Um quarto e uma só janela que dá de frente para uma praça com relva, areia e begônias. Uns bancos pintados de castanho onde a maioria das pessoas que se sentam ali, são aquelas de cabeça branca que levam o jornal debaixo do braço e talvez muita nostalgia na ponta da língua. Todas as manhãs vai à janela dar as boas vindas ao sol, dizer bom dia, pedir um bom dia; ás cinco e meia da tarde faz o mesmo ritual, dando adeus ao crepúsculo, dando uma boa noite, pedindo uma boa noite.
Vai ao quiosque todo o santo dia, ler as páginas principais dos jornais que ficam expostos, compra guloseimas e volta para casa.
Gosta de fazer bolas de sabão. Passa o dia todo molhando o seu quarto/casa com bolhas que faz com um só sopro e se espalham por cima dela, da cama, dos livros... fazem cócegas, são bonitas, estouram. Ela costuma pensar mil e uma coisa enquanto estica a bochecha e guardando um monte de ar para despejar numa bolha, com a pretensão de ser grande, duradoura. Tem vontade de morar dentro delas porque parece um mundo transparente, com cores leves enquanto se movimentam no ar.
Um mundo só dela. Uma bolha só dela. Uma bolha que não estourasse quando o vento é forte, ou com um simples sopro.
Na verdade, às vezes ela acha que o que causa tum tum tum dentro dela é como uma bola de sabão, tem a mesma sensibilidade de tudo aquilo que cresce por dentro, de tudo aquilo que a enche dentro do quarto, dentro das roupas, dentro da pele, dentro dela.
E estouram, também.