30 September 2009

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Ela mora sozinha num apartamento pequeno que mais parece um quarto de empregada. Adora livros de astrologia e literatura de todo tipo, das mais baratas às mais ricas e belas e deixa tudo junto espalhado pelo chão. Tem os cabelos ondulados, olhos cor de mel, lábios rosados e uma pele cor de leite. Gosta de felinos, cria um gato chamado Pouft. Tem uma coleção de vinil da Billie Holiday e dos Beatles. Beatles para ouvir pela manhã, e Billie à noite. Guarda um piano de brinquedo, que apesar de ser de criança, ela toca tão bem quanto o Oscar Peterson.
Um quarto e uma só janela que dá de frente para uma praça com relva, areia e begônias. Uns bancos pintados de castanho onde a maioria das pessoas que se sentam ali, são aquelas de cabeça branca que levam o jornal debaixo do braço e talvez muita nostalgia na ponta da língua. Todas as manhãs vai à janela dar as boas vindas ao sol, dizer bom dia, pedir um bom dia; ás cinco e meia da tarde faz o mesmo ritual, dando adeus ao crepúsculo, dando uma boa noite, pedindo uma boa noite.
Vai ao quiosque todo o santo dia, ler as páginas principais dos jornais que ficam expostos, compra guloseimas e volta para casa.
Gosta de fazer bolas de sabão. Passa o dia todo molhando o seu quarto/casa com bolhas que faz com um só sopro e se espalham por cima dela, da cama, dos livros... fazem cócegas, são bonitas, estouram. Ela costuma pensar mil e uma coisa enquanto estica a bochecha e guardando um monte de ar para despejar numa bolha, com a pretensão de ser grande, duradoura. Tem vontade de morar dentro delas porque parece um mundo transparente, com cores leves enquanto se movimentam no ar.
Um mundo só dela. Uma bolha só dela. Uma bolha que não estourasse quando o vento é forte, ou com um simples sopro.
Na verdade, às vezes ela acha que o que causa tum tum tum dentro dela é como uma bola de sabão, tem a mesma sensibilidade de tudo aquilo que cresce por dentro, de tudo aquilo que a enche dentro do quarto, dentro das roupas, dentro da pele, dentro dela.
E estouram, também.

29 September 2009

Intensa


Intensa. Alguém me chamou intensa. Intensa demais. É bom, mas também é mau. Sofre-se mais mas também se sente mais.
Mas não é uma escolha.
Assim como os olhos húmidos de olhar o mundo não são uma escolha.
Mas continuar é uma escolha.
Intensa, escrevendo de olhos húmidos.
Mas vivendo.

27 September 2009

INDECISÕES REFLEXIVAS


Há muito tempo que tomei a decisão de não votar, excepto em referendos.
Claro que ouvi os maiores impropérios ( delicados) da minha mãe, que chorava o dinheiro gasto com a minha educação, que me chamava ignorante, que não sabia o que era não poder votar por ser mulher, etc, etc,
Mas mantive-me firme e hirta.
Desta vez vou votar, por raiva. Afinal, todos temos direito à indignação.
O que não entendo e não vou entender nunca é que raio é isso dos "indecisos" e do período de reflexão.
Afinal, se ao fim de 4 anos e meio ainda estão indecisos quanto às poucas vergonhas, despautérios, roubalheiras, corrupção que vivemos, que me perdoem, mas são burros.
Que me perdoem os burros, claro.
O problema é que à custa dessa burrice levamos todos por tabela.
Quanto à reflexão, reflecti hoje tanto, que até entrei em Alpha. Não me valeu de nada. Quando desci à terra tinha exactamente os mesmos candidatos em quem votar.
Portanto, a menos que aconteça um milagre, coisa que duvido, palpita-me que dentro em breve teremos novas eleições.
A ver vamos!

26 September 2009

(34) NÃO RESISTI

25 September 2009

PROPOSTA INDECENTE


A nossa PresidentA deixou de responder a Desafios, mas há uns meses abriu uma excepção e respondeu a este.
Como sabe que eu acho graça a estas coisas, passou-mo.
Aqui ficam as respostas.


Mania
: não estou em lado nenhum sem ter na mala um baton contra o cieiro e de alimento, inverno ou verão, que compro há mais de 15 anos em Nova Iorque. Tenho sempre um na mala, um no carro e um na mesa de cabeceira. Just in case!
Pecado: de acordo com a religião Católica, se formos para os Mortais, não tenho nenhum. Lamento! Se for aquilo que vulgarmente se chama de pecado, sou orgulhosa.
Melhor cheiro do mundo: o do mar a bordo de um veleiro e o do Natal;
Se dinheiro não fosse problema: doava a causas humanitárias de apoio aos idosos sem família, construia um abrigo para recolher todos os animais abandonados, mas onde pudessem andar à solta e não metidos em gaiolas, apoiava muito o Refúgio Aboim Ascensão e doava dinheiro para o IPO. Com o que sobrasse comprava um apartamento em Nova Iorque e outro no Rio.
Caso de infância: no meu 4º ano, um tio prometeu dar-me uma bicicleta com um cestinho branco à frente, se eu passasse. Passei e ele não ma deu. Nunca lhe perdoei.
Habilidade como dona de casa: sou uma boa dona de casa, não militante. Mas sou óptima doceira.
Não gosto de fazer em casa: limpar o pó.
Frase: what goes around, comes around.
Passeio para o corpo:uma massagem.
Passeio para a alma: andar na praia, à beira-mar. Ver o mar.
Irrita-me: pessoas que acham que sabem tudo, sobre tudo e não aceitam as opiniões dos outros. Piora quando gritam.
Frase ou palavra muito usada:Quando você vem com a farinha eu já tenho o bolo pronto.
Palavrão mais usado: Shit
Desço do salto, subo o morro e rodo a baiana: quando mentem falando de mim.
Perfume: sou muito fiel aos mesmos há muitos anos: tenho um que é o Meu perfume, que é feito por uma perfumista americana e que uso sempre, de dia ou à noite, de Verão ou de Inverno. Em noites muito especiais uso o Clinique Aromatics Elixir Eau de Parfum e em dias muito especiais o Cerruti 1881.
Elogio favorito: gosto que elogiem as minhas mãos. Sem falsas modéstias acho que são bonitas.
Talento oculto: recebo em casa "en petit comité" ou organizo eventos para mais de 200 pesoas, como uma profissional. (sem modéstia nenhuma)!
Nem que fosse a última moda eu não usaria nunca:unhas enormes pintadas com flores, pintinhas, e outras coisas semelhantes.
Queria ter nascido sabendo: ser uma boa avaliadora de pessoas logo à 1ª. Já estou mais desconfiada, mas com jeito, qualquer um me engana.

Como estive afastada, nem desconfio quem já respondeu, por isso, desta vez, aqui fica.
Quem quiser que o agarre.

24 September 2009

SEXY QUEM?

O meu afastamento do blog foi acompanhado da não leitura de jornais e revistas e até da televisão, embora, confesso, não fosse grande o sacrifício porque não sou tele-dependente.
Vi os debates, isso vi e tenho visto Os Gatos Fedorentos.
Foi então num dos programas deles, aquele em que entrevistaram o Sr. Sócrates ( reparem que não escrevi EngºSócrates, porque depois de Euzinha ter andado 5 anos numa faculdade a queimar as pestanas para fazer Direito, recuso-me a chamar engenheiro a um homem cujas habilitações literárias desconheço) que descobri que o dito senhor tinha sido eleito o homem mais sexy do país.
Confesso que o meu espanto não podia ser maior. Aquilo, sexy? Independente da antipatia pessoal que o personagem desperta em mim, vamos lá ver:
- O nariz é nitidamente de Pinóquio e juro que não me estou a referir às mentiras que diz habitualmente.
- O cabelo, agarradinho à cabeça, mais parece um capachinho, está longe daqueles cabelos fofos onde as mulheres gostem de enfiar as mãos.
- Por falar em mãos, o homem sua das ditas. E não é agora dos bacalhaus que anda a distribuir pelo país. Não, ele sua mesmo das mãos. Nhac!
- O permanente ar colérico agora transformado em cordeirinho manso dá-lhe um ar tão forçado que não há ali um bocadinho só que se possa achar sexy.
Portanto, das duas uma:
Ou todos os militantes socialistas, homens e mulheres, claro, mais os simpatizantes votaram nele, ou
além da tal " asfixia democrática" existe agora também a "cegueira democrática".
Pena é que todas estas " ausências democráticas" sejam ignoradas e não se fale delas mas sim do sex-appeal do Sr. Sócrates.
Como me recuso a conspurcar o meu querido blog com uma fotografia da pessoa em questão, deixo-vos com um homem sexy. Verdadeiramente sexy. Daqueles para mulher nenhuma botar defeito. Enjoy!


Hugh Jackman

Nota: Parafraseando a nossa presidentA agradeço que não me babem o blog novo!

23 September 2009

CRISES


Crises e mais crises...
Seriam essas crises, crises existenciais ou desistenciais?
Crises de relutância, crises de entrega
Crises de melancolia, crises de nostalgia
Crises de total euforia...
Crises de um contentamento infeliz ou de um feliz descontentamento?
Crises de me querer achar e logo em seguida me querer perder...
Crises de me mostrar para todos para depois me esconder
Crises de controlar tudo e de perder o controle
Crises de um momento de verdade no meio de uma vida de mentiras.

Crise de não ter a certeza de que tudo isso é só uma crise....

22 September 2009

PARECE QUE FOI HÁ TANTO TEMPO!


Há que tempos que não escrevo!... E, mesmo agora, já apaguei sei lá quantas frases começadas. Nunca faço isso. Escrevo sempre de enxurrada, sem censura nenhuma, sem reler.
Estou plena de coisas para dizer. Devo ter deixado passar tempo demais e agora está tudo compactado cá dentro, uma amálgama de sentires todos misturados, já sem características próprias. E como falar dessa massa de cor parda já sem forma nem conteúdo distinto?
Faço uma pausa. Fecho os olhos e cavo um túnel para dentro. Parece que me desfolho. Fica tudo do avesso. Olho para os meus braços e vejo músculos, veias, sangue, carne. Tudo de fora. E eu ligeirinha. A correr por dentro de mim, a escorregar na pele virada para dentro. Suave, quente e lisa.
Diz-me o psicanalista ( coisa fina...) que já pareci uma "morta-viva". Que foi por um triz.
Que disparate! Não sinto nada disso. Desprezo o dramatismo que imprimem ao que me dizem. Sabem lá que não estive a anos-luz de me acabar. E daí?
A vida imortaliza-nos. Em oposição ao esquecimento. Quem nunca viveu não esquece. Acontece que não quero esquecer. Nunca quis. Nunca o fiz. Lembro-me de tudo. Quero que assim seja. Preciso da memória para para lembrar, para me reconciliar. Com o que me magoou, me mudou, me enganou.
E comigo, sobretudo. Apaziguar-me com as recordações dolorosas, integrá-las em mim, tijolos do meu Ser. Produzir a mais sublime alquimia. A transformação do prosaico em divino.
Pronto! Era só isto, afinal. Parece pouco mas está cá tanto. Tenho as vísceras expostas há tempo demais. É bom que reponha a ordem. Foram muitas as ajudas. Colos imensos de cá e espalhados na Europa, pilares no Brasil, em Amsterdão e na Suécia. Também houve faltas e desilusões, mas por isso mesmo se diz que é na adversidade que se conhecem os amigos. Ou, como diz o povo" só faz falta quem cá está".
Sei que a BlueVelvet que volta não é a mesma. Talvez seja mais Blue que Velvet, mas também não pensei voltar e aqui estou.
Se de vez em quando resvalar, conto que desculparão.

20 September 2009

TÔ VOLTANDO!

11 September 2009

(8) NOVA IORQUE,MEU AMOR...IN MEMORIAM



Porque há coisas que simplesmente ultrapassam a nossa compreensão e envergonham toda a Humanidade.
É bom não esquecer!

O OUTRO 11 DE SETEMBRO


Estadio de Chile

Somos cinco mil aquí.
En esta pequeña parte de la ciudad.
Somos cinco mil.
¿Cuántos somos en total
en las ciudades y en todo el país?
Somos aquí diez mil manos
que siembran y hacen andar las fábricas. ¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!
Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.
Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.
Los otros cuatro quisieron quitarse todos los temores,
uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.
¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!
Llevan a cabo sus planes con precisión artera sin mportarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.
¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y trabajo?
En estas cuatro murallas sólo existe un número que no progresa.
Que lentamente querrá la muerte.
Pero de pronto me golpea la consciencia
y veo esta marea sin latido
y veo el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona lleno de dulzura.
¿Y México, Cuba, y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia!
Somos diez mil manos que no producen.
¿Cuántos somos en toda la patria?
La sangre del Compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.
Canto, que mal me sales
cuando tengo que cantar espanto.
Espanto como el que vivo, como el que muero, espanto.
De verme entre tantos y tantos momentos del infinito
en que el silencio y el grito son las metas de este canto.
Lo que nunca vi, lo que he sentido y lo que siento
hará brotar el momento....
Victor Jara executado a 15 de Setembro

Também foi a 11 de Setembro.
No Chile.
Para que não seja esquecido.

4 September 2009

2 ANOS DEPOIS...


A 1 de Setembro de 2007 dei início a esta aventura virtual sem fazer a menor ideia da repercussão que isso teria na minha vida.
Nada sabia de blogs, de comentários, de sitemeters e de muitas outras coisas que fui aprendendo com o tempo.
Muito menos sabia que viria a morar num bairro com vizinhas, condomínio e PresidentA.
Que se aplicavam coimas a certos vizinhos que tentam desvirtuar o bom nome do bairro. Que havia uns saquitos azuis que, de vez em quando têm que ser alimentados...
Como os meus alemães têm andado às turras, passou-me completamente que no dia 1 o BlueVelvet fez 2 anos. Aliás, quem me lembrou foi o tal vizinho descarado.
1,169 Posts depois, 37924 visitantes, um monte prémios que valem pelo carinho com que foram oferecidos, o saldo é, naturalmente positivo.
Fiz amizades que saltaram do écran, e outras, que mesmo sendo virtuais não deixam de ser importantes.
Neste mundo globalizado tenho vizinhas no Porto, na Linha, por todo o país, em Amesterdão, na Alemanha, na Suécia e no meu querido Brasil.
Não há festa por aqui, nem bolos nem champagne.
Simplesmente um enorme agradecimento a quem tem acompanhado esta fase menos boa da minha vida e que me tem feito chegar por várias vias, o seu carinho, o seu apoio e o seu humor para me animar. Nesse aspecto, não posso deixar de salientar a Pitanga que me provoca de todas as maneiras que inventa para me fazer sorrir e o SalvoConduto cujas mensagens vêm direitinhas ao meu coração.
Os outros, sabem quem são.
Deixo-vos com a imagem com que o BlueVelvet começou...para mais tarde recordar!

3 September 2009

LEVE


Quem me conhece e julgo que também quem me lê, sabe que não morro de amores por MST.
Quem me conhece sabe porquê.
Mas, às vezes escreve coisas muito acertadas como diria a tia Sofia, que na altura dos meus dez anos ainda não se chamava Sophia.
Enfim, adiante.
Encontrei há dias este escrito dele. O assunto era outro mas retirei esta parte, já que a política cada vez me interessa menos além de me fazer mal à saúde.
Garanto que o facto de estar fora do contexto, não retira em nada o sentido que lhe quis dar.

"Ultimamente tenho sido industriado num conceito novo sobre a vida que é também uma filosofia de vida: ser "leve". Ser "leve" é o contrário de ser "pesado", é, parece, a capacidade de levar as coisas sempre de uma forma ligeira, de não se preocupar demasiadamente com nada nem dar demasiada importância a coisa alguma. Aconteça o que acontecer, façam o que fizerem, as pessoas "leves" levam tudo na despreocupada: nada deve ser suficientemente grave ou importante para que deixem de rir e de sorrir todo o tempo e em todas as circunstâncias. Trata-se de um conceito moderno e urbano, que a mim me deixa um pouco baralhado, até porque nos últimos anos tenho aprendido a preferir cada vez mais a chuva no campo do que os dias cinzentos na cidade. É verdade que os portugueses sorriem pouco e que sorrir faz bem à saúde e torna as pessoas mais bonitas. Mas lembro-me de a minha mãe dizer que os que vivem eternamente felizes e despreocupados, sempre a rir ou a sorrir, ou são parvos ou são inconscientes. Sim, porque é difícil distinguir onde acabam as virtudes de ser "leve" e começa a estupidez de ser leviano. A fronteira não é clara e há-de ser estreita.

Mas de uma coisa estou certo: só se pode levar as coisas numa "leve" quando se tem condições para tal. Quem vive em quadros de miséria e carência, quem tem da vida urbana uma paisagem de subúrbios desumanizados, quem tem problemas sérios de saúde, quem viu morrer um filho ou alguém muito próximo e amado, quem viu morrer uma após outra todas as ilusões, ou não é "leve" ou anda a Prozac.
Poder ser "leve" é um privilégio, não toca a todos."

Miguel SousaTavares
Janeiro de 2009


Já agora esclareço que este texto não consegue responder a uma pergunta que me persegue há anos: porquê que os estúpidos são mais felizes que os inteligentes? Será por pensarem menos? Por terem menos dúvidas? Por fazerem menos perguntas? Ou por serem mais leves?