O País político (e económico) tremeu com as afirmações proferidas pelo músico Bob Geldof quando participava, a convite do Expresso e do Bes num almoço-conferência sobre Futuro Sustentável. Só por curiosidade, acresce dizer que o senhor convidado o ano passado foi Koffi Annan, ex-Secretário Geral das Nações Unidas. Outro marginal!
O ex-Boomtown Rats, conhecido por ter organizado mega-eventos de solidariedade como o Live Aid, afirmou num discurso de 20 minutos subordinado ao tema «Fazer a Diferença», que "estão a ser construídas no litoral angolano, casas mais caras do que em Chelsea e Park Lane" e que "Angola é um país gerido por criminosos".
O BES emitiu, rapidamente, um comunicado para declarar «formal e inequivocamente» que é «totalmente alheio» ao conteúdo do discurso de Bob Geldof e que não se identifica com as afirmações «injuriosas» do ex-Boomtown Rats.
Ora não percebo tanta comoção por causa das afirmações de um bêbado e charrado músico como Sir Geldof.
Todos sabemos que Angola é um País democrático cujo Presidente está no poder desde 1979! Sempre eleito pelo povo que o ama, claro.
Todos sabemos que Angola está entre os países mais corruptos do mundo e em última posição num índice elaborado pela ONG Save the Children, que avalia as condições sociais da população em função da riqueza dos países (Wealth and Survival Index).
Neste relatório inédito de Fevereiro deste ano, Angola, "rica em petróleo", é o país pior classificado no que diz respeito à mortalidade infantil. "A taxa de mortalidade infantil de 260 para 1000 é 162 vezes superior àquilo que seria previsível face à dimensão da economia do país". E não melhorou desde o fim da guerra!
"Tendo em conta estes dados e a enorme discrepância entre uma elite muito rica e uma vasta maioria ainda a viver na pobreza, é legítimo levantar questões sobre o destino dado ao dinheiro do petróleo, " afirmou o director da Global Witness, Simon Taylor. Esta organização que, em 1999 e 2004, publicou relatórios acusando personalidades da hierarquia do Estado angolano de corrupção e desvio de fundos, incluindo o Presidente José Eduardo dos Santos, lamenta "as oportunidades perdidas" destes últimos seis anos de paz.
Mas claro que quando fez estas afirmações devia ter estado a snifar umas linhas de coca.
A Human Rights Watch tem sido uma das organizações mais activas nas denúncias de abusos das forças de segurança em Cabinda ou dos despejos forçados das populações dos bairros desfavorecidos dos arredores de Luanda para a construção de condomínios.
Estas situações começaram por ser denunciadas por associações angolanas - a Mpalabanda, entretanto extinta, para o caso de Cabinda e a SOS Habitat para os despejos forçados e a violação dos direitos humanos na perspectiva dos direitos económicos e sociais.
A partir de Londres, a investigadora da Amnistia Internacional para Angola, Muluka-Awne Miti, reconheceu: "É importante que alguém, seja quem for, levante a questão dos direitos humanos. Estamos sempre à procura de alguém que o faça para que o Governo possa ter isso em consideração e tome medidas para melhorar a situação".
Um dos aspectos que as organizações angolanas e internacionais, que trabalham na área da transparência das contas públicas e direitos das populações mais lamentam é o "silêncio" a que se remetem governantes de Portugal e de outros países europeus, um silêncio "conivente" com situações "graves" para não comprometer os interesses económicos.
Vários activistas aplaudiram a iniciativa de Geldof, considerando-a "absolutamente legítima e louvável" e comparando o músico irlandês ao actor George Clooney enquanto figura que "usa a sua notoriedade para fazer activismo político". O "efeito de surpresa", sendo Bob Geldof alguém que fala muito sobre África mas falou pela primeira vez de forma tão específica sobre Angola, também "fez a diferença".
Mas todos sabemos que estes senhores adoram uma champanhota e que não se pode ligar ao que dizem, porque a maior parte das vezes, estão alcoolizados.
Também sabemos que não vem nada a propósito Bob Geldof aproveitar para para tecer fortes críticas aos dirigentes angolanos em Portugal, porque o nosso País não tem qualquer ligação histórica com Angola. Pois!
Também nos deve surpreender muito que o Bes se tenha demarcado das afirmações do músico, porque afinal não é a única instituição bancária que se move em Luanda, como se estivesse em Lisboa. Porque será?
Para o casamento da sua filha Tchizé, o Presidente Eduardo dos Santos não olhou a gastos e deu luz verde para três dias de festas dignas de uma princesa. Participaram nelas distintos convidados, entre os quais o então primeiro-ministro Durão Barroso e Cinha Jardim. Na altura, algumas fontes asseguraram que Tchizé fretara um avião especialmente para vir buscar os convidados portugueses, que teriam as despesas todas pagas.
Em Luanda disse-se então que a faustosa boda teria ficado em mais de um milhão de dólares. Nesta cifra não se inclui o valor da fabulosa tiara de diamantes que a noiva ostentou. Este casamento de arromba durou três dias e envolveu 600 convidados.
Mas, não contente com isso, repetiu o casamento em Lisboa, numa cerimónia em que, por ter sido convidada, sei que só em flores, foram gastos 15.000€.
Em 2001, numa visita ao Rio de Janeiro para ir às compras, Ana Paula, mulher de José Eduardo dos Santos, gastou só na conta do seu hotel, o equivalente a toda a verba anual do Programa Nacional Micro-Crédito, que ela própria dirige.
Isto, quando no seu País a população vive em condições de extrema pobreza, com menos de 2 dólares americanos por dia, a esperança de vida é de 40 anos, a taxa de alfabetização de 42% e 31% das crianças tem peso abaixo do que deveria.
Portanto, em sinal de solidariedade para com o Governo de Angola vou partir e deitar fora o disco " I don't like Mondays", embora me custe, porque também nisso concordo com Bob Geldof: não gosto de 2ªs feiras!
Se quiserem atacar-me pelo que escrevi, aviso já que ainda estou sob o efeito dos copos que bebi ontem nos Globos de Ouro.