26 August 2008

LOOSE ENDS


Desde os meus 10 ou 11 anos que quase tudo o que vivo, vejo ou leio é motivo de gatafunhos. Tenho cadernos e cadernos com coisas escritas que decerto, jamais alguém lerá, embora tenha a certeza que um dia, pelo menos um livro hei-de publicar.
Mas só ousarei fazer isso quando tiver atingido a qualidade mínima para o fazer.
Embora tenha acompanhado a história da Catarina e do Bernardo quase desde o princípio, nunca pensei escrevê-la. Como também há praticamente um ano atrás nunca pensara ter um blog.As coisas acontecem assim, de repente, porque acontecem outras que as despoletam. Como uma cadeia.
Por estranho que pareça, foi o post " Português Suave" que fiz há dias, e os Jogos Olímpicos que me deram a ideia de escrever a história.
Quanto aos Jogos Olímpicos foi a China, o muito que se falou sobre o controlo da natalidade e do problema com o nascimento das crianças do sexo feminino.
Quanto ao "Português Suave" foram alguns dos comentários que me deixaram. Tudo junto fez um mix na minha cabeça que me lembrou a história dos dois.
Se àcerca da China é fácil de entender a associação de ideias, já quanto ao livro da MRP carece de uma explicação.
Entendo que um livro tem duas coisas que fazem a diferença entre um bom livro e um mau livro:
a história, e a forma como é escrito. Uma boa história não sobrevive a um mau "contador" de histórias, da mesma forma que uma escrita fantástica sem uma boa história não prende ninguém à sua leitura.
O que separa um bom filme de uma telenovela mexicana? De uma história de fazer chorar as pedras da calçada? De um dramalhão? A qualidade dos actores, dos diálogos, da música, do guarda roupa, dos cenários.
Num livro, a única coisa que não temos é a música.
Já o resto, tem que estar lá. E é aí que entra o escritor. É aí que reside a diferença entre um bom livro e a tal literatura light, para já não falar na literatura de cordel.
Um Paciente Inglês, um Out of Africa, um Doutor Jivago ou mesmo um Expiação não são histórias de fazer chorar as pedras da calçada? São. E não são verdadeiras obras-primas, quer se goste do género ou não? São.
Pela forma como são contadas.
Mas por outro lado, é um facto que há histórias, como a que contei, que são dramas de vida incontornáveis. Então só um bom escritor para as tornar um bom livro e não uma xaropada.
Pelos comentários que me fizeram, não tenho dúvida que todos ficaram impressionados com a história. Houve até quem gabasse a minha escrita.
Mas aprendi muito com aqueles cinco posts:
- A linguagem que se utiliza num blog não é utilizável num livro.
- É impossível escrever uma história bem escrita em meia dúzia de posts, porque não nos permite incluir os tais elementos que são necessários: a caracterização das personagens, a descrição dos lugares, das viagens, dos sentimentos...
- Não se pode escrever pressionado pelo tempo nem pelo número de páginas.
- Não é por se ter um bom blog que se tem a capacidade de escrever um bom livro.
Dois amigos cuja opinião muito prezo disseram-me o seguinte:
- Você escreveu de uma forma básica. O único elemento literário de toda a história foi a referência ao quadro da avó da Catarina e o facto de ela ter achado que a avó também estava a franzir-lhe o sobrolho.
- Escreveste em linguagem de blog e eu exigo mais de ti.
A ambos agradeço a crítica. Embora tivesse contra mim o facto de não poder fazer posts imensos nem escrever cem posts, eles têm razão.
Agradeço a todos que leram e comentaram. Mas a grande maioria pronunciou-se sobre a história e não sobre a forma como estava escrita.
Aos poucos que elogiaram a forma como escrevi, agradeço a bondade do juízo, mas sei que terei que trabalhar muito se um dia quiser publicar um livro.
Mas quem sabe, um dia chego lá.



Nota: Numa atitude de grande simpatia, uma nova vizinha, a Carlota, deixou-me uma música para esta história. Podem ouvi-la aqui.
Obrigada Carlota.

27 nhận xét :

f@ said...

Que tal juntares os Gata funhos e os transportares para “hoje”... Os acordares de mansinho na caneta ou no teclado.... Decerto podes até fazer com que a música saia das palavras...
Ao contrário de ti eu acho que os livros, alguns, têm música...perfume e até sentidos... tanto que mtas vezes quando julgamos pô-los de lado, são eles que nos abandonam por não termos a sensibilidade necessária para os "tocar"...
Beijinhos das nuvens

Pedro Branco said...

"Linguagem de blog" e "linguagem de livro"? Humm... Não sei. Talvez a diferença entre o poder alterar-se (para melhor ou para pior) seja o que for logo na hora, numa sensação de controlo total e imediato de uma produção que não existe como produto totalmente acabado... ou a angústia de algo que está ali, na estante, na mesinha de cabeceira, mais acabada e onde as alterações não são assim tão imediatas.

Talvez concorde. "Linguagem de blog" é diferente. Não sei...

Eu fiz umas escolhas... no blog... e com isso um livro. Terá mudado a linguagem? Terei cometido um leviandade? Serão as palavras leves demais para o papel?

Não sei. Sinceramente.

De qualquer forma, há uma coisa que é certa: há coisas que escrevo e que ficam pela gaveta. E no blog escrevo sempre directamente no computador.

Beijo e obrigado pela presença constante... nas minhas palavras que nos unem (de blog).

sagitario said...

embora não tendo grandes habilitações literárias, pois nuhca pude frequentar uma niversidade, a não ser agora a da terceira idade, toda a minha vida li e aprendi a distinguir quem escreve com a alma e nos prende realmente a uma boa história, mas há também que tenha uma escrita meramente comercial, assim sendo e acompanhando a sua história, digo sua, porque foi contada de uma forma tão envolvente, que só quem escreve com alma o consegue fazer.


esse sim é o segredo de quem sabe escrever.
Por isso não tem tempo a perder e faça o que realmente sabe fazer bem, claro é uma mera opinião e tem o valor que tem, mas por tudo o que já vivi de certeza que não estou enganada a seu respeito

Sorrisos em Alta said...

Já to tinha dito há uns posts atrás e repito: luta por isso, que mereces!

Beijo a sorrir

cecília said...

Blue,

Deixe-me que lhe faça um reparo: a apreciação de qualquer livro é sempre muito subjectiva, pelo que o recurso a elementos literários nem sempre garante o seu sucesso; é que cada um deles desperta imagens diferentes em cada leitor, mais ou menos fortes, consoante a sua imaginação, experiência de vida ou memórias inconscientes.

Não tenho a leviandade de sequer almejar em tecer qualquer crítica literária; apenas gosto muito de ler, mais nada... mas tenho a certeza de que qualquer dos comentários publicados, para além da história, teve em conta a alma com que foi escrita e que se revela nas frases mais simples ou mesmo telegráficas.

Esta história pode não dar um livro, mas quem é que disse que mesmo os grandes escritores só publicam romances?

Esta, é, definitivamente, um "Conto", que emocionou, que mexeu, que alvoroçou os corações, porque a Blue, mesmo sem recurso a grandes figuras de estilo, a soube escrever. Só isso...

greentea said...

digo o mesmo : um dia chego lá, pois tb queria muito publicar um livro!~~

Não li ainda a história toda , mas vou voltar para ler
Até já

1/4 de Fada said...

Compreendo bem as tuas reticências. Na minha família, de ambos os lados, há talento para música, desenho e pintura, escultura e, principalmente, escrita, publicada inclusive. Eu comecei a escrever praticamente logo a seguir a saber ler, sempre quis escrever um livro, tenho cadernos cheios de coisas e montes de outras páginas deitadas fora. Acabo sempre por chegar à conclusão que a mim se aplica o poema "Quase" de Sá-Carneiro...
Quanto ao meu post de hoje, foi resultado de um óptimo jantar seguido de uma sessão de vídeo em casa de um amigo, não há motivo nenhum para preocupações, mas fica um beijinho de agradecimento.

Patti said...

Penso que existem vários tipos de linguagem: prosa (e dentro deste outras tantas, conforme o género), jornal, revista, poesia, carta, fax, sms, blogs, recados, listas de supermercados e notas de batôm no espelho da casa-de-banho.

Tu contaste-nos uma história, sintetizada em forma de post. Real, interessante, curiosa, e emotiva quanto ao carácter dos personagens.
Penso, se não me engano, de uma forma rápida e concisa para postares a tempo do prazo que prometeste. O resultado foi muito satisfatório.

Tu escreves bem Blus, és directa, objectiva e clara.
Eu gosto sempre de te ler.

Quanto a escrever um livro, espero que consigas esse teu sonho um dia.
E um dia também sei que vou postar sobre esse tema. Veremos se pensamos da mesma forma.

Filoxera said...

Querida, eu gostei da história tanto como da escrita.
Acredito que tens capacidade para escrever num ou noutro estilo. E acho que este meu juízo não é faccioso, de amiga; é de quem sabe de que bagagem és feita.
Continua!
Beijos.

carlota said...

Bluevelvet o certo é que com as tuas palavras conseguiste ter-me completamente presa ao teu blog.Esperei pela meia-noite e um minuto para vir aqui ler o final da história. Claro que escrever num blog é diferente de escrever um livro. Agora o que não tenho duvidas é que muitas pessoas ficar presas á tua história.

Obrigado pelo carinho das tuas palavras,como novata por aqui fiquei sensiblizada.
E sou eu que te agradeço o facto de me teres dado a conhecer uma historia tão linda e tão sofrida
Beijo

Anonymous said...

Quando era miúdo tinha como grande ambição escrever um livro e pensava que tinha escritos com alguma qualidade. Um dia peguei numas coisas, fui a duas editoras e levei sopa.
Recentemente, propuseram-me a publicação de um livro de contos ( tenho bastantes armazenados e alguns já estive tentado a postar em capítulos), mas agora sou eu que não quero, porque aquilo que escrevo me parece sempre pouco conseguido e sinto alguma vergonha.
Eu sei que até a MRP publica livros ( vai sair-me cara esta provocaçãozinha, não é BLUE?), mas não considero que a minha escrita justifique que alguém pague um preço por ela.
A linguagem de blog ser diferente da de um livro, é muito relativo... Eu, por exemplo, no blog nem sequer me preocupo muito com gralhas, pontuações e estilo. Escrevo muito depressa e muito raramente trabalho um texto para post. No entanto, há blogs que cultivam e aprimoram o texto - quiçá a pensar em publicação futura..
Se quer a minha opinião sincera, gostei bastante do conto que escreveu, gosto de a ler ( por isso venho cá diariamente) e penso mesmo que a história podia dar um livro.
Ser ou não um sucesso, depende de muitas coisas. Por acaso tenho um post que escrevi no Alentejo sobre isso, que um dia destes vou pôr no ar. Estava a aguardar uma oportunidade, talvez tenha chegado, graças ao seu post.
desculpe o espaço que lhe roubei.
Beijinhos conchinhas

ANTONIO SARAMAGO said...

Prezada BLUE:cADA UM ESCREVE ESCREVE COMO SABE, ou até mesmo pode inventar qualquer coisinha, estamos numa fase em que já não sabemos muito bem como é ou vai ser a lingua PORTUGUESA, até o próprio "José Saramago" DÁ PONTAPÉS NA GRAMÁTICA e quem, te criticar por eventuais erros, que reveja em si primeiro as asneiras que também comete.
Não desistas da ideia de escreveres um livro.
Veludinha és!!! Gósto imenso de ler o que é teu!

BlueVelvet said...

Fa,
agradeço a tua confiança.
Talvez os acorde, sim.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Pedro,
obrigada pela sua visita e pelas suas palavras.
Mas você, por muita coisa que guarde na gaveta tem material de sobra para publicar.
É tudo lindo.
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

Sagitário,
foi realmente escrito com alma, justiça me seja feita.
Não são as habilitações que nos dão sensibilidade, e isso, a minha amiga tem de sobra.
Obrigada pelo incentivo.
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

Sorrisos,
está bem.
Já vesti a armadura e tudo.
Para a luta, claro.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Cecília,
obrigada pelo seu comentário.
Para quando o blog?
Não me parece que precise de muito: só um empurrãozinho:))
Beijinhos

BlueVelvet said...

Gree Tea,
seja bem vinda e cá a espero.
Veludinhos

BlueVelvet said...

1/4 de Fadas,
vamos ver então se conseguimos ultrapassar o " quase".
O jantar deve ter sido óptimo, mas pregaste-me um susto:))
Beijokas

BlueVelvet said...

Patti,
sabes que não é bem um sonho.
Não quero escrever um livro para ser conhecida, ganhar dinheiro ou ter muitos leitores.
É uma espécie de necessidade de pôr no papel histórias que estão na minha cabeça.
A ver vamos.
Fico à espera do teu post.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Carlota,
não tens que agradecer.
Gosto sempre de incentivar quem começa um blog, porque eu não tive ninguém quando comecei o meu.
Por outro, gosto muito de pequenas atenções como a que tiveste dando-me a morada da senhora dos doces algarvios, e agora a música.
Só podia retribuir tanta gentileza com um pequeno carinho.
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

Filoxera querida,
passei-te por cima:))
Desculpa.
Está bem, pronto: vou acreditar que não foste facciosa.
Beijokas

BlueVelvet said...

Carlos,
faça favor de roubar o espaço que quiser.
Sinta-se em casa.
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

António,
és um querido.
Obrigada.
Veludinhos azuis

Teresa said...

Eu nunca comentei nem elogiei a forma como redigiste a história porque não tinha conhecimento que esse era um dos fins da dita.
Li-a toda, embora atrasada, por motivos pessoais, no último capítulo. e não a comentei. Só me apeteceu lê-la.

Não distingo entre linguagem de blog e não blog.
Pois se há blogs que já dão livros. E de sucesso, pelos vistos.
Pois se há blogs que dariam excelentes livros.
Pois se há livros que não tendo sido blogs não prestam.

E não terminaria este jogo cruzado.

O registo de cada um é pessoal. Intransmissível. Não criticável. Nunca gostei de críticos literários. Nunca. E, talvez por isso, não seja adepta das leituras recomendadas ou recomendáveis.
Folheio, compro. Porque gostei do título, porque gostei do que li na diagonal enquanto folheei. Depois critico eu a minha compra.
Não leio livros badalados. Pela crítica, claro. Nego-me. Aborrece-me lê-los.

Repito, não gosto de críticos literários, nem de críticos do que quer que seja. Por isso li a tua hi´stória, fundamentando apenas o meu raciocínio no enredo, desejando o final. como, de resto, faço perante todas as minhas leituras.

Mas isto sou eu que tenho "aquele" feitio.

Beijo.

Teresa said...

Bem, voltei para apenas esclarecer que não estou a criticar quem conversou contigo sobre o teu registo escrito.

Apenas falei de mim. Queria dizer que EU não havia comentado os posts e o registo porque não gosto de críticos literários.

Só para esclarecer. Detesto más interpretações e coisas na minha boca que não estiveram nas minhas intenções.

Beijo.

Leonor said...

Blue

Escrever também se pratica (acho eu).
Quando faço comunicações, escrevo duas: uma para ser lida (não tenho exactamente o dom do improviso), outra para aparecer escrita nas actas...

escrita de blogs, escrita de livros??? são públicos, processos de criação distintos, não é possível comparar, no meu ponto de vista. Mas é tudo escrita...

e eu gostei de ler

beijinhos, boa semana