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29 October 2007

PAULA REGO, THANKS, BUT NO THANKS!





Esta semana vão aparecer aqui uns escritos politicamente incorrectos, mas como isso está mesmo abaixo do meu nome no Blog, estou de consciência tranquila.
Para início de conversa, para mim os mitos são discutíveis.
Que é isso de um Mito? Afinal, quem os constrói são os homens, e logo aí há que desconfiar.
O homem não é confiável.
A humanidade não é confiável.
Portanto eu discuto mitos, e de alguns, não gosto mesmo nada.
Mas tenho algum cuidado ao fazê-lo. Pergunto-me sempre, se todo o Mundo acha que certa pessoa é tão boa que se tornou um mito, porquê que eu não gosto dela? Então leio e estudo tudo sobre ela, e só depois de bem documentada me permito emitir a opinião que já tinha na cabeça, e sobretudo no coração.
Foi o que fiz com Paula Rego.
Não vou aqui fazer a biografia da pintora, embora conheça a sua história desde criança.
Tenho para mim que os pintores são contadores de histórias, e que as histórias que contam nem sempre são bonitas. Como as nossas.
Mas há maneiras bonitas de contar histórias, e venha quem vier explicar-me as suas técnicas de colagem dos anos 50 e 60, o que querem dizer os quadros de animais que pintou nos anos 80, ou mesmo justificar que isso foi uma forma de fugir ao cheiro das tintas de que não gosta.
Isso eu já sei tudo.
Faço aqui um pequeno parêntesis: Uma vez numa exposição de pintura, ouvi uma senhora dizer para o senhor que a acompanhava: Nah, daqui não serve nenhum. Não dá com a decoração lá de casa.
Fiquei estarrecida. Como? Os quadros compram-se para dar com a mobília? Talvez então ir ao Continente, digo eu.
Para mim um quadro tem que ser lindo. Tem que falar comigo. Tenho que ver nele uma história sem que me expliquem o que o pintor quis dizer. Tem que me apetecer ficar horas a olhar para ele.
Eu sei que o conceito de beleza é uma coisa um pouco variável, muda com as épocas, com as modas, com os nossos olhos, mas provocar-nos repulsa?
E é isso que me provocam os quadros de Paula Rego. Pior, é o que me provocam as suas explicações.
Na dúvida, ou melhor, para não ficar com dúvida nenhuma, há semanas estive em Madrid e fui ver a exposição dela no Museu Reina Sofia.
Quando saí, tive que respirar o ar frio da rua para me sentir mais limpa.
Ora atentem nalgumas das suas afirmações:
Acerca dos bichos:
Um sardão, ao sol, à hora do almoço. Depois aparecia outro sardão. Eram enormes. Depois desapareceram e vieram duas cobras pôr-se ao sol. Devem ter comido os sardões, com certeza...Estávamos a almoçar no terraço e a ver as cobras...
Ah, a maior parte dos bichos que pinto são pessoas conhecidas. É mais fácil pintar bichos. Joaninhas não pinto, porque não tem nada. É uma bolinha com bolinhas em cima.
Caracol? Não. Isso faz-me imenso nojo.
Porco, porco é que gosto. Tivemos um porco. Lembro-me de ver a matança do porco. Levou imenso tempo a morrer, aos gritos. Uma coisa medonha.
Acerca do pelicano:
O pelicano é um símbolo do cristianismo, e o bico é muito importante porque ele fura e rompe. Quando rasga perde-se a virgindade. Mais do que isso. É uma espécie de morta viva. A pessoa não morre, mas anda completamente furada. Tem a ver com a penetração.
Sobre o facto de em Inglaterra onde vive, não venderem galinhas ou coelhos com cabeça:O espanto das amigas da minha filha quando vieram à quinta e viram as galinhas a correr e depois veio a Luzia buscar uma galinha e cortou-lhe o pescoço...Foi uma revelação. Nunca pensaram que aquilo que vinha congelado do supermercado andava.
Não comento nada disto. Cada um que tire as suas conclusões.
Há um quadro dela, muito famoso, em que se vê uma menina a engraxar uma bota de um polícia. Data de 1987.
Eis a sua explicação para o mesmo:O braço todo enfiado dentro da bota é outra penetração. Ela está a fazer isso por causa do pai. É uma vítima.
Há um outro, com um ganso que está entre as pernas de uma menina.A filha do polícia é o ganso.
Definitivamente ela pode ser genial, mas eu não gosto.
É sabido que foi buscar à infância inspiração para os seus quadros. É-me lícito perguntar que infância foi essa.
Mas tenha sido o que tiver sido, a forma como ela a pôs cá para fora em termos de pintura, a mim, afasta-me.
Não gosto.
Causa-me repulsa.
Durante anos, tive em minha casa, 6 quadros dela, da fase dos bichos.
Estavam no salão, na parte da sala de jantar.
Ora ficava de costas para eles, ora os mudava de sítio.
Não porque não dessem com a mobília. Não davam era comigo.
Um dia, numa situação especialmente dolorosa para mim, saíram com muitas outras coisas.
Quando vi a parede vazia, dei um enorme suspiro de alívio.