o que se era de um segundo para o outro.
A palavra, a ética, a honestidade, a certeza e tantas outros apanágios de carácter que passaram a meras palavras.
Concordo por isso que está na hora de respirar de novo… senão isto está a ficar perigoso.
:-)