31 August 2008

O MEU FIM-DE-SEMANA

Cheguei do fim-de-semana!
A convite de uma amiga muita querida fui passar 3 dias a Aveiro, cidade que não conhecia.
Eu sei que é uma vergonha, mas é verdade, que hei-de fazer?
Já andei por sítios no Mundo onde nunca tinham visto um europeu ( juro que é verdade), mas conheço pouco acima do Tejo.
Eu até sabia que havia os moliceiros, adoro os docinhos de ovos, sabia que Aveiro é chamada de Veneza portuguesa, mas conhecer...não conhecia.
Como sempre faço quando vou a um sítio onde nunca estive, fiz um reconhecimento do terreno, antes.
Uma das coisas que me encantou foi descobrir que o seu nome vem do latim Aviarium, que significa "lugar onde se preservam os pássaros".
É claro que isto daria pano para mangas, porque, se por via erudita deu Aveiro, por via popular deu " Aviário" que como todos sabem é o local onde se guardam certas aves, mas para depois...matar e comer.
Mas enfim, continuando, também gostei de relembrar que no séc.XI a cidade foi conquistada aos mouros e que no Convento de Jesus ( agora Museu da Cidade) construído no séc. XV, está sepultada a Infanta D. Joana , filha do Rei D. Afonso V. Já sabem que gosto muito de histórias de princesas. Manias!

Quando cheguei perdi-me logo, porque a minha amiga disse-me para arrumar o carro no parque do Forum e eu, não sei se é do acordo ortográfico ou deformação profissional, tratei de perguntar onde ficava o tribunal. Claro que no tribunal não havia parque nenhum.
O Forum em Aveiro, é um centro comercial ao ar livre, que me lembrou a Galleria Vittorio EmanueleII, em Milão, que foi concebida em 1864 por Giuseppe Mengoni, para ligar a Piazza del Duomo á Piazza della Scala e á Via Manzoni. Estão lá as lojas mais chiques da cidade.
Em Milão e em Aveiro: desde Dolce e Gabbana à Miss Sixty está lá tudo o que eu gosto. Mas como não fui lá para fazer compras, toca a andar para sítios menos perigosos.

Mesmo ao lado da entrada há uma das muitas pontes da cidade, que passa por cima do Canal do Cojo, e que estava enfeitada de flores lindas. Ainda por cima buganvílias.

Aliás, uma das coisas que mais me impressionou em Aveiro, foi a limpeza das ruas ( não se vê um papel no chão) e as flores que enfeitam toda a cidade.


As fachadas dos prédios estão recuperadas e alguns edifícios fazem lembrar Biarritz.

Ainda tentei dar a volta pelos canais nos moliceiros, mas todos me chamaram saloia, porque o barco só sai quando está cheio de turistas mal encarados.
- Mas que coisa, eu também sou turista. Nada feito. Não os convenci.
Fiquei de trombas, que só me passaram na Pastelaria Peixinho onde comi não sei quantos bolinhos de ovo em forma de conchinhas, peixinhos, barris pequeninos, enfim, uma desgraça.

Rumámos então a casa, que fica numa pequena aldeia a poucos quilómetros de Aveiro, onde reinam 4 gatos e uma cadela.
Ao jantar fizeram-me a enorme partida de ir buscar um leitão que tinha sido assado de propósito para a ocasião, ( lembrei-me logo da Patti ), mas no qual não toquei porque comi petingas e filetes de polvo com arroz do dito, tudo regado com vinho branco e tinto, produção dos donos da casa.

O repasto terminou com um pudim de ovos e laranja feito pela dona da casa, que estava de comer e chorar por mais.
O resto da noite passou - se no jardim onde nada mais se ouvia do que o silêncio.
No dia seguinte, acordei com o cantar de um galo, coisa que não me acontecia seguramente, há mais de 25 anos.
Esteve um dia de praia fantástico. As praias têm a areia muito fininha e branca e a àgua é transparente e...gelada.

A cereja em cima do bolo, foi a ida à Praia da Costa Nova.


É uma antiga aldeia de pescadores, cujas casas recuperadas parecem de brinquedo.



São todas pintadas às riscas, com branco e outra cor.
Além disso têm os pormenores que os donos lhes dão.


As floreiras















As Janelas




























Os banquinhos de jardim



A sã convivência entre Benfiquistas, Sportinguistas, e Portistas

O melhor restaurante da Costa Nova


Na hora do até breve, nem a Betty Boop faltou para se despedir.

Obrigada Fátima e João. Adorámos, como se pode ver.


30 August 2008

OPERÁRIA EM CONSTRUÇÃO


No princípio eu era a Eva
Criada para a felicidade de Adão
Mais tarde fui Maria
Dando à luz aquele
Que traria a salvação
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.


Passei a ser Amélia
A mulher de verdade
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.

Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero a minha dignidade
Tenho os meus ideais!

Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou camionista, taxista,
Piloto de avião, polícia,
Operária em construção...

Ao mundo não peço licença
Para actuar onde quiser
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é MULHER..!!!!

Nota: Desconheço o autor





(19 ) NÃO RESISTI

Pimpyourprofiles.com to pimp your Myspace profile

29 August 2008

JUST A BOWL OF CHERRIES


Contei os meus anos e descobri que terei, eventualmente, mais ou menos para viver, os anos que já vivi até agora.
Daqui para a frente sinto-me como uma menina a quem deram uma tigela cheia de cerejas.

As primeiras, chupei-as displicentemente, mas agora que percebo que já tenho poucas, quero roer até o caroço.

Já não tenho tempo para mediocridades. Não aguento mais desfiles de egos inflamados.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que apesar da sua idade cronológica, são imaturas.

Não tenho tempo para ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões intermináveis que não levam a conclusão nenhuma.

Sem muitas cerejas na tigela, o meu tempo tornou-se escasso e a minha alma tem pressa.

Quero viver ao pé de gente humana que sabe rir dos tropeções, que não se encanta com triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge da sua mortalidade, que defende a dignidade dos marginalizados e deseja apenas caminhar do lado do Bem.

Quero desfrutar do amor, sem fraudes, absolutamente.

Só o essencial faz a vida valer a pena.

28 August 2008

( 2 ) 6 MÚSICAS





Continuando a responder ao desafio da Su para fazer 6 posts sobre 6 músicas que tenham marcado momentos da minha vida. A segunda canção escolhida é do Phil Collins - Against all Odds.
Esta música, que foi a banda sonora do filme com o mesmo nome, com 3 actores de que gosto muito ( Rachel Award, Jeff Bridges e James Woods ) foi nomeada em 1985 para o Óscar de melhor canção original, para o Globo de Ouro e para o Grammy. Mas não foi só porque gostei do filme que a música me marcou.
Em Fevereiro de 1985 encontrava-me em Londres com um grupo de amigos para comemorar o meu aniversário, quando soubemos que Phil Collins ia dar um concerto no Royal Albert Hall.
Decidimos logo ir, e como éramos muitos comprámos bilhetes para um camarote.
Estávamos já sentados, sentindo a excitação que se vivia na sala, quando às 20.00 em ponto, se ouviu uma voz solene:
- Ladies and gentleman, please rise. Her Royal Higness Lady Diana, Princess of Wales. Ainda não me tinha recuperado do espanto quando o hino inglês começou a tocar e os holofotes se fixaram num camarote separado do nosso por outros três, e no camarote real aparece Lady Di.
Inconscientemente levantei-me, tal como todo o teatro, e podem chamar-me saloia, bimba, deslumbrada, que não estou nem aí. Não sei como se sentiram os outros, mas eu fiquei completamente de olhos esbugalhados. Do sítio onde estava via-a perfeitamente e posso garantir que era das mulheres mais belas que vi na vida.
Sorria com um ar tímido e embora vestida com um blazer azul escuro e umas calças brancas estava chiquíssima.
Não fazia a mais pequena ideia que menos de um ano depois teria oportunidade de cumprimentá-la e trocar algumas palavras com ela, quando veio a Portugal.
Mas isso, fica para outro post.
As luzes apagaram-se e ouviram-se os primeiros acordes de Against all Odds.
O alinhamento das canções não era esse e foi-nos dito que tinha sido alterado devido à presença da Princesa.
Não sei se é verdade, mas naturalmente que a canção, de que já gostava, marcou um momento da minha vida que nunca mais esqueci.

27 August 2008

QUAL QUERIAS?




"Se houvesse sonhos para vender, que sonho comprarias? "
Thomas L. Beddoes

26 August 2008

LOOSE ENDS


Desde os meus 10 ou 11 anos que quase tudo o que vivo, vejo ou leio é motivo de gatafunhos. Tenho cadernos e cadernos com coisas escritas que decerto, jamais alguém lerá, embora tenha a certeza que um dia, pelo menos um livro hei-de publicar.
Mas só ousarei fazer isso quando tiver atingido a qualidade mínima para o fazer.
Embora tenha acompanhado a história da Catarina e do Bernardo quase desde o princípio, nunca pensei escrevê-la. Como também há praticamente um ano atrás nunca pensara ter um blog.As coisas acontecem assim, de repente, porque acontecem outras que as despoletam. Como uma cadeia.
Por estranho que pareça, foi o post " Português Suave" que fiz há dias, e os Jogos Olímpicos que me deram a ideia de escrever a história.
Quanto aos Jogos Olímpicos foi a China, o muito que se falou sobre o controlo da natalidade e do problema com o nascimento das crianças do sexo feminino.
Quanto ao "Português Suave" foram alguns dos comentários que me deixaram. Tudo junto fez um mix na minha cabeça que me lembrou a história dos dois.
Se àcerca da China é fácil de entender a associação de ideias, já quanto ao livro da MRP carece de uma explicação.
Entendo que um livro tem duas coisas que fazem a diferença entre um bom livro e um mau livro:
a história, e a forma como é escrito. Uma boa história não sobrevive a um mau "contador" de histórias, da mesma forma que uma escrita fantástica sem uma boa história não prende ninguém à sua leitura.
O que separa um bom filme de uma telenovela mexicana? De uma história de fazer chorar as pedras da calçada? De um dramalhão? A qualidade dos actores, dos diálogos, da música, do guarda roupa, dos cenários.
Num livro, a única coisa que não temos é a música.
Já o resto, tem que estar lá. E é aí que entra o escritor. É aí que reside a diferença entre um bom livro e a tal literatura light, para já não falar na literatura de cordel.
Um Paciente Inglês, um Out of Africa, um Doutor Jivago ou mesmo um Expiação não são histórias de fazer chorar as pedras da calçada? São. E não são verdadeiras obras-primas, quer se goste do género ou não? São.
Pela forma como são contadas.
Mas por outro lado, é um facto que há histórias, como a que contei, que são dramas de vida incontornáveis. Então só um bom escritor para as tornar um bom livro e não uma xaropada.
Pelos comentários que me fizeram, não tenho dúvida que todos ficaram impressionados com a história. Houve até quem gabasse a minha escrita.
Mas aprendi muito com aqueles cinco posts:
- A linguagem que se utiliza num blog não é utilizável num livro.
- É impossível escrever uma história bem escrita em meia dúzia de posts, porque não nos permite incluir os tais elementos que são necessários: a caracterização das personagens, a descrição dos lugares, das viagens, dos sentimentos...
- Não se pode escrever pressionado pelo tempo nem pelo número de páginas.
- Não é por se ter um bom blog que se tem a capacidade de escrever um bom livro.
Dois amigos cuja opinião muito prezo disseram-me o seguinte:
- Você escreveu de uma forma básica. O único elemento literário de toda a história foi a referência ao quadro da avó da Catarina e o facto de ela ter achado que a avó também estava a franzir-lhe o sobrolho.
- Escreveste em linguagem de blog e eu exigo mais de ti.
A ambos agradeço a crítica. Embora tivesse contra mim o facto de não poder fazer posts imensos nem escrever cem posts, eles têm razão.
Agradeço a todos que leram e comentaram. Mas a grande maioria pronunciou-se sobre a história e não sobre a forma como estava escrita.
Aos poucos que elogiaram a forma como escrevi, agradeço a bondade do juízo, mas sei que terei que trabalhar muito se um dia quiser publicar um livro.
Mas quem sabe, um dia chego lá.



Nota: Numa atitude de grande simpatia, uma nova vizinha, a Carlota, deixou-me uma música para esta história. Podem ouvi-la aqui.
Obrigada Carlota.

25 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - FINAL


Embora sentindo enormemente a falta do filho, a saudade era colmatada pelos telefonemas constantes e as grandes cartas que ia escrevendo aos pais e eram lidas a toda a família.
O espanto na chegada a Deli, a confusão das ruas e o cheiro da cidade, o paraíso de Goa, a viagem de 14 horas para Bombaim num comboio apinhado, sentado durante 2 horas no hall da casa de banho, único lugar onde tinha luz suficiente para ler, Agra, Jaipur, o Taj-Mahal, tudo ele descrevia com pormenores.
Depois o civismo e a limpeza de Singapura, de novo a confusão de Bangkok e por fim Macau.
E as fotografias que sempre acompanhavam as cartas e mostravam um Besnico feliz e em poses de palhaço, algumas vezes.
Mostrava-se maravilhado com Macau, onde encontrava a cada esquina coisas que lhe faziam lembrar Portugal.
Foi com um misto de alívio e incredulidade que Bernardo e Catarina se aperceberam que o ano tinha passado e o filho estava para chegar.
A mãe preparou os pratos que ele mais gostava, o quarto foi limpo de alto a baixo, até os cães tiveram que se sujeitar a banhos antecipados para estarem lindos quando o dono chegasse.
A casa foi enfeitada com cartazes à americana de “ Welcome” e tudo estava em ordem quando ele aterrou.
Foi um dia de emoções fortes.
Chegou mais alto, dizia a mãe, ao que o pai respondia: - Que disparate, o rapaz já cresceu o que tinha a crescer!
Os irmãos pulavam-lhe em cima e chamavam-lhe chinês, os avós estavam encantados.
Já passava das 2 da manhã quando todos se foram embora, depois da distribuição de presentes, que foi um momento de exclamações de espanto, fosse pelas sedas, pelos souvenirs ou pelo lindíssimo anel de brilhantes com uma enorme safira que tinha trazido para a mãe.
E foi depois de todos saírem que Catarina se fechou no quarto do filho, e lhe passou os braços em volta num abraço muito apertado, como se fosse de novo um bebé e finalmente sentiu que ele estava de volta.
Era Agosto, pelo que após o pequeno-almoço em família, todos foram para o seu querido Guincho, onde Bernardo verificou orgulhoso que o filho tinha feito muitos progressos no surf.
O mês passou com toda a família em festa até que chegou a altura de decidir o que Besnico ia fazer da vida.
Os pais ficaram sem palavras quando ele disse que tinha decidido licenciar-se em Direito...na Universidade de Macau.
Já trazia todos os papéis, tinha-se informado de tudo, achava que o futuro obrigava a que se começasse a aprender mandarim, e por isto e mais aquilo, era isso que queria.
Pela primeira vez na vida, Catarina quis dizer um rotundo não às pretensões do filho.
Não queria separar-se dele de novo. O pai também não, e os irmãos embora mascarassem a sua tristeza com sonoros “ Ele é maluco”, sentia-se que não gostavam nem um pouco da ideia.
Mas ele estava determinado. Precisava do dinheiro dos pais, é certo, mas era o que queria fazer.
Então “ se era para felicidade dele, e para o seu futuro”, cederam.
O dia da partida, com todos os preparativos que tiveram que ser feitos, chegou depressa. Mais depressa do que todos desejavam.
Ficou combinado que os pais lá iriam no Natal e ele viria nas férias grandes.
No final, foram os pais e os irmãos, que se propuseram abdicar das mesadas em prol da viagem.
E assim se passaram 3 anos.
Martim já estava com 18 anos e pronto a entrar para a faculdade e Lourenço continuava o mafarrico de sempre.
Nesse ano, ao contrário do habitual, foi Besnico que veio a Portugal passar o Natal, porque os avós estavam velhotes e queriam vê-lo e porque todos tinham saudades de um Natal à portuguesa.
Foi um Natal maravilhoso, com toda a família reunida, com missa do galo, todos os doces da época e muito carinho.
Em Janeiro ele lá foi de novo, enquanto Martim recomeçava orgulhosamente as aulas na Católica.
- Isto vai ser uma família só de doutores, dizia ele na brincadeira, enquanto Lourenço ria e afirmava peremptório que não contassem com ele:
- Eu quero é fazer surf.
No final do mês de Janeiro, Bernardo estava no escritório quando recebeu um telefonema de Macau. Habituado aos telefonemas do filho, atendeu com um sorriso nos lábios, mas a voz que ouviu não era a de Besnico.
- Mr. Bernardo ...?
- Yes. Who’s calling?
- I’m Doctor Masao Takashimaya and I’m calling from Hospital Kiang Wu. I regret to inform that your son had an accident. He was hit by a bus and he is in a very bad condition. I sincere advise that you come here as soon as you can.
Bernardo murmurou qualquer coisa como:
- Vamos imediatamente. Obrigado. – e desligou mecanicamete.
Não queria acreditar no que estava a acontecer. Não podia ser verdade. Tinha que haver um engano. Só podia ser um engano. Afinal, eles sabiam lá, no meio daquela confusão de nomes, se tinha sido o filho a ter o acidente... O raio do médico nem inglês falava correctamente...
Meteu-se no carro e foi para casa, sem conseguir respirar e sem imaginar o que ia dizer a Catarina.
Quando chegou encontrou a mulher que se preparava para ir trabalhar.
Estranhando a hora, pensou que o marido estava doente, e mais certa ficou quando viu a sua palidez.
Mas quando ele se deixou cair no sofá da sala e lhe pediu com voz grave que se sentasse junto dele, percebeu que algo se passava:
- Qual deles? O que aconteceu com os meus filhos?
- Bernardo.
O marido não soube porque chamou o filho por esse nome. Nunca o fazia.
- O que é que tem? Não se está a sentir bem? – Catarina pensou que era o marido. Ela não tinha nenhum filho chamado Bernardo.
- Bernardo. Besnico.
Catarina levantou-se com os olhos muito abertos.
- O que tem Besnico? Está em Macau. Está bem, ou não está?
A esta altura Catarina já estava a falar muito depressa e caminhava freneticamente à frente do marido.
- Não está Catarina. Foi atropelado e está muito mal. Temos que ir já para lá.
- Então vamos. Estamos à espera de quê? Vá separar as suas coisas enquanto trato das viagens.
Dirigiu-se ao telefone, e em menos de uma hora tinha as viagens tratadas. Depois falou para a mãe e para os sogros, subiu ao quarto onde fez a sua mala e a do marido. Esperou que os filhos chegassem para almoçar e contou-lhes o que se passava.
A meio da tarde tinha tomado todas as providências para embarcarem para Macau nesse mesmo dia, via Frankfurt.
Nem por um momento parou para pensar no que se estaria a passar lá.
Tudo o que queria era chegar perto do seu menino. Tinha a certeza que assim que lá chegasse tudo se resolveria.
Só quando se sentou no seu lugar no avião e este descolou, se recostou na cadeira e deixou que finalmente as lágrimas lhe rolassem pela cara abaixo.
Por muitas horas de voo que Catarina tivesse, nunca tinha feito uma viagem que lhe parecesse tão longa.
Mal chegaram a Macau dirigiram-se ao Hospital onde foram postos ao corrente da situação do filho:
Besnico tinha sido atropelado por um autocarro, sofrera fracturas múltiplas, hemorragias internas e um grave traumatismo craniano.
Tinham-lhe aliviado a pressão para o estabilizarem, mas a única hipótese de tentarem salvá-lo era uma cirurgia que, no entanto, tinha muito poucas hipóteses de sucesso.
Catarina e Bernardo dirigiram-se para os Cuidados Intensivos onde o filho se encontrava e mal o reconheceram na figura inerte que jazia no leito e no meio de todos os fios e ligaduras que o envolviam.
Mas apertou a mão da mãe quando a sentiu junto de si.
Nessa noite Besnico foi operado e faleceu na operação.
Quando deram a notícia aos pais, Bernardo pôs os braços à volta de Catarina mas foi um corpo inerte que apanhou no ar, impedindo-a de cair.
Catarina desmaiou, entrou em estado de choque e esteve dias sedada sem tomar conhecimento do que a rodeava.
Pela primeira vez desde que a conhecera, Bernardo estava sozinho para tomar as providências que tinham que ser tomadas, acompanhar Catarina e gerir a sua própria dor.
As primeiras démarches a serem feitas era tratar da remoção do corpo para Portugal.
Bernardo nem desconfiava do calvário que o esperava. A burocracia, o facto de não conhecer bem os costumes e os passos a dar, levaram-no a contratar um advogado. Assim, o processo poderia ser agilizado e ele podia passar mais tempo com Catarina, que continuava internada.
Uma tarde o advogado chamou-o ao escritório dizendo que tinha um assunto a tratar com ele.
Quando entrou na sala, além do advogado, encontrava-se também uma rapariga de traços orientais, muito bonita, pequenina, que fazendo uma pequena reverência se apresentou dizendo:
- My name is Hiroko.
Bernardo pensou que fosse a secretária do advogado.
Sentou-se e esperou ouvir aquilo que queria: que estava tudo resolvido e que podia voltar para Portugal com a mulher e o filho.
Bernardo recusava referir-se-lhe como “ o corpo do filho”.
Mas foi outra a história que ouviu:
Hiroko era namorada do filho e estava grávida de uma menina. Besnico pensava apresentá-la aos pais no Verão e casar em Portugal.
Agora Hiroko não tinha saída: solteira e grávida de uma criança do sexo feminino teria que dar a criança para adopção.
- A menos que o Sr. Engenheiro e a sua mulher fiquem com a criança e a adoptem.
A Bernardo parecia-lhe estar a reviver uma história pela qual já tinha passado há muitos anos. Parecia um castigo dos céus, mas porquê, se nem ele nem a mulher tinham feito nada de mal a ninguém?
Tentando recompor-se e raciocinar, respondeu ao advogado que o olhava expectante:
- Mas adoptá-la como, se a criança é minha neta?
- Isso não importa. Para levar a criança daqui, só adoptando-a.
Enquanto esta conversa decorria, Hiroko mantinha os olhos baixos como se nada daquilo lhe dissesse respeito.
Bernardo não sabia que fazer.
Tinha que tirar a mulher do hospital e trazer o filho para Portugal. Segundo o advogado, tinha que permanecer em Macau dois meses para poder adoptar a criança, e ainda faltavam 2 meses para ela nascer. O que dava quatro meses. Ele não queria ficar quatro meses em Macau.
- Porque raio na nossa vida é sempre tudo tão difícil? Porque raio para termos uma alegria temos sempre que passar por tanto sofrimento?
Isto era o que passava pela cabeça de Bernardo, enquanto o silêncio no austero escritório do advogado era total.
Mas ninguém lhe podia dar a resposta. Nem mesmo tinha Catarina para o ajudar a decidir, como tinha a contecido sempre desde que se tinham encontrado.
De volta ao hotel, percebeu que estava por conta dele. Tinha que fazer tudo sozinho.
No dia seguinte voltou ao escritório do advogado e disse-lhe o que resolvera:
- Assim que a minha mulher estiver em condições de viajar, vamos embora com o nosso filho. Deixo dinheiro numa conta para que nada falte a Hiroko. Quando faltar um mês para o parto, volto e fico cá até a criança nascer.
Entretanto vá tratando dos papéis da adopção, para assim que tudo estiver legalizado poder levar a minha neta comigo.
Uma semana depois Bernardo e uma cambaleante Catarina voltaram para Portugal, num avião que transportava no porão o caixão com o filho.
Foi com extrema dificuldade que Catarina assistiu ao funeral. Praticamente nunca mais falara desde que recebera a notícia da morte de Besnico e passava os dias deitada, e dopada com tranquilizantes.
Finalmente a vida tinha-a golpeado de uma forma da qual parecia que ela não conseguiria recuperar.
Quase não comia, tinha perdido dez quilos, e vestida toda de preto com os cabelos pretos, parecia ainda mais magra.
Nem os outros filhos conseguiam arrancar-lhe um sorriso.
Entretanto, um mês tinha passado e ela nada sabia de Hiroko nem da criança que ia nascer.
Depois de vir da missa do mês, à qual Catarina não conseguiu assitir, Bernardo sentou-se a seu lado na cama e segurando-lhe as mãos, foi-lhe contando com cuidado e escolhendo as palavras, a história de Hiroko e do bébé.
Catarina ouviu tudo, mas foi como se o seu cérebro não conseguisse apreender uma única palavra do que o marido lhe estava a contar.
Bernardo percebeu que tinha que fazer o que havia a ser feito, sozinho.
Pediu ao pai que ficasse na empresa, pediu à sogra que viesse para sua casa para ficar com Catarina, despediu-se dos filhos e apanhou de novo um avião que o levaria a Macau.
Um mês depois, como previsto, a bébé nasceu.
Era morena, com a pele muito branquinha, cabelos em pé e olhos amendoados.
Hiroko disse-lhe que ela e Besnico tinham decidido que se chamasse Kuiko.
Bernardo ficou mais 2 meses em Macau para poder trazer a pequena Kuiko com ele.
As notícias de Catarina não eram animadoras: continuava num estado quase catatónico.
Por outro lado incomodava-o a calma e resignação com que Hiroko abrira mão da filha.
De tal modo, que lhe propôs que ela viesse também para Portugal.
Mas ela não quis e ele nunca a viu deitar uma lágrima.
Voltou com a neta para Portugal, embora nos documentos ela figurasse como sua filha, não sem antes ter deixado uma soma que lhe pareceu suficiente para que Hiroko reconstruisse a sua vida.
Tinha apenas 20 anos.
A casa que em tempos estava sempre cheia de uma algazarra que às vezes até o cansava, estava em silêncio quando chegou.
Os filhos esperavam-no no jardim da vivenda, ansiosos por verem a trouxinha que vinha dentro do porta-bébés.
Catarina estava no quarto, na cama.
Bernardo subiu com a pequena Kuiko e depositou-a nos braços da mulher.
Passaram alguns minutos até que ela olhasse para a criança.
E passou aquilo a que a Bernardo pareceu uma eternidade, até que lhe pegasse e que pela primeira vez chorasse a sério, desde que o filho tinha morrido.
Parecia que a comporta finalmente tinha rebentado.
Só que aparentemente Catarina não percebia quem era a criança. Embalou-a como a uma boneca, ao mesmo tempo que cadenciadamente repetia: - A minha menina, a minha menina.
Bernardo entrou em pânico. Tudo menos a mulher enlouquecer. Ligou atabalhoadamente para o psiquiatra que estava a tratá-la e pediu-lhe que fosse lá a casa.
O médico chegou pouco depois. Segundo ele havia um fenómeno entre a negação da morte do filho e ao mesmo tempo a sua substituição pela nova bébé.
Medicou-a, mas disse a Bernardo para deixar ficar a criança com ela. Confiava que o seu instinto maternal a levasse a reagir quando Kuiko precisasse dela.
E foi o que aconteceu.
Quando a bébé começou a chorar com fome, ela pediu a Bernardo que fosse fazer o biberon.
Não que o fizesse de forma normal. Havia muita coisa que teria que voltar ao lugar na cabeça de Catarina, já que o coração talvez nunca mais cicatrizase.
Com o tempo, foi melhorando e embora triste foi aceitando o desaparecimento de Besnico. Ou melhor, resignou-se, mas nunca mais foi a Catarina alegre de outros tempos.
Continuou só a ser uma excelente mãe e a amar o marido como no primeiro dia.


Catarina tem hoje 67 anos.
Encontrei-a há tempos, passeando com Kuiko. Reparei que a trata por mãe, mas não fiz perguntas sobre isso.
Só lhe perguntei se, caso pudesse voltar atrás, mudaria algo na sua vida.
Olhou-me com os olhos brilhantes de lágrimas:
- Só uma coisa. Jamais deixaria Besnico ir para Macau.

24 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - 4ª PARTE


Catarina e Bernardo nunca se tinham importado com política e estavam preocupados demais com o problema que tinham que resolver para pensarem que a mudança de regime poderia vir a influenciar as suas vidas.
Antes de mais tinham que resolver o que iam fazer com o pequeno Bernardo. Catarina não estava zangada com o marido: não só era um miúdo quando tudo aconteceu, como ignorava a existência do filho.
Mas estava muito revoltada com os sogros e com a vida. Afinal estava a pagar preços muito altos para ficar com o homem que amava.
E a sacro-santa pergunta que todos fazem quando algo de especial lhes acontece, ela também a fazia a toda a hora:- Porquê eu? Porquê a mim?
Por seu lado Bernardo queria muito conhecer o filho, mas não ousava pedir isso à mulher. Com uma criança recém nascida em casa e fragilizada como estava, o medo de a perder foi mais alto e calou-se.
Foi Catarina que lhe propôs uma solução. Não havia volta a dar: o pequeno Bernardo teria que ser criado pelo pai e ... por ela. Se não o fizessem o arrependimento acabaria com o casamento, e a consciência de Catarina, sobretudo agora que era mãe, dizia-lhe que não podia abandonar a criança. Começaria por passar os fins-de-semana com eles para se ir habituando, depois viria durante a semana e iria passar os fins-de-semana com a mãe, enquanto ela pudesse.
E assim foi. O primeiro encontro de Bernardo com o filho foi comovente e embora os problemas financeiros e logísticos fossem grandes foram-se habituando.
Por outro lado a criança era muito boazinha e dócil e adorava o irmãozinho. Mas era também muito quieto e triste, o que preocupava o pai e Catarina.
No fim do Verão, Beatriz que sofria de leucemia, morreu tendo à sua cabeceira Bernardo e Catarina que também providenciaram o funeral.
Entretanto já Besnico, como carinhosamente era tratado, tinha o nome do pai na sua certidão de nascimento, tratava-o por pai e chamava Catarina de Tati.
E assim, quando no final de Setembro foram para o Guincho passar o dia, Catarina apercebeu-se que num ano toda a sua vida tinha mudado, e como num passe de mágica tinha dois filhos e um marido.
Apesar das dificuldades eram felizes e Bernardo tinha uma verdadeira adoração por Catarina, mais ainda pela atitude dela para com Besnico.
Matricularam-no na infantil, num dos melhores colégios de Lisboa. O mesmo para onde iria depois Martim.
Mas nos últimos dias de Outubro, nova mudança se iria operar nas suas vidas.
Com Catarina dividida entre o emprego, o infantário de Martim, os primeiros dias de escolinha de Besnico e com Bernardo a fazer o 1º ano da Faculdade de Economia, receberam um telefonema do pai, solicitando-lhe que fosse lá a casa para terem uma conversa.
A contra gosto foi.
E ficou a saber que os pais iam para o Brasil. Que as irmãs ficariam a morar na casa de Lisboa, que Bernardo deveria ficar à frente da empresa do pai e que tinham a casa de praia em Cascais à disposição para se mudarem para lá com as crianças.
Bernardo não disse nem que sim em que não. Irritava-o que o pai continuasse a resolver tudo por ele, e depois apresentar-lhe o assunto como consumado.
Iria falar com Catarina.
O que fez.
A mulher, com o sentido prático que sempre tinha em situações de crise, pesou os prós e os contras e chegou à conclusão que o melhor era aceitar.
Afinal o pequeno estúdio era pequeno demais para eles e as duas crianças, e desde que Bernardo conseguisse continuar a estudar à noite, as novas responsabilidades iriam não só trazer-lhes um aumento de rendimento que bastante falta lhes fazia, como amadurecê-lo.
Quando lhe disse o que pensava, o marido, com o bom humor habitual respondeu-lhe:
- Mais? Já estou tão maduro que qualquer dia caio da árvore - o que provocou uma enorme gargalhada em Catarina.
Só que ela tinha mais uma coisa em mente: queria baptizar as crianças e queria as duas famílias presentes.
Chegava de guerras e estava convencida que era uma boa altura para todos se reconciliarem entre si e com a vida.
Além do mais, agora existiam 2 crianças que ela queria que tivessem uma família e não só pais.
E assim, antes dos pais de Bernardo partirem, mudaram de casa e o baptizado foi feito numa cerimónia muito bonita, à qual se juntou o casamento por igreja dos dois.
Uma surpresa armada por Catarina, mas que Bernardo adorou.
Os sogros partiram para o Brasil, e a vida seguiu o seu curso.
Bernardo pedia muitas vezes conselhos a Catarina quando as coisas na empresa se mostravam mais complicadas, uma vez que os anos post 25 de Abril não foram fáceis.
Três anos depois foram presenteados com outra criança: mais um rapaz a quem chamaram Lourenço.
Catarina torcia por uma menina, mas:
- O Bernardo só sabe fazer rapazes - dizia ela, olhando o marido com adoração.
Em 1980 os sogros voltaram do Brasil e instalaram-se na sua antiga casa de Lisboa.
Por essa altura o pai de Catarina tinha falecido e com as crianças num colégio em Lisboa e ambos a trabalharem na cidade era praticamente impossível continuar a morar em Cascais.
Nova mudança, desta vez da mãe de Catarina que foi morar para a casa do Guincho e eles passaram para a vivenda onde Catarina tinha vivido toda a sua vida e de onde tinha saído sozinha, no dia do casamento.
Os anos passaram, as crianças cresceram, o casal teve os problemas que todos os casais têm, mas eram uma família feliz.
Viajavam nas férias, sempre para destinos longínquos, aproveitando as viagens de Catarina, os 3 rapazes faziam surf com o pai que os tinha iniciado na modalidade mal foi possível ensiná-los a nadar, e no Inverno iam para a neve, desporto que todos faziam, incluíndo Catarina.
Besnico nunca gostou muito de estudar. Ia passando de ano, mas chegou ao fim do liceu sem saber bem o que queria fazer. Na verdade o que ele gostava mesmo era de viajar. Conhecer novos países, novas gentes, novos costumes. Até costumava dizer que tinha herdado isso da "mãe Tati". Era como ele tratava Catarina.
Adoravam-se. Ela nunca fez qualquer diferença entre ele e os filhos que tinha dado à luz e ele senti-a como sua mãe, embora lhe tivessem contado, quando entenderam ser a altura, a verdade acerca da sua mãe biológica.
Mas ele não tinha lembranças dela.
Para ele, Mãe era a que o embalara, passara as noites à sua cabeceira quando teve papeira, sarampo e todas as doenças que as crianças têm. Os avós adoravam-no e já ninguém se lembrava do que acontecera anos antes.
Martim era uma aluno excelente. Com notas óptimas, sempre soubera que queria ser economista como o pai, que tinha cumprido a promessa feita a Catarina e acabado o curso 5 anos depois de começar, e entrou na Faculdade com 18 anos.
Já Lourenço era uma mistura dos dois. Desde pequeno que tinha um ar blasé, fazia as maiores patifarias aos irmãos sempre com ar de mafarrico e “achava” que queria ser advogado, mas não tinha bem a certeza.
Quando acabou o colégio, Besnico pediu aos pais para ir dar uma volta pelo mundo durante um ano, comprometendo-se depois a voltar e escolher uma profissão. Em último caso, se não quisesse voltar a estudar iria trabalhar para a empresa do pai.
Catarina, sempre com o espírito abero que a caracterizava, convenceu o renitente marido que não valia a pena contrariá-lo, dado que ele não iria nem estudar nem fazer o que queria.
Era melhor deixá-lo fazer o que sonhava e quando voltasse resolveriam. Embora contrariado, Bernardo concordou.
Iria para a Índia e depois o Oriente: Singapura, Bangkok, Macau, China e voltaria pela rota polar.
Apesar da concordância, foi com o coração apertado que Catarina e Bernardo se despediram do filho no aeroporto.
Nota: É amanhã o fim. É melhor prepararem-se, porque imaginação assim, só mesmo a Vida.

23 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - 3ª Parte


Depois de se certificar que Catarina tinha finalmente adormecido e que Martim também dormia, Bernardo saiu de mansinho, mas mal entrou no carro dirigiu-se a casa dos pais a grande velocidade, onde entrou utilizando a chave que ainda conservava em seu poder.
Foi directo à casa-de-jantar onde sabia que os pais estavam a almoçar.
Assim que o viram, o pai sem olhar para ele disse em tom jocoso:
- Então já se cansou de brincar às casinhas?
Bernardo engoliu em seco, e numa voz que mais parecia um gemido, pronunciou as palavras que lhe martelavam a cabeça desde que Catarina lhe despejara no colo a visita de Beatriz:
- A Beatriz esteve hoje lá em casa a falar com a Catarina. É verdade o que ela lhe contou?
Pela palidez da mãe e o olhar que trocou com o pai, percebeu que a sua aflição era fundamentada.
- Vocês são dois monstros. Como é que puderam?
E deixou-se cair numa cadeira chorando desabaladamente, sem fazer a mais pequena ideia do que ia fazer a seguir.

BEATRIZ

Beatriz nascera em Alfândega da Fé, uma aldeiazinha perdida no Norte de Portugal.
Com 14 anos veio para Lisboa servir para casa de uns senhores que tinham lá uma quinta.
Com o passar do tempo foi aprendendo e tornou-se uma excelente empregada. Despachada, boa cozinheira e de confiança. Diziam dela que " podia ver ouro em pó, que nada se lhe pegava aos dedos".
E era esperta também. Já que aquela era a vida que tinha, sempre que o trabalho aumentava ou se tornava mais experiente, pedia aumento. Se lho concediam, ficava. Se lho recusavam, mudava de patrões. Foi assim que foi parar a casa dos pais de Bernardo.
Gostava dos patrões e da casa. Não lhe davam grande confiança mas tratavam-na bem e o ordenado era bom. Além disso, no Verão iam para a casa de Cascais, e nas folgas ela aproveitava para ir para a praia.
Não conhecia ninguém em Lisboa por isso raramente saía, mas no verão não passava uma folga em casa.
Antes de vir para a capital nunca tinha visto o mar, pelo que este exercia sobre ela um fascínio especial.
Além de que aproveitava para ver o menino Bernardo a fazer surf.
Beatriz achava que ele era um príncipe e que devia ter algum poder especial, porque não era normal deslizar assim nas ondas em cima de uma pequena tábua.
Em boa verdade ela nunca tinha visto um homem tão bonito, tão cheiroso e tão educado.
Nunca se saberá se aconteceu porque aconteceu, ou se houve alguma outra intenção. O facto é que numas férias em que os patrões foram para o Oriente e ela ficou em casa com Bernardo e as irmãs, começou a andar pela casa em fato de banho quando vinha da praia, tal como via "os meninos" fazerem.
Uma tarde, ele tinha adormecido no sofá da sala depois de mais umas ondas, estava em tronco nu e calções de banho.
Beatriz aproximou-se dele e deitou-se ao seu lado. Tinha quase a certeza que ele nunca tinha ido para a cama com uma mulher e ela até era bem feita e tinha uma cara engraçada.
Quando percebeu o que tinha acontecido, Bernardo tinha deixado de ser virgem.
A partir desse dia as noites de Beatriz e Bernardo passaram a ser muito mais interessantes. Depois das irmãs estarem deitadas, Bernardo abria a porta do quarto e esperava na cama que Beatriz viesse ter com ele. E ela vinha. Todas as noites.
Para ele era descoberta do sexo, para ela nunca ninguém chegou a saber.
Quando os pais voltaram de férias tudo voltou à normalidade, exceptuando uns olhares que de vez em quando trocavam.
No fim do verão toda a família voltou para Lisboa.
Bernardo voltou à sua vida de estudante e começou a ter umas namoradas, embora de vez em quando, nas noites em que os pais saíam, fosse bater à porta de Beatriz.
No Natal foi com os amigos para a neve e quando voltou havia uma empregada nova no lugar de Beatriz.
Isto era tudo o que Bernardo recordava da passagem de Beatriz pela sua vida.
- Por alturas do Natal descobri que estava grávida D. Catarina, mas como o menino Bernardo era um gaiato, resolvi falar com os pais porque achei que com ele não ia resolver nada.
- Eles ouviram tudo e o Sr. Engenheiro disse-me que ia pensar no que fazer. Nessa noite ouvi-o discutir com a senhora, e no dia seguinte chamou-me e disse-me que, como já não era possível fazer um aborto, me ia dar dinheiro para eu ir para a minha terra ter o bébé e que me daria uma pensão para me ajudar a criá-lo, com duas condições: uma que eu nunca mais aparecesse, e a outra que nunca contasse nada ao menino Bernardo.
Aceitei, que havia de fazer? Grávida e sem referências, ninguém me ia dar emprego, e sem emprego também não conseguia criar o meu filho -.
Catarina não queria acreditar no que aquela mulher lhe estava a contar. Só podia ser mentira. Era demasiado terrível para ser verdade. Mas quanto mais olhava para os olhos azuis da criança, mais certeza tinha que a mulher não estava a mentir.
Tudo o que queria era que ela se fosse embora. Não percebia por que cargas de água, depois de 3 anos ela estava ali.
- Mas a senhora sabe, eu agora tinha que vir. Se o menino Bernardo não tivesse casado nem sei o que faria.
É que eu estou muito doente. Tenho uma doença no sangue e os médicos dizem que só devo durar mais 6 meses. Eu fui falar com o Sr.Engenheiro mas ele disse -me que não tinha nada a ver com o assunto e que eu abandonasse o meu filho à porta de uma igreja. Mas isso eu não posso fazer. Por isso vim pedir à senhora que fique com o Bernardinho quando eu me for. Não tenho ninguém a quem o deixar.
Catarina achou que aquilo não lhe estava a acontecer a ela. Que só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Pediu a Beatriz que se fosse embora, que ia ver o que podia fazer e que deixasse o contacto em cima da mesa.
Foi tudo isto que entre soluços e nos braços de Bernardo, lhe contou quando ele chegou a casa.
E era isto que ele recordava agora, sentado na sala de jantar dos pais, olhando para eles como se fossem dois estranhos.
Voltou para casa e durante dois dias ele e Catarina viveram como dois zombies, praticamente sempre na cama, agarrados um ao outro e a Martim como se o mundo estivesse para acabar.
E estava. Pelo menos o mundo como eles o conheciam.
Foi assim, num estado de dormência, que viram o dia 25 de Abril de 74 amanhecer.

Nota: Continua no próximo post. Tenham um pouquinho de paciência. É impossível contar tudo num post só.

22 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - 2ª PARTE


O silêncio que se seguiu à sua declaração permitia que se ouvisse distintamente o clic clic das luzes da àrvore de Natal que iluminava a grande sala e o crepitar da lenha na lareira.
Catarina olhou para o enorme quadro da avó materna que dominava a sala e teve a nítida sensação que ela estava de sobrolho franzido.
Desviou o olhar quando ouviu o arrastar de uma cadeira e a voz da mãe:
- A menina só pode ter bebido demais. Amanhã falamos.
Como se tivessem combinado, todos os membros da família se levantaram e se despediram como se nada se tivesse passado.
Catarina ficou sozinha a olhar para o bolo cujas velas nem tinham sido acesas.
A guerra tinha começado.
As famílias de ambos, embora não fossem íntimas conheciam-se.
O pai de Bernardo era um conhecido empresário e depois do interrogatório a que foi sujeita pela mãe, esta descobriu que era amiga de uma amiga da mãe do namorado de Catarina.
Unidas pelo objectivo que era acabar com " aquele disparate", as duas famílias começaram a jogar todos os trunfos que tinham.
Uma, porque não queria que o filho casasse com uma mulher que "podia ser mãe dele", outra porque não queria que a filha se unisse a um miúdo sem nenhuma esperança de futuro.
A Bernardo que se preparava para entrar na faculdade no ano seguinte, começou por lhe ser oferecida a hipótese de ir estudar para Nova Iorque. Perante a sua recusa, jogaram duro, oferecendo-lhe uma coisa que na altura era um sonho: um ano sabático e uma surf trip pelos locais que ele escolhesse.
A família sabia que quando Catarina metia uma coisa na cabeça era difícil dissuadi-la. Daí que optaram por não ir contra o casamento, desde que ela não tivesse o bébé que esperava.
- Afinal os casamentos desfazem-se mas os filhos ficam para sempre - era o que a mãe pensava no meio do tufão que de repente se abatera sobre a família.
Um aborto em Londres numa clínica segura, sem escândalos, era tudo o que a família pedia. E, se quisesse casar, era um capricho que logo lhe passaria.
Acontece que Catarina e Bernardo tinham outros planos e puseram-nos em prática:
Ela pediu para ser transferida para terra ficando a trabalhar no aeroporto. Abdicava da profissão que amava, mas pelo menos continuaria perto dos aviões, do cheiro característico da pista que tão bem conhecia e do movimento que adorava.
Alugaram um pequeno estúdio que foi mobilado por ela ( dado que a mesada de Bernardo foi imediatamente cortada ), e pelos amigos de ambos que embora também achassem uma loucura o que estava a acontecer, sentiam uma certa admiração pelos dois.
Bernardo começou a procurar um emprego, tarefa que se mostrou ser praticamente impossível dado que os amigos dos pais, a pedido destes, não lhe deram qualquer abertura.
O ambiente em casa de ambos era de cortar à faca. Entre as discussões e o ignorar em absoluto a sua existência, a vida deles tornou-se um inferno.
Foi no meio de enorme mal-estar que o dia do casamento chegou.
Sabendo que ninguém da família assistiria, Catarina abdicou da segunda coisa que mais tinha sonhado: o casamento por igreja. Sempre quisera entrar de braço dado com o pai na Igreja dos Salesianos no Estoril e já que nada ia ser como sonhara, resolveu fazer uma cerimónia civil só com a presença dos padrinhos.
Apesar de tudo, estava linda. Tinha escolhido um vestido branco simples, linha império, sem cauda e um pequeno véu. Levava na mão um ramo de rosas brancas.
Os padrinhos foram buscá-la a casa e a cerimónia foi absolutamente impessoal até à altura em que ela se virou para Bernardo e murmurou:
- Ainda bem que está aqui - ao que ele respondeu,
- Bem, era estranho se não estivesse. Afinal sou parte interessada - o que a fez dar uma sonora gargalhada.
Quando sairam para a rua, todos os amigos os esperavam cobrindo-os de arroz e beijos. Fizeram a festa ali mesmo, na porta da Conservatória.
Partiram para João Pessoa onde passaram a lua-de-mel.
A 1 de Abril Martim nasceu.
Desde o dia em que tinham saído de casa dos pais para casar, nenhum deles voltara a ter contacto com a família.
Catarina sustentava a casa e tinha feito uma combinação com Bernardo: as coisas manter-se-iam assim até que ele acabasse o curso. Não compensava ele estudar à noite para ganhar um ordenado irrisório, correndo o risco de nunca mais se licenciar.
Voltaram para o pequeno apartamento com o bébé e começaram a tentar organizar-se e habituar-se a situações que eram completamente novas para ambos.
Dar banho àquela coisinha que parecia ir desconjuntar-se a qualquer momento foi um tormento nos primeiros dias. Tratar do umbigo de Martim uma aflição que deixava Catarina à beira das lágrimas. Sem contar que nem um nem outro dormiam mais que 3 horas seguidas por causa da amamentação. De manhã quando acordava, Catarina só queria voltar para a cama.
Sentia falta da experiência da mãe, dos mimos do pai, da presença da família.
Invariavelmente, depois de Bernardo sair para as aulas, Catarina passava o dia a chorar.
Sentia-se cansada, revoltada, deprimida e só.
No dia 22 de Abril a meio da manhã, aproveitando que o bébé dormia, encostou-se no sofá para descansar um pouco.
Foi acordada pela campainha da porta. Como ninguém os visitava, deixou-se ficar, pensando que só podia ser engano.
Mas tocaram de novo. Levantou-se sonolenta e abriu a porta.
Diante dela estava uma mulher um pouco mais nova que ela, que segurava na sua, a mão de um menino dos seus 3 anos.
- D. Catarina?
- Sim, sou eu.
- O meu nome é Beatriz e preciso de falar com a senhora.
Catarina olhou a mulher com desconfiança. Tinha a certeza que não a conhecia de lado nenhum. O que poderia querer com ela aquela estranha?
No entanto, havia algo no semblante da criança humildemente vestida que lhe era familiar.
Sem saber bem como sair daquela situação, optou por mandar a mulher entrar para a sala.
Duas horas depois quando Bernardo chegou para almoçar, Catarina estava sentada na mesma posição em que se deixara cair no sofá depois de Beatriz sair.
Sentou-se ao seu lado e quando a beijou sentiu que ela estava gelada.
Foi uma mulher completamente desfeita e soluçando aflitivamente que Bernardo acolheu nos braços.

Nota:Continua no próximo post

21 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - 1ª Parte


Corria o ano de 1973 quando esta história começou.
Catarina era alta e magra, cabelos pretos com um brilho acobreado, fruto de uma mistura de henné natural que trazia do Brasil sempre que voava para lá.
Nascida numa das famílias mais tradicionais de Cascais e educada dentro de rígidos padrões de comportamento, cedo deu provas de uma independência que no início dos anos 70 não era muito bem vista no seio familiar.
Parou de estudar com 18 anos, idade em que começou a trabalhar como assistente de bordo.
Gostava daquela vida que lhe permitia sair do ambiente sufocante de Lisboa e do círculo de amigos cuja vida decorria monótona e repetitiva.
Para além das viagens que fazia em trabalho, aproveitava todos os fins-de-emana prolongados ou férias, para viajar para sítios de que a maior parte das pessoas em Portugal nem tinha ouvido falar.
Tinha ido a Bali, às Seychelles e às Maldivas e a descrição dessa e das suas outras viagens era motivo para animadas reuniões com os amigos.
Catarina tinha tido um namoro sério de alguns anos que acabara pela sua recusa em abandonar a aviação.
Um dos seus hobbies preferidos era passear no Guincho com os cães ao final da tarde, mesmo no Inverno. Costumava dizer que nessa altura a praia e o mar eram só dela, já que mais ninguém se aventurava a apanhar com o vento forte e o frio cortante que, as mais das vezes se fazia sentir.
Foi num desses passeios que conheceu Bernardo. Estava sentada a olhar o mar, enquanto os cães brincavam perto da rebentação, quando o viu chegar com a prancha debaixo do braço.
Naquela altura o surf não era um desporto comum em Portugal e por isso foi com curiosidade que o viu vestir o fato, correr para dentro de àgua e começar a ultrapassar a ondulação para apanhar as melhores ondas.
Ficou 2 horas sentada a observá-lo e abandonou a praia quando ele voltou para terra, não sem antes lhe sorrir.
Voltou no dia seguinte à mesma hora e a cena repetiu-se. Mas dessa vez, quando Bernardo saiu da àgua foi ter com ela e ficaram um tempo à conversa.
No dia seguinte Catarina voou para Nova Iorque, onde ficou 5 dias. Não lhe saía da cabeça o porte atlético de Bernardo, os seus cabelos loiros e olhos azuis que tanto contrastavam com o bronzeado típico de quem passa a vida dentro de àgua.
O avião de volta aterrou em Lisboa no horário previsto, de madrugada, e Catarina foi para casa descansar.
À tarde rumou ao Guincho e foi com um misto de alívio e excitação que viu um surfista dentro de àgua.
Era Bernardo.
A partir desse dia a vida dela passou a dividir-se entre o tempo que passava a voar e o que passava com Bernardo, ora na praia ora na casa de praia que os pais tinham em Cascais e que passou a ser o esconderijo de ambos.
Deixou de sair à noite, de se reunir com os amigos e todo o tempo que não estava a trabalhar era para estar com ele.
Catarina estava perdida e irremediavelmente apaixonada.
Em Dezembro tomou a decisão que iria mudar a sua vida para sempre.
Escolheu o dia 8, dia dos seus anos, para informar toda a família que tinha conhecido Bernardo no princípio do ano, que se amavam e tinham decidido casar o mais depressa possível porque estava grávida.
Catarina fazia nesse dia 32 anos. Bernardo tinha 18.


Nota 1: Esta história é verídica e só os nomes foram alterados

Nota 2: Continua no próximo post

20 August 2008

OS "WHAT IF'S" DA VIDA




Porque é que a vida não pode ser como nos filmes onde há sempre tempo de voltar atrás e corrigir os erros à custa de um esforço de vontade? Porque é que não podemos ter sempre certezas, mas antes viver mergulhados nas nossas dúvidas? Porque é que não nos apaixonamos, quais protagonistas de novela, logo no 1º capítulo, com a certeza de que tudo vai valer a pena porque no fim tudo acaba bem?

Porque é que os desencontros não podem ser somente temporários? Porque é que a cada curva do caminho não há um atalho que nos leve de volta ao ponto de partida? Porque é que nem sempre tudo tem solução? Porque é que temos que errar para aprender se seria tão mais fácil nascermos já ensinados? Porque é que continuamos a insistir em bater com a cabeça contra a parede se a primeira tentativa é suficiente para comprovarmos que dói?

Porque é que passamos metade da vida a pensar quando devíamos agir e outra metade a agir sem pensar duas vezes, irreflectidamente? E porque é que essa abordagem é tão eficaz para uns e só serve para complicar a vida dos outros?

Porquê insistirmos em magoar-nos e prolongar o nosso sofrimento lutando por sonhos impossíveis? Porque é que ao longo do trilho não há simplesmente tabuletas a indicar os becos sem saída que só nos farão perder tempo, e os sentidos obrigatórios onde, cedo ou tarde, iremos cair? Porque não acertar à primeira, mas somente depois de tentar 1001 combinações inúteis que só servem para nos desgastar o espírito, minar a confiança e estilhaçar o coração?

Porque é que a pessoa com quem estamos destinados a acabar não surge logo na nossa vida para ficar? Porque temos que nos submeter ao método da tentativa-erro? E, no fundo, porquê tantos porquês? Porquê esta capacidade, esta necessidade de nos interrogarmos, de nos torturarmos com os “E se” se no final tudo o que temos são factos imutáveis contra os quais de nada nos valem os argumentos?

19 August 2008

SO SWEET

18 August 2008

(1) 6 MÚSICAS

A Su que tem sempre uma ideias originais para fazer desafios, lançou-me um já há algum tempo, para eu fazer 6 posts sobre

6 MÚSICAS DA MINHA VIDA

Esta é uma tarefa quase impossível!

Melómana, quase tudo na minha vida tem a ver com música. Como vou conseguir só 6 músicas que tenham marcado momentos da minha vida? Assim sendo, vou dar um pouco a volta ao Desafio e escolher 6 mas que não tenham a ver só com momentos. Porque há 2 homens que não marcaram particularmente momentos, mas sim a minha vida toda, porque são os cantores da minha vida.

O 1º é Francis Albert Sinatra cante ele o que cantar. Mas há duas músicas dele que quem faz parte dos meus afectos, quando as ouve lembra-se de mim: New York, New York e My Way.
A 18 de Maio fiz um post sobre Frank Sinatra portanto não irei repeti-lo aqui.






Sobre as canções,

My Way
And now, the end is near
And so I face the final curtain.
My friend,
I'll say it clear,
I'll state my case,
of which I'm certain.
I've lived a life
that's full
I've traveled each
and every highway
And more,
much more than this,
I did it my way.

Regrets,
I've had a few
But then again,
too few to mention.
I did what I had to do
And saw it through
without exemption.
I planned each charted course
Each careful step
along the byway,
But more,
much more than this
I did it my way.

Yes,
there were times
I'm sure you knew
When I bit off
more than I could chew.
But through it all,
when there was doubt,
I ate it up and spit it out.
I faced it all
and I stood tall
And did it my way.

I've loved,
I've laughed and cried.
I've had my fill
my share of losing.
And now,
as tears subside,
I find it all so amusing.
To think I did all that
And may I say
not in a shy way,
No, oh no not me,
I did it my way.

For what is a man,
what has he got?
If not himself,
then he has naught.
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows
I took the blows
And did it my way!

Esta letra é o balanço que gostaria de poder fazer da minha vida, quando chegar a hora. Tudo está dito aqui àcerca de perdas, de ganhos, de amores, de golpes e de nós mesmos: que façamos sempre "à nossa maneira".

Quanto a New York, New York canta a cidade que amo como se fosse a minha, onde me sinto em casa, onde passeio como uma newyorker, para onde espero ir viver num futuro próximo.
Tenho pena que muita gente que só a conhece como turista diga que não gosta da cidade. Que é muita gente, muita confusão. Mas estão a referir-se a Times Square, à Broadway ou ao Empire.
Esquecem-se do Theatre District, do Upper East Side, dos museus, enfim da Manhattan de Woody Allen.
Se vos disser que nos arredores de Nova Iorque há uma zona do estilo da nossa antiga zona saloia e que há esquinas em Manhatten onde, em dias já conhecidos dos moradores, se podem comprar legumes frescos vindos das hortas dos "saloios" nova iorquinos, acreditam?
É uma cidade onde a qualquer hora do dia, mas sobretudo a qualquer hora da noite se pode comprar tudo, mas absolutamente tudo que nos apeteça?.
É uma cidade de luzes e encanto como não conheço outra. E é com toda a verdade que posso garantir que conheço meio mundo.
Nova Iorque é "The City that never sleeps"

BRAVO VANESSA!

17 August 2008

PORTUGUÊS SUAVE

Hoje o assunto prende-se com leituras e livros. Porque já tinha pensado escrever sobre isto, e agora vem a propósito porque nos últimos dias andei a falar de livros com uma vizinha.
Embora tenha aprendido a disfarçar educadamente certas reacções menos próprias em sociedade, confesso que tenho muita dificuldade em não fazer cara de espanto e algum "disgust" quando alguém me diz que nunca leu um livro.
Porque ler faz parte da minha vida desde que aos 4 anos a minha avó me começou a ensinar a juntar as letras e não imagino a minha vida sem livros.
Lendo aprendo, sonho, evado-me, apaixono-me, sofro, rio, enfim, vivo.
E tenho para mim, que quem não lê, entre outras coisas, não pode escrever. Não é possível.
Mas já a contrária não é verdadeira.
Não é porque se lê muito que se consegue ser escritor/a. Mesmo que se escreva muito bem, pode faltar-nos um certo quid que não nos permite imaginar o enredo, pôr as personagens a falar, entrecruzá-las e dar um fio condutor à meada que nos conduz ao fim e que faz sair dos nossos dedos, um livro.
Eu que o diga, que tenho o título ( ou tinha, mas isso é outra história), os personagens, a história mas não há meio de pôr tudo isto em forma de livro.
Isto leva-me a outra questão:
Quem escreve um livro é um escritor/a?
Eu acho que é. Pode ser bom ou ser mau, mas quem escreve um livro é um escritor.
Ora a que vem isto tudo?
A propósito de uma data de pseudo intelectuais que nunca escreveram uma porcaria de uma linha e se encanitam todos contra alguma literatura a que chamam " cor-de-rosa", embora muitas vezes seja bem cinzenta.
Isto dito, quando há uns anos a Margarida Rebelo Pinto escreveu "Não há Coincidências" lembro-me de ter lido o livro de uma penada e de me ter divertido imenso. Afinal ler também tem um fim lúdico.
Embora o livro tenha sido um sucesso de vendas, quer esse quer os que se lhe seguiram, foram atacados de tal forma que era preciso ser muito corajoso para comprar e ler um livro dela.
Sobretudo se fossemos conotados com pessoas cultas, o melhor mesmo era mandar alguém comprar o livro por nós, para não nos olharem com um certo desdém.
Eu própria confesso que comecei a olhar a fininha de lado.
Acontece que me ofereceram o seu último livro, de título "Português Suave" que ainda pensei trocar, mas depois decidi ler.
Porque não? Também não vem daí mal ao mundo, pensei eu.
E li.
E gostei. Assumo que gostei e quem não gostar que eu tenha gostado, azar.
Primeiro tem que ler e depois dizer-me por que não gostou.
Do meu ponto de vista, é o seu livro mais conseguido.
Mais maduro, com um trabalho de pesquisa muito bem feito e com um enredo interessante.
Mas do que mais gostei foi do retrato das épocas e da descrição da forma de viver de certas camadas sociais.
Aquilo é a realidade. Pode ser uma realidade fútil, uma realidade doente, uma realidade na qual não nos revemos.
Mas é a realidade.
Como ela escreve a certa altura, " Confesso que cheguei a invejar-lhes a vida organizada e ordeira, os filhos sossegados e disciplinados, aquele modelo muito burguês, muito português suave, a que o Alexandre O'Neill chamava a alegria sonâmbula, a vírgula maníaca do modo funcionário de viver, tão morno, tão brando, tão baseado nas aparências e em tudo como deve ser, porque o parecer está ainda e sempre acima do ser, e o dever acima do prazer, do sentir, de tudo".
Ora, como não gosto do viver "português suave" nem de viver de aparências, lá terei que confessar que embora não acreditando que exista ali uma candidata ao Nobel, gostei do livro e ela é uma escritora.
Nota 1: Claro que o facto da Carolina Salgado e a Catarina Fortunato de Almeida ( ex-Tallon ), terem escrito umas coisas com formato de livro, não as torna escritoras. Pelo simples facto de que aquilo não são livros.

Nota 2: Tenho que fazer uma correcção: o 1º livro que li dela foi o "Sei Lá" e foi esse que me fez soltar grandes gargalhadas. Porque a expressão " Sei lá", não era usada como quando alguém nos pergunta uma coisa e respondemos: sei lá.
"SEI LÁ" era uma expressão muito usada há uns 8 ou 10 anos, tipo bengala, como agora há quem comece as frases por " Então é assim".
Depois disso li o "Não há coincidências" de já não gostei tanto por ser mutio repetitivo do género, e fiz um interregno que durou até à leitura do " Português Suave".

16 August 2008

MÃOS QUE SE DÃO


A educação manda que não se gesticule mas a linguagem das mãos, às vezes é mais eloquente que as palavras.
Os gestos das mãos acompanham e dão vida ao entusiasmo, à alegria, ao desânimo, à tristeza, à raiva, à dor e sobretudo ao amor.
É com as mãos que acarinhamos, que tocamos, que deslizamos o amor e o desejo.
Quando se tocam, as mãos, além de falarem, significam.
Há mãos peganhentas e moles que causam repulsa.
Mas uma mão que se estende e aperta a nossa, pode ser a diferença entre cair no abismo ou nos reerguermos...

14 August 2008

PAREM O MUNDO...QUE QUERO SALTAR!

Semaninha difícil esta!

A Patti e a Maria ( duas vizinhas aqui do bairro) passaram o tempo a provocar a vizinhança com iguarias como estas




Vai daí, fiquei assim.


Como se não bastasse, contaram-me uma história que me deixou à beira de um ataque de nervos:
Um marginal preso em Alcoentre, fugiu, bazou, deu de frosques há 8 anos, e tem andado por aí, todo contentinho da vida.
Há uns dias foi apanhado a roubar materiais de construção e no meio da embrulhada que se armou, o filho foi baleado mortalmente.
Detido e apresentado ao juíz foi-lhe aplicado o termo de identidade e residência, após o que se veio a descobrir que ele não era ele, era o irmão, mas aí já ele se tinha pirado outra vez.
Fiquei outra vez com os nervos em pé de guerra.
Para me vingar, fui aqui




andei a passear por aqui,

e acabei aqui



a devorar isto


Quando já estava a sentir-me melhor, o meu cão deu-lhe a louca, e resolveu usar o wc assim



Resultado:
Acabei o dia assim!

13 August 2008

O CANCRO PODE ESPERAR!


A frase não é minha, é de Eric Shanteau, nadador norte americano de 24 anos a quem foi diagnosticado um cancro 7 semanas antes dos J.O. começarem.
" Estes não são uns J.O. São a minha única hipótese para a glória. Perdi Atenas por uma unha negra, e nadadores mais novos aparecerão para 2012. É Beijing ou nada, baby".
E fez a sua escolha: a cirurgia que deveria ser imediata, terá que esperar.
São 04.20 da manhã em Lisboa quando o vejo nadar a final dos 200 metros.
Não vai certamente levar 8 medalhas para casa como Phelps, mas é ele a inspiração para todos os atletas que estão em Pequim.
E é ele que comove o mundo inteiro.
Good Luck, Eric.

Notinha: http://www.youtube.com/watch?v=puwsPwMBuaA

12 August 2008

AMOR AOS PEDAÇOS




Todos os dias morre um amor.
Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a discussões vexaminosas capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.
Morre numa cama de hotel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos.
Morre da mais completa e letal inanição.
Todos os dias morre um amor.
Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro.
Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais doloroso do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida ensina-nos sempre alguma coisa.
E esta é a lição: amores morrem.
Todos os dias um amor é assassinado.
Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a força do escárnio, a metralhadora da traição.
A caixa com os presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio insuportável depois de uma discussão: todo o crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, como o Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem esconder-se debaixo da cama, ao lado do bicho papão. Outros confessam a sua culpa em altos brados e fazem de penico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime e buscam novas vítimas em salas de chat ou pistas de discotecas, sem dor ou remorso. Os mais perigosos aproveitam a sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda, com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente" ou romances açucarados de quiosques de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo para o mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.
Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão.
Estes não querem ser sacrificados e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos e definharão até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso de quando ela era novinha e ele um Elvis Presley da fase havaiana.
Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só da cintura pra baixo não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, dos preconceitos da sociedade, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, dos almoços de família ao domingo, das cuecas penduradas no chuveiro, das toalhas molhadas sobre a cama e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram: teimosos, belos, cegos e intensos.
Mas estes são raríssimos e há quem duvide de sua existência. Alguns chamam-nos de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas.
É por um amor assim que espero!