- Pudera, não faz nada e toda a gente o apaparica. Assim também nós, responde em coro toda a gente.
- Deixem-se lá de conversas, e dêem-me os presentes, diz o meu pai com um ar digníssimo, batendo com a bengala no chão. ( Como não percebeu que aquela coisa dos euros está um bocado em falta por estes lados, tivemos que nos virar para arranjar presentes)
TRIM....TRIM...TRIM...desato a correr, tropeço no Sebastião e agarro nos auscultadores do meu lap top. É o meu filho de Nova Iorque, que quer falar com o avô. Chamo-o, ele lá vem com a sua bengala com o punho de prata no ar ( nunca percebi para quê que ele quer a bengala, porque não se apoia nela, anda com ela no ar!) e eu digo-lhe:
- Vá fale.
- Falo com quem?
- Com o Gonças.
- Não falo nada. Pareço parvo a falar pró ar, sózinho.
Entretanto o Sebastião ladra feito doido, assim que ouve a voz do meu filho. Não sei se é do champagne ou porque também não percebe onde está o Gonças. Nisto, no canto direito do écran, aparece um sinal a dizer que entrou um mail de uns amigos meus a quem chamo " Gatos". Dou um salto, tropeço no fio do microfone que estava enrolado no copo das canetas e lápis, e Zás: trinta canetas e lápis no chão. A Carlota( namorada do Martini man) chora a rir. O Martiniman, ( meu filho mais novo) com aquele ar da fotografia pergunta:
- O q foi? Que excitação é essa? Quem é que ligou? Foi algum admirador da mãe?
Levou logo com os lápis e canetas que eu já tinha apanhado, na cabeça.
-Não parvo, são os gatos.
- Gatos? Que gatos? Vocês agora também têm gatos, perguntam os presentes em coro. A Carlota continua a rir que nem uma perdida. Aqui, desisti. Sentei-me no chão, mandei toda a gente para o salão e resolvi vir escrever este post.
Escrever sôbre a fragilidade do amor, da vida, deste circo. Sinto tanto isso quando olho para o meu pai, tão frágil, tão dependente de mim, quando foi ele que sempre tive como ideia de segurança. Foi sempre ele o meu porto seguro.
Às vezes penso:- Será que já lhe disse bastantes vezes que o amo?É que por acaso chateia-me um bocado que no nosso meio social, as pessoas bem educadas não possam manifestar as suas emoções em público. A minha avó dizia sempre" Uma senhora nunca chora em público.” O caraças q não chora. E a história do beijinho. Só se pode dar um, senão somos saloios. Pior só mesmo um homem usar meias brancas...
A Carlota diz que a 1ª vez que veio cá a casa, estava morta de medo de mim, Vinha no elevador e perguntou, de repente, ao Guigas:
- À sua mãe dá-se 1 beijinho ou 2? Tá parva? 1 claro.
Diz ela: Ó tia, até me tremiam as pernas. Afinal a tia é uma gaja porreira que apetece cobrir de beijos. He...He...He...
Foi aí que me lembrei do Mec.
Escreveu ele, numa noite de muitos copos, como eram dantes, quase sempre as noites dele:
É minha convicção profunda, que temos o enorme dever, para com as pessoas amadas, de tratá-las como se tivessem morrido na véspera e voltado, por milagre, durante só mais um dia. “Obrigada! Obrigada! Obrigada! e ó pá, por amor de Quem te fez, vê lá essa merda, e não me abandones já”. Em suma: tem filhos pequeninos? Pais idosos? Um irmão imperfeito? Um amante querido, a ponto de perder o juízo? Amigos que calharam aparecer-lhe na vida?Pois bem: que se vá lá ter e nunca se desista. Tomem lá disto. Beijocas naquelas bochechas. Exploração sentimental desenfreada. Anda cá senão eu fino-te. Não me vou daqui sem um abraço. Coceguinhas, nas manhãs frias, nos corpos quentinhos, ouvindo risos abafados debaixo dos lençóis, lambidelas nos pescoços perfumados, abraços apertados que protegem e nos protegem. Chega-me esses lábios à boca antes que eu me desavenha de tanto os cobiçar, ó desgraçado do meu coração doente.Hoje. Não deixes para amanhã.Fica hoje com quem amas. Diz-lhe, hoje. Aquece-lhe as mãos e o coração. Para não ficares depois com o olhar parado das missas de corpo presente. Já repararam nos olhares parados dos presentes quando o ausente é já só um corpo que também já não está presente? E a cara pasmada, como quem diz” Como é que isto foi acontecer? “ Porquê agora? “ Porquê ele? “ Porque é assim, ora bolas. Porquê a arrogância de acharmos que a nós não aconteceria? Acontece, porra, acreditem. Não paguem para ver. A nossa obrigação e inteligência é fartarmo-nos das pessoas de quem gostamos, levarmos com elas dia e noite. Só olhar para outra pessoa de quem não se goste imensamente, é, no mínimo, perda de tempo. Temos de lá ir. Temos de lá estar. Temos de levar com elas e eles até já não podermos mais. As pessoas amadas são como o melhor champagne do Mundo: eu nomeio o Taittinger. Não; por acaso até nem são. São incomparáveis. Porque a saudade delas é como uma ressaca de ter bebido de menos - dói mais por não ter por onde doer menos. Pergunta para estúpidos, presente autora incluída: - Haverá coisa mais triste do que sofrer pelo que não se teve, e esteve, tendo podido ter e estado? sabendo que teríamos sido bem-vindos e recebidos e amados? Resposta científica: Após quarenta e tal anos de pesquisa exaustiva, feita nas muitas fases da minha vida, uma palavra apenas obtive: Não!Fartem-se das pessoas que amam. Tornem-se chatos para elas. Pensem na morte - a tal que vamos todos morrer. Minimizem os prejuízos. Apanhem secas delas - e dêem-lhes também as vossas, correspondentes, para que quando morrerem possam quase respirar de alívio.Que andamos nós aqui a fazer? Não é como se houvesse um mundo melhor onde pudéssemos estar.Não há. O único que conhecemos é este, e nós, algumas, já sabemos quem são as pessoas que podemos tornar felizes. As pessoas que nos alegram. E às vezes, muito raramente, aparecem outros, poucos, tão poucos, que cruzam a nossa vida para tornar os intervalos suportáveis. Às vezes calharam aparecer-me na vida. Pode-se ser amigo de alguém que se conhece assim, tão pouco, só de olhar, e tendo uma peneira tão fininha como a minha? Pode, se se tiver o coração aberto e se sentirem ondas quentinhas para cá e para lá.E depois? Depois logo se vê, como diz esta escritora maluca.
Prefiro arrepender-me do q fiz do q não fiz.
Em tudo na vida.
And this concludes the votes of the portuguese jury.
14 nhận xét :
Eita, alegria rodos por aí por casa! Trata-o bem, afinal ele é responsável por te estar a ler!
Abreijos.
e se votou bem o juri português!
é esse o meu problema com a dança, o «let's dance» tende para o «let's get lost» (é o chet baker, não é?)... coisas de pés plúmbeos.
e é verdade sim senhor, nunca vamos bem a tempo de dizer tudo o que sabemos que só vamos lamentar quando já não formos bem a tempo de o dizer.
porque nos zangamos com os que amamos, zangamo-nos mais com eles do que com os que não amamos.
porque os que amamos são por vezes os que mais detestamos... mas tal é porque os que amamos não nos são indiferentes, nunca poderiam ser indiferentes, sabemos que sabem demasiado de nós, estão demasiado próximos, estão demasiado em nós, são demasiado nós.
e é por serem nós que nos esquecemos de lhes dizer (a tempo) que os amamos.
(e parabéns!... this concludes the vote of the romantic clumsy dancer's jury)
E depois não sabes porque o pai anda com a bangala no ar! E pra te dar com ela na moca quando andas praí a "arrastar correntes", mulher!
E viva o champanhe e parabéns ao pai!
Quanto a nos conhecermos, onde? No meio? hehehe
Que grande tempestade de alegria,amor e dedicação a quem se ama!!!
"Afinal a tia é uma gaja porreira que apetece cobrir de beijos"
Mais Nada!
vou daqui mais feliz!!!!
muitos beijos e abraços
p.s. a bengala deve ser para apontar o caminho da felicidade, dessa tua fantástica familia.
Esta mulher acerta em cheio...no que me diz respeito ´é claro, são pensamentos que me teêm povoado a mente últimamente, será que tenho feito todos os possíveis!? não sei, acho sempre que não, ou talvez...uma coisa é certa se nos preocupapos é porque amamos...
beijos e parabéns, amanhã é dia do meu filhote,pois o tempo passa!
Passo por aqui,diariamente. A mais das vezes não entro, vejo pela janela, que está sempre aberta.
Hoje, "apanhado" por este arrebatador "Circo de sentimentos...",entrei.
Entrei para lhe dizer (permita o sem cerimónia imodesto)que a sua pena (ou teclado, como quiser) está a tornar-se brilhante, escreve com o traço de Eça! Continue a dar-nos o prazer da sua leitura!
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Ao pai - "será que já lhe disse bastantes vezes que o amo?".
Não, não disse! Se a voz, vez por outra se cansar, diga-o com os olhos. Se estes estiverem doridos, desenhe-lhe as palavras nos rosto com os dedos das mãos.
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Abraço
E que viva mesmo até aos 90, aos 100, até quando Deus quiser e deixar que seja motivo de tanta alegria nessa casa e nessa família!!
Beijinhos
Parabéns ao PAI e que ainda te vá mostrando a bengala por muitos anos.
Sobre os presentes; um beijo de Filha é o melhor presente que ele poderia ter.
Reina a harmonia e isso é o principal na vida de quem AMA OS SEUS!!
Então que o pai continue a sacudir moscas com a sua bengala por muitos e bons anos.
...e vou mesmo agora ligar ao meu velho casal de pombinhos e estejam onde estiverem vou chateá-los de mimos.
Fiquei deliciado com esta parafernália de sentimentos que dançam neste belíssimo post.Sorri, ri, comovi-me, voltei a sorrir.
Alegria de família, a sua.Gostei de partilhar estes momentos. Ah!!!! e de saber que há um cão com nme de mocho do Rochedo. Ou vice versa. Ia escrever parabéns ao pai, mas fica melhor parabéns a todos.
Conchinhas
Mas isto hoje foram só festejos no blogobairro?
Nascimentos, aniversários, casamentos?
Viva o pai, pois então. Parabéns!!!!!!!!!
Quando fores ao Pitanga amanhã, lembra bem do que te pedi no post abaixo. És inteligente e vais saber porque.
beijos e boa noite.
olá,
como vê as fábulas são intermináveis... leu a da irmandade? gostava muito muito de um comentário seu...
Parabéns!
Ao teu pai, pela linda idade, e a ti, pelo texto magnífico.
Beijos.
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