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12 September 2008

O DIA EM QUE CONHECI PINOCHET

O dia de ontem, em que se recordaram dois acontecimentos terríveis para a história da humanidade, trouxe-me à memória uma efeméride da minha vida, que não tendo qualquer significado prático, não deixa de me encher de orgulho de mim própria e me faz voltar a sentir o frisson que senti naquele dia.

Passou-se há 1o anos.
Estávamos, eu, o meu marido e os meus filhos, hospedados no Intercontinental do Rio de Janeiro, de férias.
A segurança naquele hotel é apertadíssima, não só por ser o hotel que é, mas porque fica localizado junto de uma das maiores e mais perigosas ( embora eu a tenha visitado, mas isso fica para outro dia) favelas do Rio: a Rocinha.
Além dos seguranças fardados que se passeiam por todo o hotel, há também muitos à paisana, e o acesso aos elevadores é feito num hall, onde para entrar há que passar por 2 seguranças, daqueles tipo armário.
Normalmente era preciso mostrar o cartão ( chave ) do quarto para passar, mas como já nos conheciam poupávam-nos a esse trabalho, sobretudo quando eu ia sózinha com as crianças.
Costumávamos ficar sempre no último andar para desfrutar a vista soberba e para ver as dezenas de parapentes e asas delta que vinham quase ter à nossa janela, dada a proximidade da Pedra Bonita, sítio de onde eles se lançam.
Nesse ano foi-nos dito que teríamos que ficar no andar abaixo, dado que na data em que que lá íamos ficar o último andar já estava todo reservado.
Uma manhã, seguindo a rotina habitual, levantámo-nos às 6 como sempre e vestimo-nos para ir tomar o pantagruélico pequeno-almoço na sala ao ar livre junto da piscina. Era uma festa que nenhum de nós perdia por nada.
Dirigimo-nos ao elevador e esperámos que o mesmo chegasse. Os meus filhos tinham o fato de banho e uma t-shirt vestida e eu um conjunto de praia sobre o biquini. O meu marido tinha ficado de descer daí a uns 10 minutos.
Quando o elevador chegou, a porta abriu-se e vi 3 homens vestidos de fato completo, o que ali não era muito normal. Mas não me detive nesse pormenor.
Dei um passo em frente com as crianças e ao mesmo tempo dois dos homens puseram-se à frente do 3º homem e disseram:
- The lift is full.
Ora, o lift tinha uma lotação de 10 ou mais pessoas, já nem sei. Mas 3 não era, como é óbvio.
Com um pé dentro e outro fora do elevador e os meus filhos atrás de mim, olhei para cima para a cara dos homens porque eles faziam 2 de mim, e de repente reconheci o 3º homem.
As minhas pernas começaram a tremer, mas agarrei nos miúdos pela mão, olhei-o nos olhos e disse-lhe:
- The lift is not full and we are going down.
Ele murmurou não sei o quê aos 2 homens e eles afastaram-se para entrarmos.
As portas fecharam-se e o elevador começou a descida dos 13 andares que nos separavam do lobby.
O tal homem olhou-nos e disse com ar gentil:
- Spending holidays?
- Yes.
- Wonderful town...
Não sei o que me deu, mas olhei-o bem nos olhos e respondi-lhe:
- It usually is. But not with you around.
E apertando a mão dos miúdos, continuei:
- Take a good look at this men. He is a murder and probably this is the closest you will be to such a monster.
Não se ouviu mais um som até as portas se abrirem.
Saímos e atrás de nós saiu o General Pinochet com os seus seguranças.
Só parei na recepção onde me encostei ao balcão a chorar de nervoso. Foi ali que o meu marido me encontrou, com os miúdos aflitos sem terem percebido nada. Quando lhe contei o que acontecera, ele disse-me:
- Você é doida varrida.
Se calhar sou e tenho consciência que aquilo não serviu para nada, mas ainda hoje quando me lembro fico toda inchada.
Mais ainda quando os meus filhos contam aos amigos que a mãe chamou monstro e assassino ao General Pinochet, num elevador de um hotel, a caminho do pequeno-almoço.