31 October 2008

CONDOMÍNIOS FECHADOS


À parte a nata dos privilegiados de berço que podem dar-se ao luxo de habitar no casarão de família em pleno centro urbano ou num prédio classificado da zona histórica - airoso, remodelado segundo cânones exigentes e luzidio como um brinco - os pretendentes ao reconhecimento social habitam condomínios fechados. Estes, na ausência de estrelas classificativas, distinguem-se por parâmetros difusos: é diferente habitar no Condomínio do Parque ou no Massamá Place. Muito diferente.
Aqueles que os portões e gradeamentos mantêm arredados dos guetos ajardinados, podem ser ingénuos e ter quem lá dentro se move, como utente de vida desafogada. Não me preocupa se a abastança é real ou fictícia, mas é sabido que os calotes e preço por metro quadrado estão em compita directa. Condómino pontualmente pagante das mordomias mensais, é raro. Lugar de venda de frutas e legumes levando a casa a encomenda, é bom que se rodeie de cautelas – as empregadas recebem, a «senhora» nem vê-la e semana após semana a «continha» cresce a rombo.
As empregadas são o lado mais saboroso da história. Na negociação do contrato, estabelecida a exorbitância a pagar que deixa longe o ordenado de qualquer jovem licenciado, indagam se têm lugar na garagem, já que “estacionar foi um inferno.” A meio da tarde, as babás empurram cadeirinhas ou vigiam querubins loirinhos e de olhos azuis, como devem ser todos os querubins. Cada uma reclama para a respectiva patroa maior mérito social e pessoal:
–É como te digo, Zulmira, hádes ver ela na revista que te falei. Ninguém diria que aquilo é a ramelosa que vejo pela manhã quando lhe entro em casa!
A coisa chegou a tal ponto, que paga o justo pelo pecador.
Estando aqui Euzinha partilhando limpezas profundas com a minha mui querida e estimada Maria, esta empoleirada num escadote livrando do pó a sanca do tecto, fui abrir a porta ao novo funcionário do talho. O homem olha-me, e antes de entregar a preciosa carga, pergunta respeitoso:
-A Senhora está?

34 nhận xét :

Menina do Rio said...

Condominios fechados é o que mais se vê por aqui também. Muitos de altissimo luxo, com cameras e espelhos, seguranças e etc, cuja cota condominal, meu salário não cobriria. Quanto às empregadas, por aqui elas estão deixando de existir. Antes ganhava líquido e tinham casa e comida, mas depois reinvindicaram direitos de qualquer outro trabalhador, sem quererem cumprir os deveres (descontos em folha) e ainda queriam casa e comida. Assim é mole! Por falar nisso, vou exigir que a empresa que me contratou me pague casa e comida, para eu poder custear a empregada. Beijinhos

salvoconduto said...

Eu a brincar e tu não me reconheceste!
A carne ao menos estava do teu agrado?

Abreijo.

Carminda Pinho said...

Ahahah!!! É bem feita!
Quem manda a menina encomendar para levarem a casa? Eheheh!

Beijos

Pitanga Doce said...

Se o entregador for um gajo jeitoso destes que aparecem nos anúncios de TV...

Olha que se calhar não tinhas tirado a fantasia do baile do post abaixo e estavas à Lolita, com shortinho curto, cabelos presos e descalça. buuuuuuu!!!!


boa noite, Blue ( não te zangues, é tão mais carinhoso!)

Cadinho RoCo said...

Eis a realidade que estamos nela.
Cadinho RoCo

ANTONIO SARAMAGO said...

Pois é amiga,desculpa a expressão mas caga-se muito alto por este Portugal fora...
Ficou-te mal o empregado do talho pensar que eras a empregada? Entendo que não, porque afinal não tens cagança de SRA FINA!

Patti said...

Deviso á minha profissão, trabalho com muitos desses que vivem nos condomínios fechados das zonas chiques. Muitos deles, têm a dispensa vazia, vivem hipotecados e de aparências, nada é deles, nem a torradeira. São difíceis para pagar, só avanço com a obra com 50% na minha mão.

Os que vivem em codomínios em Massamá, têm casas excelentes, de óptimos acabamentos e de grandes áreas. E são até bastantes caras. Têm muito bom gosto e dinheiro vivo para as pagar. O carro é deles e a torradeira também. Não me ragateiam os preços dos projectos como os outros. Têm dinheiro vivo, mas não sofrem de ostentações e jantam fora muitas vezes ao mês.

Si said...

Ora, Velvet, que coisa!
O senhor do talho só queria saber se ia receber a gorja ou não e se, no entretanto, podia dar uma de galã pra cima da empregada que ele achou jeitosa!
rsrsrssr

Filoxera said...

Toma!...
Beijos.

f@ said...

Gosto de farsa no teatro até de teatro de rua gosto…
Neste caso o meu comentário seria lancinante como as facas do Senhor do talho… motivo porque vou remeter ao silêncios e tentar tb silenciar os ruídos do pensamento…
Beijinhos das nuvens

Vera said...

Ah pois é bébé...e mais não digo! A Patti já disse tudo o que se pode dizer sobre este assunto!
Adorei o post ;-)
Bom Halloween!

BlueVelvet said...

Menina do Rio,
que bom ver-te por aqui.
Essa é uma boa ideia, rsrsrs
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

Salvo,
eras tu?
Ó homem, e não é que não percebi?
Os bifinhos estavam uma delícia.
Dizem, porque não eram para mim.
Beijokas

BlueVelvet said...

Pitanga, está bem.
Com esse teu jeitinho doce convenceste-me. Podes chamar-me de Blue.
Descalça? Mas tu julgas que isto aqui é o Rio? Shortinhos? Menina, está um frio de rachar e os aquecimentos só se ligam depois das 8 que é mais barato. rsrsrs
Beijinhos

BlueVelvet said...

Cadinho Roco,
bem vindo.
Veludinhos azuis

BlueVelvet said...

Patti,
nem a torradeira???
Não me digas que já fazem leasings das ditas.Rsrsrsrs
É mesmo como dizes.
Viver de aparências, neste país virou profissão.

BlueVelvet said...

Si,
optimista como sempre.
rsrsrsrs
Beijinhos

BlueVelvet said...

Filoxera,
algo me diz que te estás a rir.
Beijokas, amiga

BlueVelvet said...

Fa,
estás a falar daquelas facas que cortam os dedos quando só queremos cortar uma fatia de broa? Rsrsrs
Tu não fiques engasgada que isso faz-te mal.
Volta lá aqui e solta a voz dos teus pensamentos.
Beijinhos, linda

Anonymous said...

Vivemos numa época em que "mais vale parecê-lo do que sê-lo."
Alinho com Mário Soares quando ele diz que os condomínios privados são uma chaga social. Conheço alguns casais que vivem nesses "ghettos" e tudo se passa como descreve.
Quanto ao tipo do talho deve ter pensado: "Bem, se a empregada é assim jeitosa, como não será a patroa!"
Conchinhas

Justine said...

Ilhas de solidão e de isolamento do mundo real, estes condomínios fechados.
Mas deixemos o ar taciturno e olhemos as coisas com o teu tom irónico e bem disposto, que é capaz de ser bem mais demolidor!

1/4 de Fada said...

Beeeemmmm, este post tem muito que se lhe diga! É melhor eu ficar apenas por uma leitura superficial e dizer que é realmente verdade que as aparências iludem... hoje até é noite de Halloween, não é?

LeniB said...

Deixa lá...todas temos momentos de mulher-a-dias!!!
bjs e bom fim-de-semana

Leonor said...

ou não se abre a porta, ou não se manda entregar em casa...

mas alguns condomínios fechados até fazem claustrofobia, digo eu que nunca me veria a morar lá (mesmo que tivesse dinheiro, claro)

veludinhos

Tretoso Mor said...

Veludinho,

Desisto!...

Eh pá!... Não sei o que se passa, mas já escrevi dois comentários aqui e pelos vistos não recebeste nenhum!..

Tretices em tons de azul, mas muito escuro para ti.

Tretoso Mor said...

Veludinho,

O gajo é esperto!....

Era dois em um. lol

Com a senhora em casa, era a gorja e o recebimento da conta. eheheh

Tretices azulinhas para ti.

(Vamos ver se agora entrou o comentário. lol)

mfc said...

Sempre achei que os açougueiros não tinham olho clínico!

BlueVelvet said...

Carlos,
acha que foi isso? rsrsrs
Beijinhos

BlueVelvet said...

Justine,
às vezes a melhor maneira de levar estas situações é realmente com um sorriso mordaz.
Beijinhos

BlueVelvet said...

1/4 de Fadas,
as aludências aparudem, minha amiga.
Beijokas

BlueVelvet said...

Lenib,
pois temos e não há volta a dar. rsrsrs

BlueVelvet said...

Leonor,
pois é.
Não se pode ter tudo:)
Beijinhos

BlueVelvet said...

Tretoso,
entraram os dois.
Andas a fazer alguma treta mal.
Beijinhos

BlueVelvet said...

MFC,
é mais olho carniceiro. LOL