Quando numa sociedade, perante um determinado facto, a maioria pensa e age de uma forma igual, isso é a normalidade. Quem não o faz é anormal, quiçá louco.
Descobri que sou louca e à loucura me tenho remetido, num silêncio quebrado de quando em vez por uns laivos de lucidez.
Nessas alturas juro a mim mesma que da próxima vez farei como os outros. Mas às vezes não aguento.E quebro-as. Ás juras.
Agora, de uma só vez quebro quatro. Quem por acaso aqui passar, provavelmente nem terá paciência para ler um post grande.Tampis, ça m'est égal!
1ª Jura Quebrada - Não falar das últimas eleições.
Não falarei de todos os fait divers que as acompanharam mas há algumas perguntas que me martelam na cabeça e para as quais gostaria de encontrar resposta:
- Mesmo aqueles que não gostam de Cavaco Silva nunca duvidaram da sua honestidade e lisura. Como é que ele não desconfiou que durante a campanha o assunto das suas casas no Algarve viria à baila? Como é que ele não adivinhou que o caso da venda das suas acções e do empréstimo do genro seriam dissecados até à exaustão?
Por fim, porque não esclarece de vez as questões e remete para o site da Presidência da República?
Como é que Manuel Alegre, profissão político, não percebeu que era melhor apresentar-se como independente do que ter o apoio desapoiado do PS?
Como é que não percebeu que a podridão fétida do Partido se lhe colaria?
E assim, sem honra nem glória acabou a sua carreira política. Restam-lhe as trovas...
2ª Jura Quebrada - O Homicídio no Intercontinental.
A vítima não era pessoa da minha simpatia. Não a conhecia e nem tenho nada contra as suas orientações sexuais. Mas,
- se me horroriza a forma como os animais comestíveis são mortos, à paulada ( os coelhos), sangrando ( os porcos), com choques eléctricos os animais de maior porte,
- se sou contra as touradas,
- se pertenço a Associações de Defesa dos Animais
- se evito tanto quanto posso comer carne
- se em noites de temporal o meu coração se aperta pensando nos cães abandonados que vivem na rua, quando olho para o meu, quentinho, dormindo em cima do fofo édredon da minha cama,
Não posso concordar que NENHUM ser humano seja morto daquela forma. Seja qual for a razão, muito menos, por motivos sexuais.
Ouvi a notícia num telejornal. Li-a num jornal. Não corri para as bancas de revistas para comprar todas e babar sobre os pormenores sórdidos. Mas isso sou eu que sou louca, já que a maioria o fez.
Quando perguntavam aos meus filhos o que queriam ser quando fossem grandes, um queria ser palhaço, o outro Presidente da República. Nem um nem outro conseguiram. Felizmente.
O homicida queria ser Famoso. Não queria ser um escritor Famoso. Não queria ser um actor Famoso. Não queria ser um médico Famoso. Não, só queria ser Famoso.
Ora, a Fama tem sempre o seu preço. Ás vezes muito caro. Agora já é. Famoso!
As pessoas normais da sua cidade querem que não seja punido. As pessoas normais fizeram um grupo no Facebook com centenas de assinaturas para que nem seja julgado.
Mas eu que sou louca, sou tenho três perguntas:
- O homicida, enquanto pernoitava em casa da vítima, enquanto usufruia das viagens e presentes facultadas pela vítima, enquanto gozava o Réveillon numa das cidades mais caras do mundo, num dos hotéis mais luxuosos do mundo, nunca percebeu que estava a pagar o preço disso tudo? Ou que teria que o pagar? Que não há almoços grátis? Não queria mais? Que tal bater a porta do quarto do hotel, sair e voltar para Portugal?
- Curioso que ainda ninguém se preocupou com o sofrimento da mãe do homicida. O que irá naquela alma? Porque mãe é mãe. Seja de quem for. Como conseguirá ela equilibrar-se entre o amor imenso e único pelo filho e o repúdio e horror pelo que ele fez?
Mas, claro, isto sou eu e a minha loucura a pensarem as duas. Neste caso têm mesmo que ser as duas.
3ª Jura Quebrada - A Idosa encontrada morta 9 anos depois de morrer
Em tempos idos, no Japão, os velhos ( eu nunca uso esta palavra mas sim idosos), eram levados para a mais alta montanha perto da sua cidade natal, para morrer. Algo assim como se fazia aos leprosos. Mas isso era antigamente!
Seria? Será?
Uma sociedade que não cuida dos seus idosos é uma sociedade doente e por muito que me custe reconhecer, um caso destes nunca aconteceria na sociedade judaica ou por exemplo na India. Por lá, a palavra dos mais velhos é respeitada porque consideram que são mais sabedores. Por lá, as famílias vivem em comunidade. As mais das vezes os filhos quando casam ficam a viver com os pais.
Mas nós somos muito mais civilizados. Nós não temos idosos, temos velhos. Imprestáveis. Um empecilho. Doentes. Alguns quase surdos ou cegos. Enfim, uma chatice. Melhor mesmo abandoná-los à porta dos hospitais e não voltar para os ir buscar. Ou depositá-los como lixo em lares que de LAR, só têm a palavra.
Não falarei da atitude da GNR. Nem das autoridades. Nem da família. Não quero conspurcar o meu blog.
Mas tenho uma perguntinha, decerto fruto da minha loucura: - Os jovens de hoje pensam que não vão ser, um dia, velhos?
E agora vou recolher-me à minha loucura, num mundo onde
A terra gira ao contrário
e os rios nascem no mar!