Ao que nos une, ao que nos liga uns aos outros, ao sentimento que nos faz permanecer juntos e atentos, ainda que a distância de vez em quando se interponha, costumamos chamar amor.
Pessoalmente acho palavra a menos para designar a complexidade de sentimentos que somos capazes de experimentar nessa tarefa árdua, constante, sempre inacabada e sempre em transformação de eleger pessoas significativas e com as quais nos preocupamos, em quem pomos tantas expectativas e com as quais organizamos uma topografia particular a que chamamos o nosso mundo.
Para lá da enorme abstracção da Humanidade como um todo a que pertencemos, que nos diz respeito e com a qual é suposto sofrermos e inquietarmo-nos, conseguimos ser absolutamente prosaicos e sentir sentimentos verdadeiros em relação a meia dúzia de criaturas que julgamos conhecer bem, que interagem connosco quotidianamente e que ocupam espaço, tempo e memória dentro de nós. Tirando esses poucos, que de facto são as grandes referências e suportes afectivos e materiais da nossa forma de viver e que, por isso mesmo, são capazes de nos fazer muito bem ou muito mal, os outros todos que nos rodeiam com diferentes graus de proximidade são apenas figurantes que compõem a acção, dão brilho e movimento ao fundo em que evoluímos no filme que é a nossa vida.
A ideia corrente que nos faz crer que, porque viajamos, porque andamos de um lado para o outro e nos deslocamos com rapidez no mundo, entrando em contacto com muitas gentes e falando em muitas línguas, alargámos o nosso leque de relações profundas é em si mesma falaciosa.
Parece que o conhecimento e a interacção social, a popularidade traduzida em muitos cumprimentos e em muitos nomes e caras que se conseguem recordar, não são medida de vinculação, porque falta o amor.
Calcorreando meio mundo, transportamos em nós uma família: a nossa; um bairro: o nosso; uma história: a nossa.
É a esses poucos que voltamos em todas as circunstâncias, é a esses que queremos agradar, são deles as opiniões que contam.
Também é verdade que é para esses que amamos que mais sentimentos ambivalentes reservamos. Culpamo-los do que podemos: desamor, falta de compreensão e apoio, orgulho e teimosia, desinteresse dos nossos projectos e dos nossos sonhos. São esses os que mais vezes detestamos, porque traíram expectativas, não estiveram lá quando foram precisos ou simplesmente são demasiado diferentes do que achamos que necessitaríamos. É com eles que nos zangamos, forte e feio, é a eles que chamamos nomes, é com eles que deixamos de falar como vingança para a dor que conseguiram provocar. São eles que responsabilizamos por tudo o que nos diz respeito porque, de alguma forma são nossos.
O que nos une, o que nos liga, o que nos faz sentir que pertencemos é demasiado déficit para se encaixar bem na palavra que usamos: amor.
Mas é também de amor que se fala quando se pretende explicar o que nos vincula aos outros e ao mundo.
Como dizia o apóstolo S. Paulo: "Ainda que eu seja capaz de falar a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, as minhas palavras são como o badalar de um sino ou o barulho de um chocalho.
Ainda que eu tenha o dom da profecia, a compreensão de todos os mistérios e toda a sabedoria; ainda que eu tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, não sou ninguém.
Ainda que eu dê aos pobres todos os meus bens, ainda que ofereça o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, isso de nada me serve."
6 November 2007
VÍNCULO OU AMOR?
Được đăng bởi BlueVelvet vào lúc Tuesday, November 06, 2007
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6 nhận xét :
Olá
Adorei o teu post. muito sábio.
Hj estava triste; nem mais nem menos que os outros dias, estava triste, com saudades, ferida; enfim - dor de cotovelo. Por isso escrevi, ams por isso mesmo acabei por apagar o post. Entretanto estou a mudar-me para http://outono-esconhecido.blogspot.com/
bjs
Por pequenina que seja a palavra "amor", gera grandes confusões e complicações na nossa vida.
Uns sentem-na, a outros dá jeito, outros nem querem nela ouvir falar...
E eu já nem sei se nela acredito...
Deixo beijinhos!
e como é bom de vez em quando juntar essa meia dúzia de pessoas e partilhar tantas coisas banais, brincadeiras e horas bem passadas e dar-mos todos umas valentes gargalhadas...isso é amor. gostei imenso deste texto.
bjs alentejanos.
gostei de te ler
Os pensamentos que partilhas são de grande sapiência
;)voltarei
Concordo em pleno. Excelente texto.
Um beijinho
Ai o amor...
Um sentimento que tanto nos dá.
Mas que tanta mágoa por vezes nos trás.
Adoro vir ler-te. Apesar ec falta de tempo, é um prazer ler textos que tanto nos dizem.
Um beijo grande
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