3 December 2009

A PATTI COMEÇOU...EU ACABO


Congelo sempre mirtilos no inverno. Só assim posso utilizá-los durante todo o ano em marmelada, sumos e bolos. Quando eu era criança, o meu avô contou-me numa das suas muito fantasiosas histórias, que existia um reino de princesas do gelo, exímias amazonas e caçadoras nocturnas, com uma visão apuradíssima, devido aos vinhos tingidos com mirtilo.
Caçavam pirilampos incandescentes, pó incendiado e desperdiçado nas caudas das estrelas cadentes e velas voadoras, para iluminarem o seu reino nos invernos sombrios das montanhas onde vivam.
Um dia, encontraram um mirtilo descolorado. Muito infeliz e sozinho, esmagado numa bola de neve. Olharam para ele com espanto e...

por um momento ficaram sem saber que fazer. Mas de todas aquelas princesas, havia uma, Snow, que tinha poderes diferentes das outras. Uma vez por mês ela podia transformar-se numa menina, chamada Clara e que descia ao mundo dos humanos e com eles se misturava.
Snow pegou no mirtilo que tinha tingido a neve com o seu suco, e recolheu-o com todo o cuidado. No seu lugar ficou apenas um pingo meio arroxeado, como se fosse uma lágrima derramada. Por isso, logo ali, baptizou-o de Drop.
Embrulhou-o em algodão, que foi o que encontrou mais parecido com neve, mas mais fofo e quentinho, pois pensou que era desse conforto que necessitava para se recuperar e levou-o para o seu quarto no palácio da montanha onde morava.
No dia seguinte, Drop estava mais animado: já não vertia suco, a pele começava a alisar e à noite estava curado.
Reconhecido, Drop contou-lhe que também ele tinha poderes mágicos e que ia contar-lhe em segredo, como iriam fazer, para dali em diante poderem espalhar o doce do fruto que curaria doenças e o amor que reuniria amantes desencontrados.
Snow tinha que fazer um doce de mirtilhos colocando-o também a ele no doce, mas quando este estivesse pronto, tinha que o retirar e guardar numa tacinha feita de gelo.
Depois, como Clara, desceria à cidade, e deixaria à porta de todos os que estivessem doentes, um pote de doce de mirtilhos.
E onde visse uma jovem chorando por ter perdido o seu amor, entregar-lhe-ia também um pote , recomendando-lhe que convidasse aquele que amava para um chá, onde lhe serviria, em finas torradas, o doce.
E assim fizeram.
Todas os meses, Snow fazia o doce, embora, mesmo com a sua visão apurada de princesa do gelo andasse à pesca de Spot, que se divertia a saltar nas bolhas do açucar. Por fim lá o apanhava, colocava-o na tacinha de gelo, enchia os potes com o doce e no dia seguinte, não ela, mas Clara, descia às cidades mais próximas, onde os deixava na soleira da porta das casas com doentes ou entregava às jovens apaixonadas.
E assim, para sempre, sem que nunca ninguém pudesse explicar donde vinha ou porque tinha aquele efeito, os doentes do corpo e da alma, foram salvos pelo doce mágico, fruto de um gesto de amor, que tinha curado o sofrido e espezinhado Drop.

12 nhận xét :

salvoconduto said...

Nunca comi mirtilo, Logo não sei ao que sabe se é que sabe a alguma coisa

Sonia Schmorantz said...

O que seria mirtilhos???
beijos

pedro oliveira said...

Compro mirtilos todas as semanas, são caros para caneco, mas apartir de agora vão ter outro sabor.Adorei este teu final de história começado pela PresidentA.
bj

De dentro pra fora said...

Olha que é um docinho que de vez enquando faz muito jeito, também quero!Não faz mal á dieta, não??

ematejoca said...

Quando li o princípio da história da Patti também tive vontade de escrever o fim, mas falta-me a fantasia.
Este teu fim, Blue Velvet, está o máximo: cheio de ternura e sem piéguices... e muitíssimo próprio para esta quadra natalícia.

PARABÈNS!

Si said...

Pois cá estão todos os ingredientes de uma boa fantasia de Natal. A magia dos seres e a cura dos males dentro de um doce fruto.
Para a semana posto o meu, que também não sei escrever pouquinho quando toca a inventar... ;D

Justine said...

Onírico! Fantasioso! Belo. Não saberia decidir qual das histórias prefiro:))

josé luís said...

miss veludo,

como ando (outra vez) muito pessoano, apetece-me parafrasear alberto caeiro e confessar-lhe que

«Eu nunca colhi mirtilos,
Mas é como se os colhesse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das estações
A seguir e a olhar»...

Patti said...

Um apetite de história, menina Velvet. Adorei os nomes também. Drop então, fica-lhe a matar.
Já tens uma historia para contar aos netos.
Parabéns pela imaginação e pelo sonho da vida.

Licas said...

Um doce de história.
Nunca comi mirtilos, porquanto já tenha plantado este ano um arbusto no meu quintal.
Depois peço que me ensines como fazer para o transformar nesta gostosa sobremesa,
E se me ensinasses também a ter esta infantilidade e candura que demonstras no desenrolar da história?

Beijinhos
licas

Licas said...

Um doce de história.
Nunca comi mirtilos, porquanto já tenha plantado este ano um arbusto no meu quintal.
Depois peço que me ensines como fazer para o transformar nesta gostosa sobremesa,
E se me ensinasses também a ter esta infantilidade e candura que demonstras no desenrolar da história?

Beijinhos
licas

Filoxera said...

Eu não tinha hipótese, com escritoras com estas...
:-)
Lindo! Parabéns!