2 November 2007

ATIREI O PAU AO GATO, OU NÃO?

Atirei o Pau ao Gato, to
Atirei o Pau ao gato, to
mas o gato, não morreu, eu, eu
Dona Chica, assustou-se, se, se
Com o berro, com o berro
Que o gato deu, miauuu.

Era este o começo de uma das mais conhecidas canções que as crianças cantavam, desde o tempo da minha avó.
Não sei se repararam que os verbos estão no PASSADO.
Pois, foi de propósito. Imaginem que descobri que a letra que as crianças agora cantam, reza assim:
Não atirei o pau ao gato, to
Não atirei o pau ao gato, to
Porqu'a minha mãe ensinou-me, me
Que o gato, to
Que o gato, to
É meu amigo, miauuuuu.

Fiquei tão espantada quando ouvi a filha de uma amiga a cantar isto, que durante uns instantes as ideias ficaram um bocado embaralhadas.
Ainda interroguei a pequenina, mas ela nunca tinha ouvido a minha versão.
Falei então com a minha amiga, e ela explicou-me com um ar muito sério, que a letra tinha sido mudada para não incitar as crianças a fazerem mal aos animais.
Confesso que continuo atarantada com esta mudança, primeiro porque adoro tradições e depois porque preservo como um cão de guarda as memórias da minha infância.
Aliás, preservo todas.
Adoro memórias.
Depois porque "entre les deux mon coeur balance...".
Calculo que não estejam a perceber nada, mas vou passar a explicar:
É claro que qualquer medida tomada no sentido de proteger os animais, que amo, é por mim abençoada.
Aliás tenho-me batido, em cruzada, para que a nossa lei mude, e passe a ser crime com direito a registo no Registo Criminal, e pena privativa de liberdade, qualquer mau trato infligido a um animal.
Mas, isto é assim como dizerem-me que o whisky não é escocês, que o vinho do Porto não vem das uvas do Douro, que o melhor Gin não é o inglês e por aí fora.
Por outro lado, fiz uma pequena viagem na memória, e lembrei-me que depois de levar o meu filho mais velho a ver o Bambi, fiquei com dois problemas entre mãos:
1º Para além de chorar que nem uma Madalena quando viu a mãe do Bambi morrer, durante muitas noites acordava a chorar com medo que eu também fosse morrer.
2º Só muito mais velho consegui que fosse ver filmes de desenhos animados, o que para mim era quase um pecado.
Mas não havia quem o convencesse.
Ainda hoje, quando me insurjo contra a violência dos desenhos animados que passam na Televisão, ele diz-me sempre:
Ó mãe, olhe lá:
Então e a bruxa malvada da Branca de Neve?
E a madrasta da Cinderela?
E o lobo mau do Capuchinho Vermelho que come a avó dela?
E continua por aqui fora sem que eu tenha grandes argumentos para o contrariar.
Estas 2 coisas fizeram com que falasse com vários amigos, e o facto é que se gerou uma grande confusão, com uns a defenderem a nova letra, porque sim senhora, tem que se ensinar as crianças a amarem os animais desde pequeninos, e os outros que acham que a letra se deve manter, e as histórias de encantar se devem continuar a contar às crianças, para elas se irem habituando que há pessoas boas e más, que as más são as que batem nos animais, que há pessoas que são verdeiras Bruxas, que há o Bem e o Mal, e que o Bem vence sempre o Mal.
Agora pergunto eu:
Se não se deve mentir, muito menos a uma criança, como vou eu dizer que o Bem vence sempre o Mal, se infelizmente isso não é verdade?
E sendo assim, atiro o pau ao gato ou não?

6 nhận xét :

Luís Galego said...

E sendo assim, atiro o pau ao gato ou não?

o melhor mesmo é atirar o gato ao pau. Enfim...

como sempre o seu humor corrosivo faz toda a diferença...e as questões apresentadas são mais inteligentes do que se possa pensar.

Um abraço

H said...

Por acaso.. essa letra, deu lugar a um exame de Direito das Obrigações..

Sol da meia noite said...

Pois realmente...
Dum lado aqueles contos que alimentaram o nosso imaginário. Do outro a nossa realidade presente.
Reflexão que nos baralha um pouco...

Obrigada pela tua presença e compreensão.
*

O Profeta said...

Uma cartola de papel
Guarda o sortilégio, a emoção
Um passo de mágica ao acaso
Às vezes solta luz ao coração


Bom fim de semana


Mágico beijo

Anonymous said...

"Ca gandas malucos !!"

2º post do charroco ...

Bom fim de semana .

Alexandre said...

Por mim, atiro o pau ao gato... porque a tradição assim o disse! Se quiserem inventar outra letra com outra música, tudo bem, mas a original tem que ficar porque as crianças têm que perceber que isso é simbólico - e depois não é pela letra da canção que as crianças serão mais ou menos violentas com os animais, depende do muito que eles vêem os adultos fazer a esses mesmos animais! É vulgaríssimo ver crianças nas touradas e mesmo nas badaladíssimas touradas de touros de morte (em Barrancos e não só!): as crianças vibram talvez por todo o ambiente que rodeia a situação mas o problema estará sempre nos adultos e não nas crianças.

De qualquer modo há crianças que são muito cruéis para com os animais domésticos porque ainda «não sabem» distinguir entre um brinquedo e um ser vivo. Mas a maior crueldade é pedincharem um animalzinho aos pais e depois quando ele cresce não quererem saber dele e muitas vezes os «responsáveis» pelo seu abandono. Penso que tudo passa por uma questão de educação e de... civilização, e os portugueses não são os melhores exemplos de bem cuidarem dos animais!

Quem diria, excelente tema a partir de uma musiquinha tradicional.

Muitos beijinhos, Blue!!!