Não tenho devoção por santos, nem gosto de ajuntamentos.
No entanto, o Sto. António tem um lugar especial na minha vida, por ser o santo da devoção da minha mãe, que ainda por cima colecciona imagens dele, toda a espécie.
Claro que eu tenho contribuído e muito, porque de todos os Países que visito é certo e sabido que trago um Sto António para a colecção.
Sei até que Sto António nasceu em Lisboa, a 15 de Agosto de 1195 e morreu em Pádua a 13 de Junho de 1231 porque a minha mãe se passa quando dizem que nasceu em Pádua e conta logo a história toda.
Ou, se está com os azeites, diz só:
Nasceu não, morreu!
Daí que não entenda bem porquê que se comemora em Lisboa o dia da sua morte, e não o do seu nascimento.
E também que, ao contrário do que se pensa, Sto António não é o santo padroeiro da cidade de Lisboa, mas sim São Vicente.
Enfim, choses!
Por razões que desconheço é costume invocá-lo para ajudar a encontrar objectos perdidos, numa oração conhecida como responso, e certo é que, sempre que perde alguma coisa, lá diz a minha mãe o responso e a coisa aparece.
E isto, garanto eu, é verdade.
Bom, mas tirando tudo isto, que aliás já me levou meio post, não sou devota de Santos ( só de N. Sra. de Fátima e sob a Sua protecção pus os meus filhos quando nasceram), e odeio ajuntamentos.
Pois, eu sei que me estou a repetir, mas é que estando aqui, agora, sentada ao fresquinho enquanto escrevo, ainda não me esqueci do susto que apanhei faz exactamente hoje um ano.
Então foi assim:
Há muitos anos que não ia a Alfama comemorar o Sto António. Desde antes de se beber Caipiroska em vez de sangria, imaginem.
Vai daí que o ano passado um grupo de amigos me convenceu a ir para Alfama.
E onde jantamos perguntei na minha santa inocência?
LÁ, responderam eles.
Nem fiz mais perguntas, mas decidi que levava o meu carro, que nestas coisas gosto de estar livre e poder bazar quando não quero mais.
Pois não sabia é que não ia querer mais às 9 da noite.
É que não estão bem a ver:
Sardinhas nem cheirá-las, as ruas cheias de gente bêbada àquela hora, e só via banquinhas com fulanos com garrafas térmicas a venderem caipirinha e caipirosca.
Cada vez aumentava mais o magote de pessoas, deu-me uma fúria e resolvi meter-me no carro e sair dali.
Andei uns 20 metros e fiquei literalmente ilhada por uma mole imensa de gente, na sua maioria de idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos.
Todos de garrafa de cerveja ou copos de plástico com um líquido que pretendia ser a bebida brasileira, nas mãos.
Rodearam o carro, começaram a abaná-lo, uns sentaram-se em cima do capot, outros batiam nas portas...o pânico apoderou-se de mim.
Freneticamente pensei que devia estar maluca, porque não me lembrava se o seguro cobria aquilo ou não, mas algo me dizia que actos de vandalismo não estavam incluídos.
Foram seguramente os 15 minutos mais aflitivos da minha vida.
E de repente, oiço um ruído que se sobrepunha ao da multidão, e como naquele milagre do Rio Jordão, abriu-se uma clareira e à minha frente apareceram dezenas de polícias de choque, vestidos a rigor e batendo cadenciadamente com os bastões nos escudos transparentes.
Ladearam o carro e escoltaram-me até ao Martim Moniz!
Lá chegada, só me lembrava dos meus Sto. Antónios de menina, na aldeia, saltando a fogueira e queimando a alcachofra.
Não sei se foi milagre de Sto. António, mas que desde essa noite ele ganhou mais uma devota, lá isso ganhou.
Só não me peça é que vá aos Santos Populares.