28 May 2008

NÃO SOU POETA


Se eu fosse poeta saberia escrever dos meus dias, não falando simplesmente de tristeza ou alegria.
Saberia ornamentar de belas imagens as horas de amor.
Não usaria palavras do dia a dia para dizer dos meus estados de alma.
Saudade não seria só saudade.
Distância não seria assim simplesmente distância.
Nada seria tal qual é dito.
Talvez quem lesse não percebesse bem o que eu queria dizer. Mas eu sabia.
E dizia-o de forma bela.
Mas não sou poeta.
Dizem que sou autêntica. O que quer que seja que isso significa. Ser autêntico, para mim, é ser igual a si próprio. Se ser autêntico é defender aqui o que defendo na vida real, então concedo, sou autêntica. Mas a escrita tem que ser mais do que isso. É certo que parte da realidade, dos pormenores que nos prendem o olhar, de um acontecimento ou até de um sorriso. E sobre isso as palavras aparecem, de forma mais ou menos fluida.
Mas, de certeza absoluta, não sou poeta. Não enfeito, não sou sequer fingidora… Condição essencial, essa de ser fingidor.
Se Fernando Pessoa não o tivesse escrito, provavelmente ninguém se lembraria disso.
Mas escreveu.
Ele era poeta.
E sabia.
Imagem de Marta Montañá

16 nhận xét :

Ricardo Silva Reis said...

Começo por gostar do nome do blog!
Não és Poeta? Não! Claro que não!
E o sol também não brilha, e o mar também não é azul, e o vento também não sopra e eu não estou a escrever!
Gostei muito do que li (e do que vi - as imagens são fantásticas...)

Patti said...

Hoje foste poeta.
Ah pois foste!
Muito bonito de ler, Blue.
Leve.

mjf said...

Olá!
Tu não és poeta como Pessoa, mas escreves de forma directa e sincera...assim gosto de te ler ;=)

Beijocas

Fiona said...

Agora fiquei em dúvida...foi vc que escreveu ou Pessoa? Lindo texto.

beijoooo

f@ said...

Olá... Hummmm Acho que és um pouco poeta por causa das cores que tens no olhar...
Há, e...tinha um amigo apanhadinho por loiras, que dizia que todas as loiras eram poetas e grandes artistas... toma lá...
beijinho das nuvens

Filoxera said...

Eu devo ser poeta: chego a fingir que não é dor a dor que deveras sinto...
Um beijo.

Pitanga Doce said...

Está bem, mulher! Não és poeta! A gente já entendeu. hehehehehehehe

beijos na hora do almoço (teu)

Coragem said...

Nem sempre o poeta é fingidor
Nem todo o fingidor é poeta.

Florir as palavras, muitas vezes é uma forma de aliviar a dor que carregam.

Fluiem as letras com dor,
com tormento,
dando cor ao sofrimento,
dá leveza ao olhar de quem as lê.
Não fingimento...

Beijo

Maria said...

... estás á chamar fingidor a quem? LOL
O poeta é um fingidor na medida em que pensa ou idealiza situações e as passa a escrito. Os escritores serão, então, fingidores, porque escrevem ficção. Inventam, como os poetas.
Mas que nome é que eu dou a uma pessoa que escreve como tu, que relata estórias como tu? Prosa poética, tantas vezes já lida aqui... em que ficamos?

Beijinhos azuis
(e agora o teu blog não me aparece em RSS.
vá lá saber-se porquê...)

Sol da meia noite said...

Muito bom!!!
:-)

Beijinho*

Maísa said...

Eu também não sou poeta e confesso não ter essa pretensão.
Autêntica, sou-o e de nada me arrependo.
Dia feliz.

kakauzinha said...

Não é preciso ser-se poeta para transmitir beleza, conceitos, seja o que for.

É importante é que se seja como dizes que és, e és mesmo, autêntica! A verdade e a autenticidade também imprimem poesia às palavras porque são o espelho da alma e do pensamento.

Gostei, como sempre.

(Quanto à pergunta lá no meu estaminé: sim, íssima, érrima, ainda e sabe-se lá até quando)

Kissu bery blue(*):)

Maresi@ said...

Lindo este teu texto...
e dizes que não és poeta???

Imagens deliciosas...

Deixo convite.............

Beijo suave___maresia

Lisa's mau feitio said...

Olha Blue, cada um é poeta das suas palavras. Cada um é fingidor dos seus sentimentos dentro da veracidade da alma que possui. Pequena ou grande. Que importa?
Nem sempre escrevemos aquilo que queremos dizer. Nem sempre dizemos aquilo que queremos nas palavras que escrevemos. E tantas vezes que o fazemos também. Depende dos momentos fingidores da realidade que nos bate na porta, em cada dia que passa.

Cada um tem as suas verdades. Escritores de prosa ou de versos.

E a interpretação... essa será sempre a maior incógnita. Será verdade aquilo que leio?
Será mentira aquilo que não leio?
Ou será, simplesmente, mentira aquilo que leio?

É a verdade da mentira que cada ser humano atribui às suas palavras. E às dos outros.

E vice-versa.

Lisa

Maria said...

opá, atão o post de hoje?
:)))))

beijos azuis

Sunshine said...

O que chamas a quem escreve o que escreveste com forma e conteúdo tão belos?
"Se eu fosse poeta saberia escrever dos meus dias, não falando simplesmente de tristeza ou alegria. Saberia ornamentar de belas imagens as horas de amor. Não usaria palavras do dia a dia para dizer dos meus estados de alma. Saudade não seria só saudade. Distância não seria assim simplesmente distância. Nada seria tal qual é dito."
Se não quiseres o rótulo tens todo o direito, mas, para mim, quem escreve com esta sensibilidade é poeta.
Beijinhos com raios de Sol