18 November 2008

AMIZADES VAZIAS


- Olá! Tudo bem?
- Sim. E você?
- Também. Que tem feito?
- Nada de especial... o costume...(e meia hora depois de nada dizer, desligamos o telefone).
Fica sempre um gostinho estranho na boca. Vontade de falar a verdade. De dizer: sei lá. Acho que estou bem, mas confesso que não tenho lá muita certeza. Aprofundar algumas coisas, de perguntar outras tantas... Mas, se calhar, não estamos preparados para isto - intimidade.
Pôr-nos do avesso e ver o que por ali anda.

Limito-me ao como vai, porque se avanço, entro em águas demasiado profundas e há sempre o medo de não ter volta. Assim, calo-me, dizendo muito sem nada dizer realmente. Sem dizer nada de profunda e intensamente meu.
A intimidade assusta porque implica divisão e revelação. Pois não se enganem: a intimidade é uma estrada de dois sentidos que exige, para existir, um retorno. E este retorno implica mostrar, às vezes, que não há nada hoje para nos mostrarem. Só um grande e incómodo vazio.
É por isso, que há muito, deixei de escrever cartas.
Talvez amanhã.

24 nhận xét :

Vera said...

Tens razão Velvet. Quantas vezes apetece dizer tudo o que vai cá dentro, sem reticências, mas depois vem aquela coisa, aquele receio, então é melhor fingir que sim,está tudo na maior...ainda hoje pensei nisso ;-)
Bjs

Menina do Rio said...

Eu gosto da intimidade das conversas. Acho bem mais interessante que jogar papo fora, quando se tem vontade de falar algo mais profundo. Isso aproxima as pessoas, se bem que tem pessoas que se aproveitam disso e desfiam verdadeiros rosários de mágoas. Se isso as faz sentir melhor, eu ouço.

Um beijinho pra ti

Maria said...

Não há amizades vazias. Ou há amizades ou há conhecimentos.
Mas sei do que falas. E por isso mesmo me calo.
Posso não escrever cartas, mas falo muito ao telefone, às vezes...

Beijos azuis

ANTONIO SARAMAGO said...

MUITAS VEZES O CALADO VENCE TUDO:
Há um velhinho ditado que diz,há sempre uma altura para tudo e quando esse momento chega, então aí, diz-se tudo o que se tem a dizer.

Patti said...

Penso que acontece um pouco com todos nós. Há 'amizades' onde a intimidade não existe e o pouco à vontade não nos deixa ir mais além.

De resto só talvez com duas ou três amigas eu avanço nos assuntos e sinto necessidade de o fazer e nem sequer é sempre.

APC said...

"Não deixes para amanhã....", um velho ditado popular cada vez a fazer mais sentido, Blue. Esta é, definitivamente, a sociedade da solidão.
Beijos ternurentos

Melga do Porto said...

Um dia alguém me mostrou a amizade.
Pensei, nessa altura, ter ganho o céu.
Mas como se diz:
“Quanto maior a altura, maior o tombo”.
Amizade é intimidade e cumplicidade.
Um caminho de dois sentidos, dizes bem!
Hoje sinto-a uma via de sentido único.
Dói imenso!
Mas ao contrário de ti, não mais deixei de escrever.
Nem posso, pois é luz que quero manter acesa.
:-)
PS: Uma vez disse neste “recanto” que tinha gostado.
Mais tarde, voltando senti-o “diferente”.
Hoje reencontrei a Blue Velvet que gosto ;-)

Anonymous said...

hoje já é a segunda vez que subscrevo os comentários da Maria. É mesmo assim. Nu e cru. Não há amizades sem partilha. Não confundir aquele sentimento oco e vazio com amizade.

Filoxera said...

Escrevi há umas semanas um post com o esmo teor.
Mas, de vez em quando, escrevo; há pessoas a quem faço questão de enviar um cartão de aniversário, um postal de Natal...
Beijos.

Si said...

Não concordo com a Maria e o Carlos.
Há amizades e amizades.
Podem ser é mais ou menos profundas, mas há, definitivamente amizades que não são meros conhecimentos.
E a Velvet, a meu ver, fala aqui de duas vertentes distintas:
1 - a dúvida que se põe em expôr mais ou menos o nosso íntimo a outrém
2 - a amizade que, por vários factores, acabou por se tornar mais distante e que, por isso mesmo, necessitaria de demasiados pormenores para poder exercer a tal influência benéfica dos desabafos, 'dando' tanto quanto 'recebeu'.
E é isto que é complicado de gerir e que, tantas vezes, nos deixa sentir solidão no meio de tanta gente. Quando precisamos de alguém a quem nada dizemos e tudo compreende, sem dúbias interpretações, tão claramente como numa carta: pessoal e intransmissível.

sagitario said...

olá velvet,
gostei do tema, mas comigo as coisas não funcionam assim, quando estou com amigos, mesmo que eles me digam que está tudo bem, não me convencem, basta-me o tom de voz ou a expressão do rosto para me aperceber que não é verdade,
E a resposta é sempre a mesma "não consigo enganar-te".
Por isso se estivermos atentas conseguimos saber quando as pessoas estão realmente bem.
´
e uma questão de sensabilidade

Pitanga Doce said...

Às vezes temos necessidade de falar.Outras, um simples boa noite já vem em boa hora. E não há muita explicação para isto. Nós somos assim. Cada um tem seus momentos de carências. Não te perguntes tanto, Blue, e escreve quando te apetecer e responde quando te apetecer.

beijos doces

pedro oliveira said...

As amizades pressupõem cumplicidades, vivências, partilhas,sentimentos, o adivinhar o que o outro espera de nós nesta e naquela situação, por isso é que normalmente temos poucos amigos, pois não estamos disponiveis para abrir "ojogo" com o (a) primeiro(a) que nos aparece à frente.Primeiro tem de passar nos "testes".
Não confundir amigos com conhecidos, que bebebos uns copos e dizemos umas anedotas.
PO
Vilaforte

Tretoso Mor said...

Veludinho,

Os Amigos, aqueles de verdade, do fundo do peito, nem é preciso dizer nada, eles sentem-nos.

Quando preciso ouvir, sei onde tenho o caminho com duas vias.

Sim, as amizades podem ser mais cheias, e quando as sinto vazias, limito-me a ser apenas um ponto de destino.

Tretices azulinhas para ti.

http://tretas-da-vida.blogs.sapo.pt/

Sandra Daniela said...

Endendo-te, mas... quem sabe do outro lado estão mesmo á espera de uma palavrinha, para "desatarem o nó na garganta", e desabafar um pouco...

beijinho grande

Rafeiro Perfumado said...

Eu gosto de ver a cara das pessoas quando lhes pergunto "então, tudo bem?" e antes que elas respondam acrescento "não que eu me importe, mas fica sempre bem perguntar estas coisas". A cara de dúvida que alguns fazem alegra-me o resto da semana...

Beijo!

Alexandre said...

A chamada conversa da treta, gostava um dia de ter coragem e responder - ou não responder - à letra a estas pessoas que... no fundo não têm a culpa mas ocupam tão pouco do nosso universo - mas, pronto, vá lá que ainda vamos dizendo alguma coisa, senão tb era uma pasmaceira...

Um beijinho grande, Blue!!!

FM said...

Inquestionavelmente e Felizmente. (a frase, claro)
Beijos.

LopesCaBlog said...

Gostei de ler.
É verdade "a intimidade é uma estrada de dois sentidos que exige, para existir, um retorno." e por vezes não estamos preparados para ir nesse sentido.

Unknown said...

Às vezes os telefonemas são mesmo só para dizer "Não me esqueço que existes". E isso nem sempre permite dizer mais do que "está tudo bem". Pena...
Beijinho

Paula Crespo said...

Já pensei nisso muitas vezes: ninguém espera, ao perguntar "então, tudo bem?" que lhe respondam "não, tudo mal!...". Talvez por causa de um desconfortável "Porque..." que, necessariamente, viria a seguir...
Bjs

1/4 de Fada said...

Numa época em que havia poucos brasileiros em Portugal - 1973 - uma professora brasileira explicou-me a mim e às minhas colegas o significado da pergunta "está tudo bem?" com um exemplo passado com ela: no dia da morte do pai dela, ao encontrar um amigo que lhe tinha feito a referida pergunta, tinha respondido "sim, tudo bem!". Está tudo dito, não é verdade? É por estas e por outras que eu tenho imenso conhecidos e muito poucos amigos. Com um amigo eu espero poder contar nos maus momentos da minha vida. Quando eles se regozijam com a minha felicidade, na verdadeira acepção da palavra, passaram a prova real da amizade. Será que eu deverei esconder de um AMIGO o facto de ganhar o euromilhões?

Sorrisos em Alta said...

Intimidade????
mas tu... tu.... tu não falas ao telefone vestida??????

;o)

Oliver Pickwick said...

A intimidade é uma prática entre iguais, ou, pessoas diametralmente opostas. Neste contexto, não há nenhum atrativo no mais ou menos.
Um beijo!