Assisti a todos os preparativos e fiquei até ao último minuto. Antes de sair perguntei ao enfermeiro a que horas teria que lá estar na manhã seguinte para ainda o ver antes de entrar para a sala de operações.
- O máximo até às 8.
Nessa noite mal dormi. Às 6 da manhã já estava a pé e às 7 no carro. Sabia que era na Parede mas não fazia a menor ideia de como chegar à Clínica. Pus a mente em piloto automático e a coisa até não correu mal até entrar na auto estrada e me enfiar numa fila que parecia nunca mais ter fim.
Os minutos iam passando e a minha aflição crescendo.
Por milagre, só pode ter sido, de repente dei de caras com uma tabuleta que indicava a Clínica e pouco depois estava no parque de estacionamento.
Faltavam 3 minutos para as 8 da manhã.
Tinha um jardim enorme para atravessar, uma escadaria imensa para subir e não sei quantos corredores para percorrer até chegar à cama dele. Olhei para os sapatos e amaldiçoei a triste ideia de calçar uns com 8 centímetros de salto. Só havia uma hipótese e foi o que fiz: descalcei-os.
Com o ar mais digno que consegui arranjar desatei a correr, muito bem vestida mas descalça e de sapatos na mão.
Quando cheguei à porta do quarto mal respirava e o meu coração parou quando vi a maca onde ele estava deitado a ser empurrada para o elevador.
Felizmente que o enfermeiro era um amor e quando me viu parou e segurou a porta, empurrando a maca para trás.
Encostei a cabeça no peito dele e murmurei: Vai correr tudo bem. Amo-te, meu amor.
Numa voz já entaramelada pelos sedativos ele murmurou uma frase. Agarrei-lhe na mão e só a larguei quando a maca entrou toda no elevador e as portas se fecharam.
Sentei-me na cadeira mais próxima de sapatos na mão, tentando recobrar o fôlego e fazer com que as pernas parassem de tremer.
Foi então que uma enfermeira se aproximou de mim e me disse:
- Não se preocupe. Vai ver que vai correr tudo bem. O seu marido está em boas mãos. Vê-se mesmo que estão casados há pouco tempo.
Sorri sem dizer nada.
Encostei a cabeça na parede que estava atrás, fechei os olhos numa prece silenciosa enquanto ouvia de novo a frase que ele me tinha murmurado:
- Sabia que não ia falhar, mãe. Também a amo muito.