31 January 2010

(28) PORQUE É FIM-DE-SEMANA

MySpace-Comments

Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes:
Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Com quem? Com quem?
– Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
– Não sei, Lu.
- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou por quê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. - Discretíssimu's!Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
– Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não REAGIR.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
– Mas elas não sabem disso!
– Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
– Vou!
– Mais tarde, quando Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto interceptou-a. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema – disse. - Era o Dico.
- O que ele queria?
– Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- O quê?
– Você foi vista saindo do motel Discretíssimus, ontem, com um homem.
- O homem era você!
– Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
– O quê? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
– E então?
– Desculpe, Lurdes, mas...
– Mas o quê??
- Vou ter que te dar uma surra...

MORAL DA HISTÓRIA:DEVEMOS CUIDAR APENAS DA NOSSA SAÚDE, POIS DA NOSSA VIDA, TODO MUNDO CUIDA...

30 January 2010

(47) NÃO RESISTI



28 January 2010

CIRCO DE SENTIMENTOS ESCRITO A 4 MÃOS


Adorava ter o dom de conseguir transpor para o papel o ritmo do circo que está instalado cá em casa. O meu pai anunciou alto e bom som que tenciona viver até aos 90 anos. Responde a minha mãe:
- Pudera, não faz nada e toda a gente o apaparica. Assim também nós, responde em coro toda a gente.
- Deixem-se lá de conversas, e dêem-me os presentes, diz o meu pai com um ar digníssimo, batendo com a bengala no chão. ( Como não percebeu que aquela coisa dos euros está um bocado em falta por estes lados, tivemos que nos virar para arranjar presentes)
TRIM....TRIM...TRIM...desato a correr, tropeço no Sebastião e agarro nos auscultadores do meu lap top. É o meu filho de Nova Iorque, que quer falar com o avô. Chamo-o, ele lá vem com a sua bengala com o punho de prata no ar ( nunca percebi para quê que ele quer a bengala, porque não se apoia nela, anda com ela no ar!) e eu digo-lhe:
- Vá fale.
- Falo com quem?
- Com o Gonças.
- Não falo nada. Pareço parvo a falar pró ar, sózinho.
Entretanto o Sebastião ladra feito doido, assim que ouve a voz do meu filho. Não sei se é do champagne ou porque também não percebe onde está o Gonças. Nisto, no canto direito do écran, aparece um sinal a dizer que entrou um mail de uns amigos meus a quem chamo " Gatos". Dou um salto, tropeço no fio do microfone que estava enrolado no copo das canetas e lápis, e Zás: trinta canetas e lápis no chão. A Carlota( namorada do Martini man) chora a rir. O Martiniman, ( meu filho mais novo) com aquele ar da fotografia pergunta:
- O q foi? Que excitação é essa? Quem é que ligou? Foi algum admirador da mãe?
Levou logo com os lápis e canetas que eu já tinha apanhado, na cabeça.
-Não parvo, são os gatos.
- Gatos? Que gatos? Vocês agora também têm gatos, perguntam os presentes em coro. A Carlota continua a rir que nem uma perdida. Aqui, desisti. Sentei-me no chão, mandei toda a gente para o salão e resolvi vir escrever este post.
Escrever sôbre a fragilidade do amor, da vida, deste circo. Sinto tanto isso quando olho para o meu pai, tão frágil, tão dependente de mim, quando foi ele que sempre tive como ideia de segurança. Foi sempre ele o meu porto seguro.
Às vezes penso:- Será que já lhe disse bastantes vezes que o amo?É que por acaso chateia-me um bocado que no nosso meio social, as pessoas bem educadas não possam manifestar as suas emoções em público. A minha avó dizia sempre" Uma senhora nunca chora em público.” O caraças q não chora. E a história do beijinho. Só se pode dar um, senão somos saloios. Pior só mesmo um homem usar meias brancas...
A Carlota diz que a 1ª vez que veio cá a casa, estava morta de medo de mim, Vinha no elevador e perguntou, de repente, ao Guigas:
- À sua mãe dá-se 1 beijinho ou 2? Tá parva? 1 claro.
Diz ela: Ó tia, até me tremiam as pernas. Afinal a tia é uma gaja porreira que apetece cobrir de beijos. He...He...He...
Foi aí que me lembrei do Mec.
Escreveu ele, numa noite de muitos copos, como eram dantes, quase sempre as noites dele:

É minha convicção profunda, que temos o enorme dever, para com as pessoas amadas, de tratá-las como se tivessem morrido na véspera e voltado, por milagre, durante só mais um dia. “Obrigada! Obrigada! Obrigada! e ó pá, por amor de Quem te fez, vê lá essa merda, e não me abandones já”. Em suma: tem filhos pequeninos? Pais idosos? Um irmão imperfeito? Um amante querido, a ponto de perder o juízo? Amigos que calharam aparecer-lhe na vida?Pois bem: que se vá lá ter e nunca se desista. Tomem lá disto. Beijocas naquelas bochechas. Exploração sentimental desenfreada. Anda cá senão eu fino-te. Não me vou daqui sem um abraço. Coceguinhas, nas manhãs frias, nos corpos quentinhos, ouvindo risos abafados debaixo dos lençóis, lambidelas nos pescoços perfumados, abraços apertados que protegem e nos protegem. Chega-me esses lábios à boca antes que eu me desavenha de tanto os cobiçar, ó desgraçado do meu coração doente.Hoje. Não deixes para amanhã.Fica hoje com quem amas. Diz-lhe, hoje. Aquece-lhe as mãos e o coração. Para não ficares depois com o olhar parado das missas de corpo presente. Já repararam nos olhares parados dos presentes quando o ausente é já só um corpo que também já não está presente? E a cara pasmada, como quem diz” Como é que isto foi acontecer? “ Porquê agora? “ Porquê ele? “ Porque é assim, ora bolas. Porquê a arrogância de acharmos que a nós não aconteceria? Acontece, porra, acreditem. Não paguem para ver. A nossa obrigação e inteligência é fartarmo-nos das pessoas de quem gostamos, levarmos com elas dia e noite. Só olhar para outra pessoa de quem não se goste imensamente, é, no mínimo, perda de tempo. Temos de lá ir. Temos de lá estar. Temos de levar com elas e eles até já não podermos mais. As pessoas amadas são como o melhor champagne do Mundo: eu nomeio o Taittinger. Não; por acaso até nem são. São incomparáveis. Porque a saudade delas é como uma ressaca de ter bebido de menos - dói mais por não ter por onde doer menos. Pergunta para estúpidos, presente autora incluída: - Haverá coisa mais triste do que sofrer pelo que não se teve, e esteve, tendo podido ter e estado? sabendo que teríamos sido bem-vindos e recebidos e amados? Resposta científica: Após quarenta e tal anos de pesquisa exaustiva, feita nas muitas fases da minha vida, uma palavra apenas obtive: Não!Fartem-se das pessoas que amam. Tornem-se chatos para elas. Pensem na morte - a tal que vamos todos morrer. Minimizem os prejuízos. Apanhem secas delas - e dêem-lhes também as vossas, correspondentes, para que quando morrerem possam quase respirar de alívio.Que andamos nós aqui a fazer? Não é como se houvesse um mundo melhor onde pudéssemos estar.Não há. O único que conhecemos é este, e nós, algumas, já sabemos quem são as pessoas que podemos tornar felizes. As pessoas que nos alegram. E às vezes, muito raramente, aparecem outros, poucos, tão poucos, que cruzam a nossa vida para tornar os intervalos suportáveis. Às vezes calharam aparecer-me na vida. Pode-se ser amigo de alguém que se conhece assim, tão pouco, só de olhar, e tendo uma peneira tão fininha como a minha? Pode, se se tiver o coração aberto e se sentirem ondas quentinhas para cá e para lá.E depois? Depois logo se vê, como diz esta escritora maluca.
Prefiro arrepender-me do q fiz do q não fiz.
Em tudo na vida.

And this concludes the votes of the portuguese jury.

27 January 2010

...




Houve dias em que eu não cabia no estreito do mundo. Era como se eu estendesse os braços dançando liberta, e as minhas mãos estabanadas derrubassem vasos, estátuas, louças, milhares de coisinhas delicadas e mais ou menos preciosas que se fossem espalhando em cacos ameaçadores pelo chão.
Ás vezes eu pisava-as, cortava a planta dos pés e ia pisando o chão esbranquiçado com os pés ainda a sangrar. Deixava as minhas pegadas ao longo do caminho, pegadas tortas, pegadas livres.
Doía, mas eu chorava baixinho para esquecer a dor, para esquecer as feridas, para nascer de novo, livre como um passarinho.
Tenho cortes não cicatrizados que volta e meia voltam a doer e as lágrimas rolam sem que eu perceba, mas eu abro os braços de novo e danço, danço rodando a saia e despenteando os cabelos, porque preciso ir mais longe, já não aguento mais a pequenez das coisas, não aguento mais a mesmice da vida quotidiana.
Nada disso me serve. Ainda não sei para onde ir, mas sigo em frente, porque sei que não posso ficar.
Sei que mereço mais, e não me contento com o que a vida me dá.
Já não sou uma menina assustada, encolhida num canto, à espera que a vida me convide para dançar.
Já não enfeito os meus dedos com anéis coloridos, não espalho flores desbotadas nos meus cabelos loiros e a vida não me sopra nos ouvidos, delicada, doce.
Mas convida-me.
Convida-me e eu vou. Seja música ou seja silêncio, seja cinza ou seja cor, seja medo ou seja vontade, seja alegria ou seja dor.
Seja lá o que for, eu vou.


Will you catch me if I fall??

26 January 2010

FORA DE HORAS


Mesmo com o nascer do sol

persistia o escuro
imagino que o parto
tenha sido prematuro.

24 January 2010

PORQUE É FIM - DE - SEMANA...ADOPTE UM TERRORISTA!

haha
Eis a tradução da resposta que o ministro canadiano da Defesa dirigiu a uma boa alma que a ele se lamentava da sorte reservada aos «combatentes» afegãos, prisioneiros nos centros de detenção no Afeganistão.
National Defence Headquarters
MGen George R. Pearkes Bldg, 15 NT

Cara cidadã inquieta,

Obrigado pela sua recente carta, exprimindo a sua profunda preocupação a propósito da sorte dos terroristas da Al Qaeda capturados pelas forças canadianas, transferidos em seguida para o Governo Afegão e presentemente detidos pelos seus oficiais nos centros nacionais de reagrupamento de prisioneiros do Afeganistão.
A nossa administração toma este assunto muito a sério e a sua mensagem é recebida com muita atenção aqui em Ottawa.
Ficará feliz de saber que, graças à preocupação de cidadãs como a senhora, criámos um novo departamento na Defesa Nacional, que se chamará P.L.A.R.A, isto é " Programa dos Liberais que Assumem a Responsabilidade pelos Assassinos".
De acordo com as directrizes deste novo programa, decidimos eleger um terrorista e colocá-lo sob a vigilância pessoal da senhora.
O seu detido particular foi seleccionado e será conduzido sob escolta fortemente armada até ao domicílio da senhora em Toronto a partir da próxima segunda-feira.
Ali Mohammed Ahmed bin Mahmud ( poderá chamar-lhe simplesmente Ahmed), será tratado segundo as normas que a senhora pessoalmente exigiu na carta de reclamação.
Provavelmente será necessário que a senhora recorra a assistentes.
Nós faremos inspecções semanais a fim de nos certificarmos, com a mesma firmeza da sua carta, de que Ahmed beneficia realmente dos cuidados e de todas as atenções que nos recomenda. Apesar de Ahmed ser um sociopata extremamente violento esperamos que a sensibilidade da senhora, ao que descreve como o seu "problema comportamental" o ajudará a ultrapassar as suas perturbações de carácter.
Talvez a senhora tenha razão quando descreve estes problemas como simples diferenças culturais. Compreendemos que tenha a intenção de lhe proporcionar conselhos e educação ao domicílio.
O seu terrorista adoptado é temivelmente eficaz nas disciplinas de close-combat e pode dar fim a
uma vida com objectos simples, tais como um lápis ou um corta-unhas.
Aconselhamo-la a não lhe pedir para fazer uma demonstração durante a próxima sessão do seu grupo de yôga.
Ele é igualmente especialista em explosivos e pode fabricá-los a partir de produtos domésticos. Talvez seja melhor que os guarde fechados à chave, salvo se considerar (segundo a opinião que exprime) que isso o possa ofender.
Ahmed não desejará manter relações com a senhora ou com as suas filhas (excepto sexuais), na medida em que considera que as mulheres são uma espécie de mercadoria sub-humana.
É um assunto particularmente sensível para ele, que é conhecido por manifestar reacções violentas em relação a mulheres que não se submetem aos critérios de vestuário que ele recomenda como mais próprios.
Estou convencido de que, com o tempo, virá a apreciar o anonimato que oferece a burkha.
Recorde que isso faz parte do «respeito pelas crenças religiosas», como escreve na sua carta.
Mais uma vez, obrigado pelos seus cuidados.
Apreciamos bastante que cidadãos nos indiquem como fazer bem o nosso trabalho e ocupar-nos dos nossos congéneres.
Tome bem conta de Ahmed e lembre-se de que a observaremos.
Boa sorte e que Deus a abençoe.

Cordialmente,

Gordon O'Connor
Ministro da Defesa Nacional




23 January 2010

HOPE FOR HAITI NOW



22 January 2010

50.000


Quando há dois anos e uns meses comecei este blog, além de não entender nada do assunto, eram outras as razões que me moviam.
Queria escrever, sim, mas sobre tudo e mais alguma coisa, pôr vídeos, mails giros, fotos engraçadas e por aí.
Com o tempo, nem sei bem as razões, talvez por influência de alguns magníficos vizinhos, fui burilando a ideia e a pouco e pouco, aquilo que mais parecia uma loja de artigos chineses foi-se transformando, julgo eu, numa boutique mais exquisite.
Saíram os vídeos e os mails ( ficaram para o Não Resisti e Porque é Fim-de-Semana), e desapareceram os textos que não eram de minha autoria.
Isso reflectiu-se na postagem que era diária e deixou de ser e naquilo que escrevo.
Sabe bem quem escreve por obrigação, ( os cronistas semanais ou jornalistas) que isto da inspiração, não se compra nem se inventa.
Vem, nasce. Porque se vê um objecto que nos lembra algo, porque um estado de alma se instala, porque uma palavra que nos veio à mente de repente se transforma num texto que nos faz um formigueiro nos dedos e não pára até que esteja plasmado nas folhas de um caderno.
Assim que, hoje em dia não escreva todos os dias e escreva sobre os mais diversos assuntos.
De tal modo, que nem me tinha apercebido que já tinha ultrapassado a barreira dos 50.000 leitores que deixaram 11.961 comentários. ( O sitemeter que vêem marca 45.705 porque o instalei 5.000 leitores depois de ter aberto o blog).
Mas são números. Nada mais que números. Não sei exactamente o que significam. Nem sôbre isso me interrogo.
Como já disse em vários posts, escrevo porque escrevo, porque isso me é vital como respirar. Para mim, o que escrevo é pouco, e preciso tanto!
Escrever ajuda-me a pensar.
Deixo os pensamentos escorrer pela ponta do lápis para que, quando releio, perceber o que faz ou não sentido.
Preciso escrever para deixar de ter esta sensação de haver mil frases, ideias, sentimentos a bailar na minha cabeça.
Penso no papel e vejo o que vale a pena ficar gravado e o que é ruído.
Mas raramente preciso de me arrumar.
Não me dêem muito, mas não me tirem um lápis daqueles com borrachina na outra ponta e um papel. Mais precisamente um Moleskine.
E já agora, uma ideia.

Nota: a imagem é a do 1º topo deste blog, que se manteve durante quase 1 ano e é da minha autoria e da minha máquina.

21 January 2010

(3) MEMÓRIAS DE INFÂNCIA


Poucos sabiam do jardim secreto na vetusta e almiscarada casa da Quinta. Sebes, cameleiras, buxo e lilases escondiam o granito rasteiro que suportava, altiva, a frontaria. Mirado por fora, o jardim não chamava a atenção. Era contido por um gradeamento verde, nem alto, nem baixo, portões também verdes rangendo ao abrir. Enganava os passantes a banalidade da impressão. Não sendo jardim mas gente, dobraria cautelas - fosse eu de as ter ou sequer de as prever! - pelo ar sonso das sebes desmentido por lampejos matreiros. Culpa directa do verniz das folhas das cameleiras regateando, a quem passa, o sol.
Não sendo grande, tinha a dimensão entre o normal e o destacado, assim fazendo vénia à (in)decisão social herdada pela família proprietária. É resmoneio cuspido entre-dentes nas costas de quem a sorte ou os berços sucessivos bafejaram que, se bem vasculhada, na família se encontrará a avó forneira.
Dito injusto por confundir farruscas com deslustres ancestrais, assertivo ao dar como inexistentes genealogias alvas de mácula, se bastardias, devassos, avarentos e sacanas contarem.
O segredo do jardim começava onde acabava o telhado do verde compacto das latadas. Pelas duas e meia da tarde, chinelavam passos nas lajes de granito que apainelavam o chão. Seguros. Precisos.
Rumavam a um altar exposto ao cruzamento ogival da abóbada celeste, onde pontificava uma mesa acolitada por cadeiras e espreguiçadeiras, tudo em sólida verga. Suavizam os assentos coxins de florido cretone. O chinelado quedou-se. Quem esticar o pescoço para lá das colunas de buxo onde curva a alameda, verá pés nus, balouçando, malcriados. Cosendo a curiosidade às sebes, subirá o olhar dos pés às pernas, estas convergindo em breve outeiro. Mirada decidida avançará rente às bordas dos vales suaves, olhos postos nas colinas gémeas desafiando o sol. Numa mão um livro, na outra nada.
Pestanas longas sombreavam o alto da face.
O cabelo solto por fora da espreguiçadeira.
A minha pele solta. Nua.
Oficiando ritual pagão.

19 January 2010

DÔR MENTE



Às vezes fico com o coração apertadinho.
Tão apertadinho que me falta o ar,
Que me sinto dormente.
É um desconforto,
Um frio
Que me gela o corpo.
Que me gela a alma.
Ou o que resta dela.
Ás vezes, acho que fiquei para trás
Agarrada a qualquer lembrança
Que não me pertence.
Pelo menos agora
Já não.
E é quando me sinto assim...
Quando o meu coração não detém
As lágrimas que pelo rosto correm
Que sinto a falta.
A falta de alguém.
Porque preciso indiscutivelmente
De alguém.
Que sem julgar me oiça.
Que sem me repreender me espere.
Que sem desesperar me chame.
Que sem me olhar me toque.
Que sem vontade me ame.
Que sem fé acredite.
Hoje só preciso disto.
E já é muito.

18 January 2010

( 10) TOU DANADA!


Vivo num País onde não escolhi o Governo. É o mal das democracias, ou como há quem lhes chame, as ditaduras das maiorias.
O Presidente não tem poderes, o Tribunal Constitucional não inconstitui ( calculo que isto seja um neologismo, mas que se dane), o povo não referenda e o Governo vai desgovernando, ora chegando-se um bocadinho à direita, o que não me incomoda, ora chegando-se um bocadinho à esquerda e aí já me incomoda e muito.
E quando eu já pensava ter visto tudo, mesmo já depois de aprovada a lei do casamento entre homosexuais, eis que leio que haverá casamentos desse tipo nos Casamentos de Sto António.
Aí passei-me. Estou danada, furiosa, furibunda. Claro que Mr. Costa nunca me enganou, mas enough is enough.
Abençoada Maria Antonieta que quando lhe diziam que o Povo não tinha pão, mandava darem-lhe croissants. E daí? Croissants franceses, quentinhos, estaladiços nunca fizeram mal a ninguém. Bem pior era o imperador Júlio César dizendo: "Ad populum panis et circensis" e atirava-os aos leões.
Mas péssimo mesmo é o nosso que nos dá circo e tira-nos o pão.
Circo, palhaçadas, fantochadas ou o que lhe quiserem chamar.
Então agora os "noivas" de Sto António casam debaixo do alto patrocínio dos anunciantes, do erário camarário e de Sto. António Padroeiro de Lisboa!!!! Só podem estar a gozar connosco.
E andaram tantos e grandes homens a guerrear para fazer disto um País.
Razão tinha Eça quando dizia que “Isto não é um País é um sítio, e ainda por cima mal frequentado!”
Por mim, já só tenho medo, como o Obélix, que o céu me caia na cabeça.
Fui!
Mas fui muito danada!

17 January 2010

( 26) PORQUE É FIM DE SEMANA

Photobucket
Árvore Genealógica


- Mãe, vou casar!
- Jura, meu filho ?! Estou tão feliz ! Quem é a moça ?
- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.
- Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
- Nada, não.. Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.
- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
- Problema ? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...
- E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Murilo ?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
- Tá ! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui ?
- Por quê ?
- Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o Papai não vai aceitar ?
- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade... E olha que espetáculo: as duas metade com bigode.
- Mãe, que besteira ... Hoje em dia ... Praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
- A Bel? Namorando ?! Ela não me falou nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
- Como ?
- Veruska...
- Ah !, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe !!!...
- Tá..., tá..., tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Por que não ? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Quando ele era hétero... A Veruska.
- Que Veruska ?
- Namorada da Bel...
- "Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem ?
- Da Bel.
- Mas . Logo da Bel ?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska...
- Isso.
- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães : você e o Biscoito.E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
- Por outro lado, a Bel...,além de mãe, é tia... Ou tio.... Porque é tua irmã.
- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
- Só trocar, né ? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
- Exato!
- Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...
- Entendeu o quê?
- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
- Que swing, mãe?!!....
- É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
- Mas..
- Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
- Sei!!!... E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.
- Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
- Que.. ?
- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser f...

(Crónica de Luiz Fernando Veríssimo filho de Erico Verissimo, que publica semanalmente na folha de S. Paulo)

16 January 2010

( 46) NÃO RESISTI

Cartoon by Tim Whyatt

Nota: E escusam de me vir com multas, que ponho já os vizinhos dentro de água e vamos ver se é verdade ou mentira!Humpft!

14 January 2010

LET'S GET LOST



Não sei que me deu, que nem sou destas coisas. Muito menos no Inverno. Sim, porque no Verão, como diria a Pitanga, o calor mexe com os neurónios, hormónios e anónimos e portanto seria mais natural.
O facto é que me anda a apetecer privatizar este senhor.
A Leonor, que é uma vizinha muito querida, mal soube, ofereceu-me este pitéu.
Não havia quem também o queria ouvir tocar? Pois aqui até canta.
Podem ver, ouvir, pasmar e até babar, mas já agora sem ser para cima do meu computador.
LET'S GET LOST!!!

13 January 2010

UNS MARCADORES CHINESES


Como sabem, eu e os chineses temos problemas graves.
Se por um lado, sigo e admiro uma série de coisa que vêm lá da terra do Sol-Nascente ( o Yôga, O Feng-Shui, a acunpuctura, a postura Zen, por outra lado, tudo o que tem a ver com a China de hoje, vulgo a violência com os animais e a mais despudorada violação dos Direitos Humanos, faz-me fugir daquela terra como o Diabo foge da cruz.
Para não falar das centenas de lojas chinesas que nos invadiram, que não seguem regras, nem de horários, nem de preços nem de educação, cujos donos olham arrogantemente os clientes sem fazerem o mais pequeno esforço para os entenderem, ( pudera, não precisam, eles caiem lá que nem moscas).
Tudo isto me afastou dessas lojas há muito tempo.
Mas esta semana tive um problema: precisava desesperadamente de pratos marcadores vermelhos e depois de procurar freneticamente em todo o lado e ouvir a resposta batida:
- Ah, minha senhora, isso esgotou há muito tempo-houve uma empregada que solicitamente me disse que numa determinada loja chinesa havia às centenas.
Fiquei sem saber que fazer. Ficar sem os marcadores ou esquecer os meus pruridos? Por fim, lá entrei no «chinês». Olhei, toquei, arregalei os olhos de espanto, empalideci no frente a frente com a tralha sintética cheirando vagamente a baunilha.
Mais um problema: odeio baunilha. E sintéticos.
Recuperada do primeiro round, aventurei-me num segundo mais específico: trapos, chinelas e lingerie.
No kitsch dos produtos asiáticos entre resmas de peças de psiché, o déjà-vu permanente, lingerie carmim, laranja e verde lima, tão sintética como a outra, só que a um «ésimo» da dolorosa. Por três euros e meio arrecada-se um conjunto de underwear para o ginásio, mínimo como convém. É certo que tudo é entregue com linhas e fios pendendo, mas nada que tesoura diligente não remedeie. Para quem queira.
Tudo chinês. Tudo barato. Os marcadores lá estavam e eu cada vez mais enjoada. Aquele cheiro a baunilha...Assim, nem marcadores nem lingerie.
Fiel aos meus princípios e recusando o sintético, opto pelo elementar e recorrente: nada.
Livre. Disponível para o atrevimento da brisa e do desejo.

12 January 2010

( 9 ) TOU DANADA

Ah, e vocês sabem que quando estou danada ou desato a falar brasileiro ou falo de faits divers, esquecendo que o meu blog é suposto só ter artigos sérios ( nada melhor do que rirmos de nós próprios) ou escrevo coloquialmente.
Agora queria ser um jornalista daquelas das revistas cor-de rosa, um Cláudio Ramosito, até mesmo um daqueles homens que seguram nos cabos para as estrelas não se estabacarem no chão, ou então uma ...mosca.
Uma mosca, sim, uma mosquinha que conseguisse assistir às cenas de bastidores, aos berros, aos murros em cima da mesa que neste momento o Sr. Manuel Moura dos Santos deve estar a dar em tudo e todos os que o rodeiam.
Manuel Moura de quem perguntam vocês.
Pois, então eu explico.
Uma pessoa que foi muito importante na minha vida costumava dizer que embora eu fosse uma princesa tinha uns certos lados foleiros...
Na altura, resumiam-se ao facto de eu gostar e muito do Roberto Carlos. Claro que, quando as divas e tudo quanto é artista conceituado começou a cantar o Rei, esse lado desapareceu.
Mas volta e meia, volta. Ah, volta.
Agora voltou.
Porque eu gosto de música. Acho que não saberia, não poderia viver sem música. De quase toda. Do clássico Quebra-Nozes àquela que se dança agarradinho, com a cabeça languidamente apoiada no ombro do parceiro, ou a desbunda absoluta de uma salsa cubana dançada en su sítio, de preferência com um cubano.
Daí que, a um nível mais baixinho tenha visto os " Chuvas de Estrelas" ( de onde, não esqueçamos, saiu uma Sara Tavares ou um João Pedro Pais), depois, mais recentemente a Operação Triunfo, de onde sairam, entre outros o Ricardo Soler ( o Tony) de West Side Story do La Féria.
Agora, decidi ver "Os Ídolos" desde os 1os castings. Ah, pois, vi tudo. Estou mesmo completamente por dentro, desde o início.
Quer dizer, por dentro do que pode estar uma humilde espectadora.
Os 1os castings foram inesquecíveis, com gente a pensar que cantava e grunhia. Que me desculpem, mas é verdade. Depois, de repente, aparecia como por milagre, alguém que cantava, que tinha estilo, que tinha voz, que tinha tudo. Era um gozo absoluto.
Numa dessas noites, apareceu um rapaz que fez o seu número, escutou os elogios dos jurados que ficaram absolutamente rendidos ao seu talento, mas que quando lhe deram um papelinho amarelo que lhe dava passagem à fase seguinte, recusou.
- Não, não. Eu não quero concorrer a este concurso. Só queria que me dessem a vossa opinião. Em suma, que me dissessem se tenho talento.
Parecia o Bryan Ferry, benza-o Deus. Mais novinho, mas o estilo, a voz, o bom gosto do Bryan Ferry.
Bem, não estão a ver. O tal senhor Moura Santos, que segundo parece é uma autoridade em música mas educação não tem nenhuma, dignou endireitar-se, sim que ele está sempre deitado no balcãozinho( deve ser fraqueza...independente da obesidade mórbida de que sofre) e passando do 8 ao 80, esticou-se todo para trás na cadeira, ( temi até que caísse) e desatou aos berros com o puto, que não estavam ali para perder tempo, se ele se achava bom demais para aquele programa, que continuasse e depois fazia da vida dele o que quisesse.
O rapazinho, com ar bem comportado, olhinho azul, abanava a cabeça nada convencido, que aquilo não era a praia dele, que não era o género de música que queria cantar, que não queria ser um ídolo Pop e blá, blá, blá.
Nada a fazer. O senhor dos Santos não desistia.
-Mas tu tens tudo para ser um Ídolo Pop. És mesmo o que queremos, não podes desistir.
E continuaram naquilo até que se virou para o candidato e lhe disse de papel esticado:
Já te perguntei 4 vezes. Não pergunto mais vez nenhuma. Vais continuar ou não?
E o Filipe, já mais envergonhado do que no princípio lá disse que sim.
E as coisas foram andando, até que apareceu um outro puto, com os seus 16/17 anos, uma cara linda, limpa, mas que era a antítese do Filipe. Extrovertido, meu para cá, bué para lá, cantava que Valha-me Deus e, claro, também passou.
Dos 12 mil candidatos restam em prova 5 concorrentes, entre eles dois únicos rapazes: o Filipe e o Carlos, claro.
Eis que a semana passada o Carlos escolheu cantar uma canção dos Anjos, que aliás cantou magnificamente, saltou, correu pelas coxias, pôs o público completamente histérico, sobretudo o feminino.(Ver aqui)
Ou seja, fez aquilo que é suposto um Ídolo fazer.
Pois o Manel passou-se. ( Fúria do Manel )
- Pop foleiro
- Não era nada daquilo que queriam.
- Os Anjos não valem um caracol.
- Espero que não ganhes o Ídolos.
O rapaz ouviu tudo com os seus enormes olhos a sorrirem, com um sorriso lindo na cara e no fim ainda agradeceu delicadamente.
O público vaiou estridentemente o Moura dos Santos o que o levou a, como não podia deixar de ser, invocar a democracia, a liberdade de expressão e aquela frase batida do momento em que acaba a nossa liberdade para começar a dos outros. Claro que ele tinha sido o primeiro a esquecer-se dessa ténue linha.
Na semana que se seguiu a bronca estalou, o verniz estalou, a educação que é inexistente, estalou. E Os Anjos não se ficaram e ameaçaram com um processo.
Domingo passado, na última gala, aconteceram 3 coisas inéditas:
1ª O Manuel Moura dos Santos, faltou ao programa por razões " pessoais", pela 1ª vez
2ª A gala teve como artistas convidados "Os Anjos", pela 1ª vez. Ou seja, pela 1ª vez houve artistas no programa sem serem os concorrentes, e foram Os Anjos! Isto na semana seguinte à bronca.
2ª O Carlos fez tudo o que o outro queria: não saltou, não dançou e escolheu para cantar, Só, uma canção do Elvis Presley que cantou magistralmente e mais uma vez, pôs o público e os restantes jurados aos seus pés.
Aqueles que aguentaram e chegaram até aqui, devem estar a perguntar-se:-
Mas porque raio a Bluevelvet ficou tão, tão danada com isto que não se conteve e teve que escrever um post sobre o assunto:
Pois eu digo-vos.
1º Comove-me às lágrimas ver jovens humildes, darem tudo para perseguirem o seu maior sonho.
2ª Odeio gente arrogante, que tem a mania que sabe tudo e sobretudo que é mal educada. Ai, como odeio gente mal educada. Grrr
3º Last but not the least, e esta é a verdadeira razão para a minha imensa danação: corre nos mentideros que o Carlos é homosexual e o Manuel odeia homosexuais.

Pois eu acho que deviam dar com *um gato morto encharcado na tromba do Manuel Moura dos Santos até o gato miar.
Primeiro porque está a colocar um rótulo no miúdo que não tem nada a ver com o concurso e segundo, porque que eu saiba o que se pede é que o Carlos cante e não que ele vá para ali sacar miúdas.
E ele canta. Se canta!!!

*Expressão alentejana

PS: embora possa parecer que não tem nada a ver com o assunto, mas tem:
Alguém sabe o contacto do jurado Laurent? Meninas, é que aquele homem é para metermos debaixo do braço e embarcarmos para as Caríbas com ele...Jesus, me abana!
Fui!




11 January 2010

ARRISCAR


Os anos passam devagar,
Memórias apagadas, lembranças recordadas.
O que desejei ser.

Os meses são sequências intermináveis,
Caminhos traçados, passos nunca dados.
O que deixei de ser.

As semanas são como puzzles de inúmeros pedaços,
Tentativas falhadas, forças acabadas.
O que quis ser.

Os dias constroiem-se lentamente,
Sonhos pisados, desejos cansados.
O que dei para ser.

As horas sucedem-se a um ritmo acomodado,
Objectivos perdidos, sorrisos escondidos.
O que arrisquei ser.

Os minutos desdobram-se em minutos mais,
Sentimentos inexistentes, palavras caladas.
O que tentei ser.

Os segundos multiplicam-se,
Coração de pedra, temperatura baixa.
Perdi-me.

10 January 2010

PORQUE É FIM-DE-SEMANA

Photobucket


A secretária de Sócrates estava apaixonada por ele, mas este nem percebia...
Um dia, depois do expediente, entrou na sala dele com um vestido bastante provocante, fechou a porta e caminhou até à mesa, com ares de Mónica Lewinski, propondo-lhe, de forma ofegante:
-Sr. Primeiro Ministro, vamos fazer uma sacanice?
- Vamos!... Onde é que eu assino?

9 January 2010

( 45) NÃO RESISTI


8 January 2010

SONHANDO


Sonhar é injusto. Exige sempre muito do sonhador e quase nada do sonhado - senão a simples omnipresença - . Sonhar exige tanto, que traz à tona o que racionalmente guardámos na gaveta mais escondida do sótão do nosso coração, e que fizemos questão de revestir com enormes pedregulhos trazidos de experiências anteriores...
Sonhar é injusto, porque a injustiça é relativa. O que uns tentam esquecer, esconder, alguém tem prazer em recordar e fá-lo mesmo que estejamos despojados de todas as nossas capacidades de seres racionais e quando, em estado de sonolência, as nossas faculdades emocionais podem ser assaltadas, sem que tenhamos oportunidade de pressionar o botão de alarme...
Sonhar é injusto, porque exige muito pouco do sonhado, que passa da condição de esquecido para a condição de lembrado. E as lembranças matam...mesmo que num estado de dormência do corpo e da alma que o habita...
Sonhar é injusto, porque nos faz acreditar que num tempo perdido, num lugar esquecido, num corpo inerte, há uma vida escondida, que só faz sentido se for sonhada, vivida...

7 January 2010

DANCEMOS


Dança comigo. Aqui mesmo… sob as poucas estrelas que ainda ousam sair à noite apesar do frio. Envolve o meu carinho… abafa o clamor do mundo no silêncio dos teus braços… Aperta-me bem juntinho de ti para que cada batida do teu coração me guie os passos até casa…

Canta-me ao ouvido estrofes desse silêncio que a tantos oprime mas que me conforta… não me interessa se sabes de cor todas as palavras ou se inventas algumas pelo caminho, mesmo que o ritmo a que pauto a minha respiração possa vir descompassado… Nada mais importa que não sentir-te a alma em cada nota… e poder impregnar a minha do timbre quente da tua voz…

Olha-me nos olhos para que, perdida no meu amor por ti, possa amar também o meu reflexo… E, enquanto me tens prisioneira desse olhar, aprisiona-me também a vontade no sabor doce do teu beijo…

Abandona-te ao movimento dos passos que desenhamos na areia… não penses sequer no amanhecer que se aproxima. Se a lua é clave, o sol será maestro nesta nossa melodia singular… Perde-te em mim e deixa-te ficar aqui para sempre… Seremos noite, valsa, tango, mar e lua… seremos dança… tu e eu… concerto, adágio, simples melodia… juntos, livres, sempre apaixonados… encontremos sentido, amor, paixão apenas um no outro… e dancemos a eternidade numa vida…

4 January 2010

NAVEGANDO


Vagueio pela blogosfera e encontro-me… inexplicavelmente. Tantas pessoas que sentem como eu… tantos estranhos que partilham dos meus sonhos que julgava tão únicos, que acarinhava porque pensava especiais… Quantos de nós, perdidos pelos quatro cantos do mundo não partilhamos as mesmas experiências… quantas vidas que desconhecemos são o espelho perfeito da nossa…
Todos buscamos amor, quantas vezes no lugar errado. Todos nos forjamos na dor de perder o que as saudades insistem em manter vivo dentro de nós… todos nos refugiamos nas palavras…, companheiras de noites sem lua, nas quais nos escorremos sem pudor…
Todos somos passíveis de sentir medo e solidão, euforia, adrenalina, exaltação e ira. Ninguém é totalmente desprovido de virtudes e está ainda para nascer de entre nós aquele que nunca errou ou infligiu dor aos outros…
Somos seres incompletos, mas impulsivos e orgulhosos, quantas vezes preconceituosos ao invés de dar valor às diferenças, quantas vezes fazendo a guerra porque temos medo da paz…
Quantas pessoas se terão já cruzado comigo na rua, no supermercado, no ginásio, que me compreenderiam tão melhor que qualquer dos amigos com quem vou traçando a minha história, simplesmente porque os caminhos que trilhámos até ali foram análogos?
Quantos estranhos são eu?
E porque insisto em fugir-lhes da vida com a mesma urgência com que fogem da minha… de forma tão inconsequente e fugaz?
Porque insistimos, em afundar-nos na solidão onde pensáramos ter achado refúgio redentor ,quando a cada volta o mundo nos confronta com nós próprios…
na criança que se esconde do medo mergulhando a cabeça debaixo dos cobertores...
no jovem que apoia os passos inseguros de um idoso que cruza já o Inverno da vida e tem por experiência as curvas de um caminho que ainda teremos que inventar a pequenos actos…
nos que descobrem o amor pela primeira vez… nos que perdem alguém pela primeira vez…e descobrem que o mundo é mais que um quebra-luz de sonhos…

3 January 2010

EM JEITO DE BALANÇO

Listas só escrevo do que tenho para fazer. E mesmo assim tenho post-its espalhados, alarmes no telemóvel e às vezes até escrevo nas mãos.

Planos não faço, pois como diria o escritor "não faço planos para a vida, para não estragar os planos que a vida fez para mim".
Mas, agora que 2009 acabou e posso garantir-vos que foi um dos piores anos da minha vida, resolvi fazer um pequeno apanhado de algumas coisas que me alegraram e outras que detestei que acontecessem.
Eu sei que não sou editora da Time nem da Newsweek, não sou directora do Sol, da Sábado ou mesmo da Sic notícias.
Mas como qualquer comum mortal houve coisas que mexeram comigo e muito.
Não me alargarei muito nos comentários de cada uma, umas porque já foram comentadas até demais, outras porque nem comentários merecem.

***** - A eleição de Obama. Adorei. Amei. Vibrei. Estou expectante...
----- - Odiei que o Sócrates tenha ganho as eleições, mesmo sem maioria absoluta.
----- - Odiei que o António Costa tenha ganho a Câmara de Lisboa.
----- - Sem comentários a discussão da Mme Nogueira Pinto na Comissão Parlamentar.
** Ri-me imenso com a agressão ao Berlusconi. Mas como foi uma agressão, apesar de tudo só tem 2 estrelas.
***** - Fantástica e contrariando todas as leis de Murphy a amaragem no Hudson.
------ Um horror o desaparecimento do avião da Air France que vinha do Brasil e desapareceu no mar.
***** - Adorei a cerimónia dos Óscares embora não tenha concordado com os prémios.
***** - Adoro o Hugh Jackman.
***** - É muito raro ver televisão, mas adorei os "Gato Fedorentos esmiúçam os sufrágios".
***** - Adorei o livro e o filme "O Leitor"
------- Senti muito a morte do Michael Jackson. Não sei se era verdade ou não o que dizem da vida dele. Como artista era o maior. Para mim!
***** - Adorei os dois dias que fui à praia. Foram só 2 mas foram muito importantes.
***** - Adorei conhecer a Grace, uma blogger brasileira que vive na Suécia e que sigo desde que abri o meu blog. Desde então ela já veio a Portugal várias vezes e sempre nos encontramos. De cada vez, veio com um membro diferente da família e são todos maravilhosos.
***** - Adorei que meu Pai tenha sobrevivido ao AVC que teve, quase sem sequelas.
***** - Não fiquei feliz por saber que vou ser avó em Julho. Porque acho que sou nova demais, mas sobretudo porque vou ser uma avó de 2ª. Saber que se tem um neto e só o ver uma vez por ano, é uma tristeza muito grande. Para isso já chega o desgosto do filho. Mas agora estou-me habituando à ideia.
------- Odeio chegar ao fim do ano e ver todos os grandes processos, começando pelo da Casa Pia, em banho-maria.
------ Odeio que até hoje, TODOS, os pseudo processos em que Sócrates está alegadamente envolvido, assim continuem, ad eternum.
------ Odiei a decisão do tribunal de devolver a menina russa à mãe biológica.
***** - Adorei todas as atenções que muitos amigos virtuais tiveram comigo, ao longo deste ano que foi tão conturbado para mim.
------- Detestei as desilusões que tive com alguns.
***** - A propósito de amigos virtuais, adorei ter ganho mais 5, bem no finzinho do ano, que aterraram no Bluevelvet nem sei como: a Tité, a Ná ( Casa de Rau), a Pó de Estrelas, a Licas (Ontem e Hoje) e o José Luís ( Fábulas Incompletas).
Exceptuando a Tité, os outros não sabem que criei logo no início do meu blog, dois Prémios que são pessoais e intransmissíveis.
Um deles já não o atribuo há muito tempo.
O outro, ofereci-o à Tité há pouco tempo.
Ofereço-o agora aos outros 4, embora saiba que o José Luís não o aceitará, porque não tem nada a ver com o blog dele. Mas isso não interessa nada. Eu ofereço-lho e ele pode guardá-lo no coração.
Aqui fica, para todos


E como vem sendo hábito, aqui deixo um tóclante para todos os blogs que estão linkados no meu. Podem levá-lo, se quiserem e gostarem. Só não façam cerimónia.
E, "Já que é improvável que 2010 seja diferente de qualquer outro ano, que a novidade sejamos nós".
Martha Medeiros

2 January 2010

(44) NÃO RESISTI

1 January 2010

HAPPY TEN!


Para quem faz tantos posts sobre o Natal como eu, pode parecer estranho que não escreva quase nada sobre o Fim-do-Ano.
E nem é por não haver tradições ou histórias para contar. É que o Ano Novo mexe comigo de uma forma estranha, e devo dizer, eu própria acho, estúpida.
Afinal é uma noite como outra qualquer. Para provar isso mesmo, já passei um réveillon a dormir. Deitei-me às 10 horas e acordei às 2 da manhã, já no novo ano. Nada tinha acontecido.
Aflige-me pensar que tenho à minha frente 365 dias novinhos em folha e que não sei o que eles me reservam.
Só há um sítio onde não sinto nada disso: vestida de branco, com as oferendas a Iemanjá, os pés dentro de água e rodeada de milhares de pessoas vendo os mais maravilhosos fogos do mundo. Já adivinharam onde, não?
Pois, naquele País que Deus fez num dia em que estava muito bem disposto. Um País, com a Cidade Maravilhosa, onde me sinto em casa.
Aí não há angústia que me chegue.
No 1º Réveillon que lá passei, tinha uma festa muito chic, mas avisei logo que só ia depois da meia-noite, porque essa, era na praia.
Vestida de branco, cheia de jóias, sapatos de salto alto, eis que surjo na portaria.
O segurança olhou-me de alto a baixo como se eu fosse um alien e disse-me:
- A senhora vai onde mesmo?
- Ora, para a praia, ver os fogos e passar a meia-noite.
- Vestida assim? Ah, mas não vai mesmo.
- ......
- O vestido pode ficar, troca os sapatos por uma chinelinha e deixa as jóias todas em casa. Assim pode ir.
Segui o sábio conselho e tive o melhor fim-de-ano da minha vida até então.
Desde aí, Fim-de-ano é no Rio...ou não é.
Em Nova Iorque também é giro, mas é para ver uma vez e é muito cansativo.
Portanto, Pitanga, Sónia, Oliver, Saravá, meus amigos!
Beijinhos e Bom Réveillon.
E para todos, Happy Ten!