7 January 2011

EMOÇÕES


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

É sabido que não sou muito patriota. Pelo menos não deste Portugal que hoje existe. Dum outro, longínquo, quando demos mundos ao Mundo é outra história. Embora por razões mal explicadas até para mim, vibre quando oiço o nosso hino cantado a plenos pulmões, mesmo a parte em que marchamos contra os canhões. Manias!
Depois, há aquelas coisas muito portuguesas, como o queijo da Serra,o vinho do Porto ou um Alvarinho branco para não falar num Quinta do Carmo tinto.
E há o Fado. Ah sim, o Fado!Fui iniciada nas lides fadistas quando tinha 16 anos pelo meu primeiro namorado e grande amor. Cantava-o maravilhosamente. E durante os vários anos em que namoramos, assisti a noites inesquecíveis de "Fadistices" onde ouvi e aprendi os clássicos. Ele e vários amigos reuniam-se para cantar Fado e mesmo quando a vida nos afastou, nunca o esqueci nem deixei de gostar de fado. Se possível passei a gostar mais porque fui aprendendo e descobrindo.

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

Tive esta noite o privilégio de estar presente numa dessas "Fadistices", onde o fado é cantado por amadores, que como o nome indica são pessoas que amam...cantar fado.E ouvi-o a ele, de novo. Passados perto de 30 anos. Continua com a mesma voz e a emoção foi igual.

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente...

Fado "Chuva" da Mariza

2 January 2011

(11) NOVA IORQUE, MEU AMOR


Quando nos vimos pela primeira vez foi amor à primeira vista.
Ah, se fosse um homem!
Tinha tudo para me fazer apaixonar. De uma beleza especial, era sensual,fazia-me rir, emocionava-me, surpreendia-me, tirava-me o fôlego.
Turista, fiz o périplo de todos os locais obrigatórios: da Estátua da Liberdade ao Empire, de Times Square ao World Trade Center.
No restaurante do último piso de uma das Torres tinha a cidade a meus pés.
Ah, se fosse um homem!
Nos museus aprendia, nos teatros divertia-me. A cultura anda pelas ruas na mistura de raças e línguas que se cruzam.
Depois, quase residente, comecei a vê-la com outros olhos. Nela cabem duas pequenas cidades ( Little Italy e China Town, onde se vende o peixe mais fresco de Nova Iorque).
Comecei a distinguir as Avenidas das Ruas e a saber qual faz esquina com qual.
E Central Park!! No Verão ou no Inverno veste-se de forma completamente diferente. Ora verde e quente ora branca e gelada. Nada de monotonias.
Ah, se fosse um homem!
E mesmo quando se percorre o País, de S.Francisco a New Orleans, de Washington a Las Vegas, nenhuma se compara com outra e nenhuma é igual a Nova Iorque. Como descer o Mississipi num barco movido a gigantes rodas não se pode comparar ao Hudson onde aterram aviões. Como as montanhas de Vermont não têm nada a ver com as de Lake Tahoe.
Como as águas frias das praias de leste não se comparam com as quentes da Califórnia.
Mas depois, volto a Nova Iorque como volto a casa.
Como voltaria para os braços do homem amado.
E foi ela que me deu o mais precioso presente de Natal que recebi este ano.
De uma forma linda,branca, silenciosa, a cidade vestiu-se de branco, a rigor, para as Festas. E foi esse rigor que impediu o avião do meu filho de partir oferecendo-me mais dois dias com ele.
Ah, se fosse um homem, eu dir-lhe-ia: Nova Iorque, meu amor!