22 October 2010

A QUINTA MALDITA



Por várias vezes e por razões que não estas que hoje aqui invoco, me tenho arrependido de não ter sido socióloga em vez de advogada.
Há imensos comportamentos do ser humano, sobretudo quando em grupo, ( já Fernão Lopes se lhe referiu) que me confundem e que gostava de entender.
Um deles é, por exemplo, porquê que antes de ser do Sporting tenho que ser anti-Benfica.
O outro, por analogia com o anterior porquê que pelo facto de não fazermos determinada coisa atacamos e marginalizamos quem a faz.
Vem esta introdução a propósito dos comentários violentos de pessoas que até são cultas e civilizadas sobre a quinta e as pessoas que nela jogam.
Não, não estou a falar da Quinta das Celebridades ou dos Segredos porque, como já sabia que eram programas que não me interessavam, nunca vi.
Estou a referir-me à famosa e muito querida ou muito mal quista Farmville.
Não percebo que mal vem ao mundo por milhões de pessoas se entreterem ludicamente, na verdadeira acepção da palavra, a plantar legumes ou alimentar animais. Não existe nada de reprovável no jogo, nem pornográfico, nem moralmente censurável, enfim, nada que seja socialmente inaceitável.
Por outro lado, é uma actividade que em pessoas bem formadas, até desenvolve os sentimentos de solidariedade e entre-ajuda, já que muitas das coisas que lá se fazem se tornam quase impossíveis de realizar sem a participação dos vizinhos.
Mas muito mais do que isso, o que me revolta e me deixa encanitada ( já sabem que quando me encanito é porque a coisa está brava) é que a maioria das pessoas que goza com quem joga ou se junta em grupinhos com o título " Eu não jogo Farmville" não faz a mais pequena ideia de quem são as pessoas que o fazem.
Dou de barato que 10% possam ser dondocas desocupadas que não têm nada para fazer embora isso continue a ser problema delas.
Os restantes 90% estão divididos entre:

- Homens e mulheres trabalhadores que à noite, para descontrair, jogam Farmville

- Reformados que para matarem a solidão dos dias, jogam Farmville, como podiam jogar às cartas num banco de jardim

- Desempregados que para não enlouquecerem a pensar como vão pagar as contas da luz ou da àgua ou mesmo a renda da casa, enganam o tempo plantando umas flores ou alimentando umas vacas

- Pessoas com doenças gravíssimas, desde depressões a cancros, ou a viverem outros dramas pessoais, que ao jogarem interagem com aquele que para elas, naquele momento, é o mundo exterior.

Só para que conste há psiquiatras que aconselham o jogo a alguns dos seus pacientes.
Nenhum de nós tem o direito de marginalizar seja quem for por fazer algo que a nós não nos interessa, menos ainda se nem conhece o jogo, muito menos ainda se desconhece ( e eu conheço alguns) os dramas que se escondem por trás dos "donos" de algumas quintas.
Metam na cabeça que há pessoas neste País cujo único momento de paz é enquanto está a jogar Farmville.
Desçam da vossa arrogância de pseudo-intelectuais e respeitem o sofrimento dos outros, mesmo que esse sofrimento, às vezes, se esconda por trás de um jogo de computador.
As máscaras e os palhaços pobres, existem!
Enjoy!




PS: Em tempo - eu jogo Farmville e até já vou no nível 80. E daí? Desci muito na vossa consideração?

24 nhận xét :

Elvira Carvalho said...

Boa amiga. Gostei.
Agora tornou-se moda "bater" nos agricultores virtuais. Comno se cada um não tivesse direito a utlizar o seu tempo livre como bem entende.
Um abraço

salvoconduto said...

Que raio de mulher! E depois sou eu que tenho mau feitio. Por mim até podias jogar à bisca lambida que a consideração seria a mesma.
Mas já agora deixa que te diga, gostava imenso de ver ALGUMA dessa gente a ser amiga e solidária na vida real.

Abreijos.

Rafeiro Perfumado said...

É um jogo como outro qualquer, não posso censurar quem o joga pois tenho vícios semelhantes, como o Verdonia, também no Facebook. Mas já critico quem condiciona a sua vida consoante os horários das colheitas, quem coloca o despertador de madrugada para ir colher não sei o quê ou quem passa horas no emprego a dar ao dedo nas plantações. Aí o caso já passa do lúdico para o vício.

Beijocas!

josé luís said...
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josé luís said...

li há tempos que as quintas e o caralivro, desde que apareceram há meia dúzia de anos, já têm mais de seis milhões de utilizadores mundiais.
não é por presunção pseudo-intelectual (quinta não cultivo mas até "feiço, logo buco") nem tenho nada contra... apenas me ocorre sempre o pensamento de que há mais de seis anos havia mais seis milhões de pessoas com uma vida própria... :)

paulofski said...

Bem vista a questão por esse prisma. Ok, eu tinha de experimentar o jogo da moda. No meu círculo de amigos, na blogovizinhança, no trabalho, o meu filho, não falavam de outra coisa. Achava-me um E.T. só porque desconhecia a célebre quinta virtual. Resisti o quanto pude mas lá acabei também por colocar as galochas, a camisa aos quadrados e chapéu de palha para em frente ao computador enriquecer os meus conhecimentos sobre “ingricultura”. Aquilo vicia de facto, cria na mente uma vontade e preocupação crescente ao ponto de numa conversa corriqueira sobre arbitragem terem de meter nabos, bois e tractores cor-de-rosa (private joke esta dos tractores). Mas rapidamente me apercebi que seria melhor voltar a ser um “sem terra”, não só porque a curiosidade e a novidade tinham desvanecido mas principalmente pelo tempo que a reforma agrária me estava a tomar. As críticas que fiz incidiram sobretudo em quem me criticava por ter abandonado a quinta. E ao meu filho, tive que impor regras de utilização porque o período de aulas não se coaduna com semear tomates. Ao fim de algum tempo ele fartou-se da agricultura e da pecuária a tempo de safar da minha “ameaça” de o fazer experimentar a lavoura a sério.

Anonymous said...

Já ouvi falar do Farmville, mas nunca fui à quinta. Pela Casa dos Segredos, passei de raspão e saí arrepiado. Não me preocupa absolutamente nada que as pessoas gostem do Farmville, de telenovelas, ou da Casa dos Segredos. Cada um ocupa o seu tempo como mais lhe agrada e não tenho nada a ver com isso. eXcepto, claro, se issointerferir an minha vida.
Bom fds

Pitanga Doce said...

Cada um faz o que quer, mas quando eu ia à Net Pública havia uma senhorinha que ficava a jogar com a filha e a conversa era muito estranha. "vou comprar mais um porquinho", "tenho que regar a horta" e a convicção era tamanha que às vezes até discutiam.

Não desceste na minha consideração e já agora me traz aqui umas beterrabas e uns pepinos que preciso fazer uma máscara de beleza. hehehe

PS: Desculpa, mas eu não seria eu se não levasse isso na brincadeira. Desculpa, Betty Boop?

Justine said...

O teu post é sobre a liberdade individual, com a qual estou de acordo, desde que não colida com a liberdade dos outros...
E nada mais posso (ou quero, neste espaço) adiantar, a não ser que os fundamentalismos são sempre desagradáveis...

Tite said...

OK Blue,

Não vou discutir contigo este assunto porque, sou pessoa de me viciar com facilidade quando gosto de alguma coisa. Como gosto demais deste convívio blogoesférico prefiro não arranjar outro que me afaste destes amigos. Por outro lado já tenho tanto trabalho a tratar do meu jardim verdadeiro que tem obrigações a que não posso fugir como sejam, rega, poda, limpeza, corte de relva e mudanças de plantas de acordo com as estações que, FARMVILLE não, obrigada!

Beijossssss sem ressentimentos nem preconceitos

Pitanga Doce said...

Pera aí que tô me levantando da cadeira, que esse sambinha tá muito bom! hehe

Henrique Dória said...

Não desceste na consideração.Mas caiste na infantilidade gratuita. E pior, no esbanjamento do tempo. Beijos

BlueVelvet said...

Elvira,
que prazer vê-la por aqui.
Seja muito bem-vinda.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Salvo,
adoro quando me dizes que tenho mau feitio. Pelo menos não bato no Berlusconi tanto como tu.
Quanto à questão da solidariedade é só teres um pouco de paciência que tenho um post na minha cabeça para fazer sobre isso. Só tenho que arrumar as ideias.
Abreijinhos

BlueVelvet said...

Rafeirinho,
que honra teres vindo snifar o meu cantinho.
Claro que concordo contigo em tudo o que dizes.
Veludinhos

BlueVelvet said...

José Luis,
com que então feiças logo bucas:)
Boa!
Beijinhos

BlueVelvet said...

Paulofski,
fiquei muito baralhada.
Pensei que eras meu vizinho. Se não és alguém uruspou a tua identidade...
Beijokas

BlueVelvet said...

Carlos,
é um prazer vê-lo de volta.
Calculei que fosse essa a sua posição.

BlueVelvet said...

Pitanguinha,
não tens nada que pedir desculpa.
Já sabes que aqui estás como em tua casa.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Justine,
fico contente que tenhas percebido qual era o cerne da questão.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Tite,
que sorte a tua teres uma quinta verdadeira.
Beijinhos sem preconceitos

BlueVelvet said...

Pitanga, pois mudei a música porque Madame reclamou que a outra era muito tristinha.
Calculei que esta fosse de seu gosto.
Beijinhos

BlueVelvet said...

Henrique,
é sempre estimulante ver que há quem não concorde comigo.

ANTONIO SARAMAGO said...

Eu também jogava,mas fartei-me,uma coisa é certa, que até é bastante construtivo é uma realidade,a mim fartou-me um bocado,mas andei complectamente apaixonado.
Forças com as vossas quintas,pode ser que eu volte.