O dia de ontem, em que se recordaram dois acontecimentos terríveis para a história da humanidade, trouxe-me à memória uma efeméride da minha vida, que não tendo qualquer significado prático, não deixa de me encher de orgulho de mim própria e me faz voltar a sentir o frisson que senti naquele dia.
Passou-se há 1o anos.
Estávamos, eu, o meu marido e os meus filhos, hospedados no Intercontinental do Rio de Janeiro, de férias.
A segurança naquele hotel é apertadíssima, não só por ser o hotel que é, mas porque fica localizado junto de uma das maiores e mais perigosas ( embora eu a tenha visitado, mas isso fica para outro dia) favelas do Rio: a Rocinha.
Além dos seguranças fardados que se passeiam por todo o hotel, há também muitos à paisana, e o acesso aos elevadores é feito num hall, onde para entrar há que passar por 2 seguranças, daqueles tipo armário.
Normalmente era preciso mostrar o cartão ( chave ) do quarto para passar, mas como já nos conheciam poupávam-nos a esse trabalho, sobretudo quando eu ia sózinha com as crianças.
Costumávamos ficar sempre no último andar para desfrutar a vista soberba e para ver as dezenas de parapentes e asas delta que vinham quase ter à nossa janela, dada a proximidade da Pedra Bonita, sítio de onde eles se lançam.
Nesse ano foi-nos dito que teríamos que ficar no andar abaixo, dado que na data em que que lá íamos ficar o último andar já estava todo reservado.
Uma manhã, seguindo a rotina habitual, levantámo-nos às 6 como sempre e vestimo-nos para ir tomar o pantagruélico pequeno-almoço na sala ao ar livre junto da piscina. Era uma festa que nenhum de nós perdia por nada.
Dirigimo-nos ao elevador e esperámos que o mesmo chegasse. Os meus filhos tinham o fato de banho e uma t-shirt vestida e eu um conjunto de praia sobre o biquini. O meu marido tinha ficado de descer daí a uns 10 minutos.
Quando o elevador chegou, a porta abriu-se e vi 3 homens vestidos de fato completo, o que ali não era muito normal. Mas não me detive nesse pormenor.
Dei um passo em frente com as crianças e ao mesmo tempo dois dos homens puseram-se à frente do 3º homem e disseram:
- The lift is full.
Ora, o lift tinha uma lotação de 10 ou mais pessoas, já nem sei. Mas 3 não era, como é óbvio.
Com um pé dentro e outro fora do elevador e os meus filhos atrás de mim, olhei para cima para a cara dos homens porque eles faziam 2 de mim, e de repente reconheci o 3º homem.
As minhas pernas começaram a tremer, mas agarrei nos miúdos pela mão, olhei-o nos olhos e disse-lhe:
- The lift is not full and we are going down.
Ele murmurou não sei o quê aos 2 homens e eles afastaram-se para entrarmos.
As portas fecharam-se e o elevador começou a descida dos 13 andares que nos separavam do lobby.
O tal homem olhou-nos e disse com ar gentil:
- Spending holidays?
- Yes.
- Wonderful town...
Não sei o que me deu, mas olhei-o bem nos olhos e respondi-lhe:
- It usually is. But not with you around.
E apertando a mão dos miúdos, continuei:
- Take a good look at this men. He is a murder and probably this is the closest you will be to such a monster.
Não se ouviu mais um som até as portas se abrirem.
Saímos e atrás de nós saiu o General Pinochet com os seus seguranças.
Só parei na recepção onde me encostei ao balcão a chorar de nervoso. Foi ali que o meu marido me encontrou, com os miúdos aflitos sem terem percebido nada. Quando lhe contei o que acontecera, ele disse-me:
- Você é doida varrida.
Se calhar sou e tenho consciência que aquilo não serviu para nada, mas ainda hoje quando me lembro fico toda inchada.
Mais ainda quando os meus filhos contam aos amigos que a mãe chamou monstro e assassino ao General Pinochet, num elevador de um hotel, a caminho do pequeno-almoço.
32 nhận xét :
Ahhhh Grande Blue :)) E serviu sim...no belo exemplo de coragem que mostrou aos seus filhos...Só tem mesmo motivos para ficar inchadaaaaa
Um fim de semana suave e azul :)**
Parabéns pela coragem...
Grande MULHER!!!
Beijos
BlueVelvet,
As tuas histórias são sempre fantásticas, mas nesta até eu senti um nervososinho. Mas que mulher corajosa és!
Sorrisos e bom fim de semana :)
velve,
quando descobri o seu blog soube logo que era uma mulher de causas e boas, por isso apetece-me dizer-lhe;
- VAI ONDE TE LEVA O CORAÇÃO-
os meus respeitos
Doida varrida? Mulher cheia de sentimentos, de que partilho alguns.
Abençoados filhos.
Olá!
Comecei hoje a lide bloguista propriamente dita, a fazer visitas,a outras casas como manda a etiqueta.
Ao ler esse episódio,estarreci, não sei qual seria a minha reacção,
de facto um homem importante, mas que nunca deixará de ser um assassino.
Será que desmaiava, pelo homem importante?
ou pelo assassino?
Provavelmente pelas duas coisas, mas que não deixa de ser extraordinário, isso não....
Beijos lá da minha cidade
Isabel
Tem toda a razão para ficar inchada! Pena não ter mandado uma cuspidela na cara daquele verme infame que alguma blogosfera hoje promove a herói.
Bem, mas o autor desse blog é o novel comentador de "O Eixo do Mal", portanto está tudo bem!
Aqui está uma mulher com tomates, desculpa a expressão. Parabéns pela tua coragem.
Um xi.
Credo!! Abrenúncio!!
Se a Velvet é assim em férias, imaginam o que teria sido se o desgraçado do Pinochet a tivesse apanhado pela frente como advogada de acusação?????
Não queria estar na pele dele, ai não, não...safa!!
P.S - Lanço 1 apelo aos comentadores habituais deste blog - quando tiverem alguma crítica a fazer à Velvet, façam-no como quando 2 porcos-espinhos se encontram para procriar: C-o-m m-u-i-t-o j-e-i-t-i-n-h-o !!!! rsrsrsr
Ah gandabluevelvet, que essa tirada de velvet não tem nada! Antes de lixa bem áspera!
E um beijo assim de orgulho e de solidariedade
And the crowd goes wild!
Talk about having steel balls!
Way to go Blue!
I'm amazed with your courage and I know, deep in my heart, you did it to show your children that as big as the monster may be, we should never show him that we're scared!
I applaude you! A standing ovation!
Kisses
Magnífica Bluevelvet! O mais certo era eu, no teu lugar, não ter entrado no elevador para não me misturar com tal pessoa, não por medo ou por outro qualqier sentimento, e por isso mesmo admiro imenso a tua atitude. Em grande! Lê o comentário que fiz ao post no Rochedo do Carlos sobre o mesmo assunto, para compreenderes bem o que sinto pelo Pinochet.
Essa é mesmo de emoldurar...! Há momentos que fazem merecer muitos outros sem história e este é um deles. Boa!
Bjs
Tiro-te o chapéu amiga! Não sei se foi coragem ou loucura mas compreendo que te sintas bem ao recordar...beijos...
'Ca nojo de homem, Velvet. Quer dizer e enquanto as criançinhas normais sonham com o Papão as tuas sonharam com o Pinochet!
AH!!!!
Então, foste tu que criou no homem a fúria que o fez fazer tudo aquilo que sabemos!!!
Até aí, aposto que ele era um santo...
,o)
Passei para te desejar um excelente fim-de-semana!
Beijinhos de Amor, Paz e Luz!
Eppaaaa!!! Grande coragem!!!
Poxaaaaaaa!!1 lol
Mas gostei!!!
Parapeito,
as crianças só bem mais tarde se aperceberam do que tinha acontecido.
E aí, quem ficou inchado foram eles.
Veludinhos azuis
Titofarpas,
foi um repente:))
Uma pequena Farpa!
Veludinhos azuis
Fátima André,
obrigada pela visita e pelo nervosinho:))
Beijinhos
Sagitário,
obrigada.
Normalmente vou pelo coração, embora já me tenha dado mal.
Mas são feitios...
Beijinhos
Salvoconduto,
obrigada.
Veludinhos azuis
BC,
obrigada pela visita e pelas palavras gentis.
Volta sempre.
beijinhos
Carlos,
uma cuspidela...para tanto não me chegou a loucura.
Já agora está a falar de quem do Eixo do Mal?
Beijinhos e veludinhos
Filoxera,
tomatinhos, amiga, tomatinhos:))
Beijinhos
Cecília,
onde tem andado?
Olhe que marco-lhe falta e armo-me em ouriço...
Beijinhos
Justine,
obrigada pelo beijo solidário
Beijinhos e veludinhos azuis
Renard,
I'm deeply mooved with your ovation.
Hugs
1/4 de Fadas,
já tinha lido o comentário que deixáste lá no vizinho.
Beijinhos e veludinhos azuis
Paula Crespo,
obrigada pela visita.
Pois, não emoldurei porque não quis conspurcar a casa:))
Beijinhos
Foste GRANDE!
Imagino as tuas pernas a tremer, os miúdos a pensar que estavas a "passar-te" e o dito Monstro a engolir em seco!
Love you :-)
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