He will shelter you with His feathers.”
(Psalm 91:4)
(Psalm 91:4)
Há 15 dias o meu pai foi sujeito a uma intervenção cirúrgica para remoção de uma catarata. Embora estivesse assustado não o mostrava, e só quando a enfermeira lhe disse para tirar a aliança de casamento que usa há cinquenta e muitos anos, refilou com uma impaciência que não lhe é comum.
Lá foi, devagarinho mas muito direito, apoiado na bengala de que nunca se separa. Acho que sentir o punho encastoado em prata na palma da mão lhe transmite uma segurança que as pernas já trémulas, lhe negam.
Quando me chamaram para ir ter com ele à sala onde recuperava, encontrei-o falando animadamente com a enfermeira, mas quando me ajoelhei para ficar à altura do seu rosto, encostou a cabeça no meu ombro, e como uma criança, com voz de choro contido, murmurou-me ao ouvido:
- Custou tanto, filha.
Com os olhos rasos de àgua, ajudei-o a levantar e respondi-lhe como teria respondido a um dos meus filhos:
- Sim, mas agora já passou e vamos fazer um belo lanche.
Saímos da Cruz Vermelha e ao atravessar a rua para o parque de estacionamento, deu-me a mão e apertou-a.
Dei por mim a pensar em todas as vezes que atravessara a rua de mão dada com ele.
Eram as mesmas mãos. A minha e a dele.
Mas antes era a dele que me protegia, agora era a minha que o protegia a ele.
Fez 85 anos há dois dias e mesmo frágil como está, enquanto o tiver sei onde está o meu porto de abrigo.