16 October 2009

(10) NOVA IORQUE...MEU AMOR


Há uns tempos atrás, a nossa PresidentA caluniou-me na vizinhança, levantando-me "um falso" como diria o alter ego dela, afirmando que as minhas malas de griffe eram compradas em Chinatown.
Tenho andado muito ocupada a tratar dos crimes dos outros Presidentes que com as recentes eleições vieram todos ao de cima e ainda não tinha tido tempo de lhe responder.
Mas, embora não vivamos num Estado de Direito, aqui no meu blog os crimes não prescrevem porque eu estou atenta aos prazos.
Daí que passe a lavar a minha honra para aprenderem que não me podem enxovalhar em praça pública, assim sem mais nem menos.
Pois fique a senhora sabendo que quer as minha Chanel como as Dior são compradas na Av. Montaigne em Paris, onde sou atendida por umas empregadas chiquérrimas que até me tratam pelo nome.
Já as Prada, as Dolce and Gabbana e as Louis Vuitton compro em Nova Iorque, ou nas boutiques próprias ou no Saks.
Porque em Chinatown tirando o mercado do peixe, que é o mais fresco da cidade, tudo o resto é falso, falsíssimo, mal amanhado ( não o peixe ).
Basta olhar para os pespontos das LV, para os monogramas da Chanel ou para o forro das D&G para ver que aquilo é do mais foleirito que há. Assim tipo Feira de Carcavelos, para pior.
MAS....
Mas, como em tudo na vida é preciso saber. E eu só aprendi há uns anos quando me tornei uma New York Baby Girl.
É sabido que todas as marcas de alta costura fabricam os seus produtos na China onde a mão-de-obra é mais barata, e por exemplo, as peles, na Turquia. Daí que exista uma máfia instalada que desvia milhares de produtos verdadeiros para dois mercados preferenciais: Bangkok e Nova Iorque.
Na altura do embarque das mercadorias há as que vão directas para as boutiques e as que vão para o mercado paralelo.
De tão institucionalizado que está já se tornou quase legal. Ao ponto de as próprias marcas receberem lucros sobre estes produtos "desviados". No fundo é um pouco " se não os podes vencer, junta-te a eles".
Só que para se tornar cliente desse mercado paralelo tem que se passar por várias aventuras, que matam qualquer pessoa que padeça de algum mal de coração.
A saber:
Os turistas que não percebem nada do assunto enfiam por Canal Street, vêem as malinhas todas penduradas, ficam deslumbrados com os preços e toca de comprar tudo à má fila pensando que estão a fazer uma grande pechincha, sem duvidar que o que estão a comprar é totalmente falso.
Quando as asas se começam a desfazer, os fechos éclair a encravar, para já não falar da pele, que é plástico, do bom, mas plástico, aí é que percebem.
São as pequeninas lojas das ruas transversais que têm a crème de la crème. Mas à vista, mesmo nestas, tudo o que está pendurado é falso.
Tem que se saber as moradas das que têm os tesouros guardados, ( moradas essas que nos são dadas por clientes habituais) e uma senha que varia todas as semanas.
Depois, entra-se na loja, que normalmente tem a largura de um corredor e quase tem que se entrar de lado, dirigir-se à chinesa mais velha e além de dizer a tal senha, convém levar um recorte da ou das coisas que se quer ( malas, acessórios, sapatos), baixinho murmurar a senha e passar-lhe os recortes das revistas para a mão.
A partir daí a aventura começa. Mas desenganem-se se pensam que pagam barato. Pagam muito mais barato, mas ainda assim, bem caro.
Quando há anos saiu o célebre modelo Cambon da Chanel que nas lojas era vendido, dependendo do tamanho, entre 1000 a 15000 euros, em Chinatown, as verdadeiras eram vendidas a 300/400 euros. E isto serve para óculos, cintos e até sapatos.
A 1ª vez que me meti numa aventura dessas levava tudo direitinho, entrei pela loja dentro com ar entendido, passei os recortes para a mão da chinesa com o ar mais discreto do mundo, ela murmurou qualquer coisa em chinês que obviamente não percebi, e de repente a parede do fundo da loja entreabriu-se, ela puxou-me e eu dei por mim num cubículo sem qualquer espécie de luz e onde não se ouvia um único som.
O meu coração disparou e comecei logo a pensar que orgãos é que tinha em bom estado para me tirarem. Para mal dos meus pecados cheguei à conclusão que tirando os pulmões que deviam estar um bocado pretos à conta dos cigarros, tudo o resto estava em muito bom estado: desde os rins ao coração passando, quiçá pelos olhos.
Enquanto tudo isto me passava pela cabeça e maldizia a minha mania das griffes, a chinesa puxou-me e percebi pelo barulho que começava a descer umas escadas enquanto dizia: Follow, follow.
E eu, sem ver um palmo à frente do nariz, lá followei, porque assim como assim também não me servia de nada voltar para trás porque não sabia sair dali.
E fomos descendo aquilo que me pareceram ser umas escadas intermináveis que terminavam num túnel que não acabava mais. Tive a nítida sensação que estava a percorrer túneis por baixo de Chinatown. E estava mesmo.
Por fim ela parou tão de repente que choquei com ela e acendeu uma luz. E depois outra e mais outra.
Eu não queria acreditar no que via: à minha frente abria-se um espaço imenso, tipo loja, todo decorado como as próprias boutiques e separado por marcas.
Nas prateleiras, devidamente arrumadas e iluminadas estava lá tudo. Era só escolher. Havia balcões, sofás e espelhos.
Senti que tinha entrado na gruta do Ali Bábá.
Com a sua proverbial e conhecida calma, a chinesa sentou-se num dos sofás enquanto eu me passeava perdida no meio da profusão de artigos à venda.
Depois de provar, trocar, experimentar lá comprei o que queria. Desde uma pulseira do Marc Jacobs a umas sandálias LV, uns óculos Chanel e várias malas.
Tudo foi metido nos conhecidos sacos pretos do lixo usados em Nova Iorque depois de pago em dinheiro vivo. (sempre)
Depois disso a chinesa entregou-me um cartão com uns dizeres em chinês e disse-me: you, keep it. Era o meu passe para novas visitas.
Fizémos o caminho de volta, de novo às escuras, até ao cubículo onde se abria por artes mágicas a porta para a loja.
Aí, ela sacou de um aparelho estranhíssimo, meio telemóvel meio walkietalkie e desatou a falar em chinês a uma velocidade incrível enquanto uma voz masculina lhe respondia. Tanto quanto percebi devia estar à espera que o comparsa que estava na rua lhe dissesse que não havia polícia à vista e lhe dar luz verde para abrir a porta.
Mal a porta se abriu ela empurrrou-me e disse: go, go, go.
E eu fui. Fui e só parei para me meter num táxi que me levou de volta a casa. Normalmente, em Nova Iorque, até às 10 da noite ando sempre de metro, mas estava demasiado nervosa para aguentar os 45 minutos que o metro leva desde Chinatown ao Upper East Side.
Mal cheguei a casa despejei tudo em cima da cama e desde aos números de série às garantias estava lá tudo.
Liguei para a minha amiga que me tinha dado as coordenadas e perguntei-lhe porquê que não me tinha avisado.
- Porque senão não tinha graça.
O facto é que nunca mais fui às compras sem ser acompanhada por alguém que ficava cá fora. Just in case!
Tive muitas outras aventuras deste estilo sendo que a mais extraordinária foi enfiar-me por uma daquelas tampas que estáo nas ruas e de onde sai o fumo que se vê no Inverno.
Só para verem como não há dúvidas quanto ao facto destes artigos serem, de facto, verdadeiros, numa viagem de retorno a Lisboa, um dos trolleys da LV chegou danificado. A própria Tap o mandou à LV de Lisboa para reparar ( no caso foi substituído). Como calculam, se fosse falso tal não seria possível.
Feita a minha defesa e naturalmente absolvida, condeno a PresidentA a, quando for a Nova Iorque ir fazer umas comprinhas destas e aguentar!

Nota: Só mais um aviso. Nunca, mas mesmo nunca saiam de uma loja destas sem comprar nada.

6 nhận xét :

salvoconduto said...

Lá tive que descalçar o sapato só para te dar conta que os meus sapatos não se vendem por aí, são Limac ou o raio que os parta, mas são conforto e a pele, bem, a pele...

De dentro pra fora said...

Uaauuu!! mas que viagem...
só de pensar no friozinho na barriga que deves ter sentido...
Bom fim de semana

Gata2000 said...

Uns amigos meus tiveram uma experiência semelhante, mas dentro de uma carrinha, e ainda assim tudo falso. Mas pensaram o mesmo que tu, que se tivessem a sorte de sair dali inteirinhos tinha sido uma aventura "supimpa". Trouxeram umas malitas catitas.

Quando um dia eu conseguir ir a NY, promete que me vais dar indicações precisas do que fazer, de onde ir, o que comprar, e tudo e tudo.

NY está-me no coração e nunca lá estive, nem quero imaginar o vício que me vai ficar depois de lá ir. Quando leio estas tuas histórias, que sorvo de um só gole, invejo-te, mas uma inveja boa - não por o fazeres, apenas por já o teres feito.

pedro oliveira said...

Gandre lição de compras em NY city.
Uma das minhas cidade ainda não visitas, um dia,um dia...
bjs
bom fds

Anonymous said...

Nunca tive experiência semelhante, mas uma amiga de Macau, compradora compulsiva,conhece algumas lojas desse género na China.(nomeadamente em Cantão e Xangai) e a história que conta da primeira experiência que teve no género é muito semelhante à sua. Talvez apenas com a agravante de ser na China e nessa altura ela ainda não falar uma palavra de chinês. O medo dela, na altura, não foi o transplante, mas sim cair numa rede de prostituição.

Patti said...

Pois fique a menina sabendo, sua pindérica, trambiqueira, mal-agradecida, que a Birkin que lhe ofereci era verdadeirinha da Silva, com dois diamantes dentro e tudo!

Nos cambalachos que a menina se mete, correr o risco de ser carne para restaurante, raptada para sei lá onde... tsss, tsss, tsss tudo por umas fanadas de umas carteiras de marca!



















p.s como era mesmo a tal da senha?