Depois de se certificar que Catarina tinha finalmente adormecido e que Martim também dormia, Bernardo saiu de mansinho, mas mal entrou no carro dirigiu-se a casa dos pais a grande velocidade, onde entrou utilizando a chave que ainda conservava em seu poder.
Foi directo à casa-de-jantar onde sabia que os pais estavam a almoçar.
Assim que o viram, o pai sem olhar para ele disse em tom jocoso:
- Então já se cansou de brincar às casinhas?
Bernardo engoliu em seco, e numa voz que mais parecia um gemido, pronunciou as palavras que lhe martelavam a cabeça desde que Catarina lhe despejara no colo a visita de Beatriz:
- A Beatriz esteve hoje lá em casa a falar com a Catarina. É verdade o que ela lhe contou?
Pela palidez da mãe e o olhar que trocou com o pai, percebeu que a sua aflição era fundamentada.
- Vocês são dois monstros. Como é que puderam?
E deixou-se cair numa cadeira chorando desabaladamente, sem fazer a mais pequena ideia do que ia fazer a seguir.
BEATRIZ
Beatriz nascera em Alfândega da Fé, uma aldeiazinha perdida no Norte de Portugal.
Com 14 anos veio para Lisboa servir para casa de uns senhores que tinham lá uma quinta.
Com o passar do tempo foi aprendendo e tornou-se uma excelente empregada. Despachada, boa cozinheira e de confiança. Diziam dela que " podia ver ouro em pó, que nada se lhe pegava aos dedos".
E era esperta também. Já que aquela era a vida que tinha, sempre que o trabalho aumentava ou se tornava mais experiente, pedia aumento. Se lho concediam, ficava. Se lho recusavam, mudava de patrões. Foi assim que foi parar a casa dos pais de Bernardo.
Gostava dos patrões e da casa. Não lhe davam grande confiança mas tratavam-na bem e o ordenado era bom. Além disso, no Verão iam para a casa de Cascais, e nas folgas ela aproveitava para ir para a praia.
Não conhecia ninguém em Lisboa por isso raramente saía, mas no verão não passava uma folga em casa.
Antes de vir para a capital nunca tinha visto o mar, pelo que este exercia sobre ela um fascínio especial.
Além de que aproveitava para ver o menino Bernardo a fazer surf.
Beatriz achava que ele era um príncipe e que devia ter algum poder especial, porque não era normal deslizar assim nas ondas em cima de uma pequena tábua.
Em boa verdade ela nunca tinha visto um homem tão bonito, tão cheiroso e tão educado.
Nunca se saberá se aconteceu porque aconteceu, ou se houve alguma outra intenção. O facto é que numas férias em que os patrões foram para o Oriente e ela ficou em casa com Bernardo e as irmãs, começou a andar pela casa em fato de banho quando vinha da praia, tal como via "os meninos" fazerem.
Uma tarde, ele tinha adormecido no sofá da sala depois de mais umas ondas, estava em tronco nu e calções de banho.
Beatriz aproximou-se dele e deitou-se ao seu lado. Tinha quase a certeza que ele nunca tinha ido para a cama com uma mulher e ela até era bem feita e tinha uma cara engraçada.
Quando percebeu o que tinha acontecido, Bernardo tinha deixado de ser virgem.
A partir desse dia as noites de Beatriz e Bernardo passaram a ser muito mais interessantes. Depois das irmãs estarem deitadas, Bernardo abria a porta do quarto e esperava na cama que Beatriz viesse ter com ele. E ela vinha. Todas as noites.
Para ele era descoberta do sexo, para ela nunca ninguém chegou a saber.
Quando os pais voltaram de férias tudo voltou à normalidade, exceptuando uns olhares que de vez em quando trocavam.
No fim do verão toda a família voltou para Lisboa.
Bernardo voltou à sua vida de estudante e começou a ter umas namoradas, embora de vez em quando, nas noites em que os pais saíam, fosse bater à porta de Beatriz.
No Natal foi com os amigos para a neve e quando voltou havia uma empregada nova no lugar de Beatriz.
Isto era tudo o que Bernardo recordava da passagem de Beatriz pela sua vida.
- Por alturas do Natal descobri que estava grávida D. Catarina, mas como o menino Bernardo era um gaiato, resolvi falar com os pais porque achei que com ele não ia resolver nada.
- Eles ouviram tudo e o Sr. Engenheiro disse-me que ia pensar no que fazer. Nessa noite ouvi-o discutir com a senhora, e no dia seguinte chamou-me e disse-me que, como já não era possível fazer um aborto, me ia dar dinheiro para eu ir para a minha terra ter o bébé e que me daria uma pensão para me ajudar a criá-lo, com duas condições: uma que eu nunca mais aparecesse, e a outra que nunca contasse nada ao menino Bernardo.
Aceitei, que havia de fazer? Grávida e sem referências, ninguém me ia dar emprego, e sem emprego também não conseguia criar o meu filho -.
Catarina não queria acreditar no que aquela mulher lhe estava a contar. Só podia ser mentira. Era demasiado terrível para ser verdade. Mas quanto mais olhava para os olhos azuis da criança, mais certeza tinha que a mulher não estava a mentir.
Catarina não queria acreditar no que aquela mulher lhe estava a contar. Só podia ser mentira. Era demasiado terrível para ser verdade. Mas quanto mais olhava para os olhos azuis da criança, mais certeza tinha que a mulher não estava a mentir.
Tudo o que queria era que ela se fosse embora. Não percebia por que cargas de água, depois de 3 anos ela estava ali.
- Mas a senhora sabe, eu agora tinha que vir. Se o menino Bernardo não tivesse casado nem sei o que faria.
É que eu estou muito doente. Tenho uma doença no sangue e os médicos dizem que só devo durar mais 6 meses. Eu fui falar com o Sr.Engenheiro mas ele disse -me que não tinha nada a ver com o assunto e que eu abandonasse o meu filho à porta de uma igreja. Mas isso eu não posso fazer. Por isso vim pedir à senhora que fique com o Bernardinho quando eu me for. Não tenho ninguém a quem o deixar.
Catarina achou que aquilo não lhe estava a acontecer a ela. Que só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Pediu a Beatriz que se fosse embora, que ia ver o que podia fazer e que deixasse o contacto em cima da mesa.
Foi tudo isto que entre soluços e nos braços de Bernardo, lhe contou quando ele chegou a casa.
E era isto que ele recordava agora, sentado na sala de jantar dos pais, olhando para eles como se fossem dois estranhos.
Voltou para casa e durante dois dias ele e Catarina viveram como dois zombies, praticamente sempre na cama, agarrados um ao outro e a Martim como se o mundo estivesse para acabar.
E estava. Pelo menos o mundo como eles o conheciam.
Foi assim, num estado de dormência, que viram o dia 25 de Abril de 74 amanhecer.
Nota: Continua no próximo post. Tenham um pouquinho de paciência. É impossível contar tudo num post só.
33 nhận xét :
Blue,
tenho que voltar para ler todas as partes desta história de uma vida.
Por hoje, deixo-te o desejo de um bom fim de semana.
Beijinhos
a história cada vez está mais interessante, mas a mim parece-me que já sei quem é a verdadeira heroina, pois está demasiado realista,
Uma coisa é certa é mesmo uma história real de amor e cumplicidade
Lindas as imagens que escolheste para a história que estás a contar.Gosto muito do modo como o estás a fazer.
Beijinhos com raios de Sol
Eu, pecadora, me confesso...
Adoro ler e logo, desde miúda, me habituei a "devorar" livros atrás de livros...
Mas a vida dá muitas voltas e entre o trabalho, a família e uma saúde com alguns revezes, acabei por perder o hábito de trazer por perto outras vidas, outras estórias, outras paixões e sofrimentos...
Obrigado Blue e a todos os "bloggers" que me têm feito reavivar o gosto de ler tão bons escritos!!!
P.S. - Olha qu'isto....levantar-me a um sábado de manhã para vir a correr para o pc ver se já havia continuação??? Acham normal??? (Oh, God!! I'm a blogaholic!!!!!!!)
Blue
li de trás para a frente, mas não consegui deixar de ler, como naqueles livros em que só conseguimos levantarmo-nos do sofá quando chegamos à palavra FIM.
Que bem que escreve!
vou ficar à espera do desfecho (ansiosa)
as vidas (e as suas histórias) merecem sempre ser narradas
veludinhos
Pois vou ter que me encher de paciência, vou. Mas por esta altura já estou entusiasmada, de modo que o esforço não é grande. Olha, a propósito do desafio das imagens, ele não é exclusivo de ninguém, é para ser partilhado e usado, aliás, foi-me passado pela Su, por isso, não tens que ter qualquer problema se quiseres lançá-lo aqui! Beijinhos.
Porque não consigo acertar no EUROMILHÕES!!!?
Já não digo mais nada, pois tiraria o interesse á história.
Comentem, não kero ser desmancha prazeres.
Olá Carminda,
há que tempos que não te via:)))
Pega uma cadeirinha e senta-te a ler.
Queres uma bebidinha?
Beijinhos e veludinhos azuis
Sagitário,
ainda bem que estás a gostar, mas não penses que tenho algo a ver com isto, para além do facto de ter conhecido a Catarina,o Bernardo e tudo o resto:))
Beijinhos e bom fim-de-semana
Sunshine,
acho que vais gostar ainda mais do final.
Beijinhos azuizinhos
Cecília,
junta-te aos bons:)))
Também sou assim. Mal abro o olhito carrego logo no botão do power do computador.
Beijinhos e veludinhos azuis
Leonor, que bom vê-la por aqui.
Ainda bem que está a gostar.
É uma história fantástica, independente de estar bem ou mal escrita:))
Beijinhos azuis
1/4 de Fadas,
hehe,pois vais ter que roer um bocadinho mais as unhas:))
Mas ontem pus a continuação mais cedo a pensar em ti.
Hoje, à meia-noite cá estará a continuação.
Obrigada pelo desafio. Vou pensar se faço.
Tenho um bocadinho de medo de ver como me imaginam...
Beijinhos e veludinhos azuis
António,
dou-te uma peça de veludo azul se descobrires o resto.
Vá, vê lá se consegues:)))
Beijinhos e bom fim-de-semana
Tanto jeito para cativar a leitura devia ser passado a livro!
Um sorriso
Sorrisos,
ora, ora, quem vai publicar o livro és tu:)))
Beijinhos e veludinhos azuis
Mas o amor é compreensivo e tudo supera … ainda mais com amanhecer de novo em liberdade…
beijinhos das nuvens
Venho ali do blog da Carlota, logo, de "setaque" algarvio.
Mas que "nerves"!!
Manda-me os próximos capítulos por mail. Sabes que estou doentinha e quando contrariada choro imensooooo.
Conta tudo de seguida. eu preferia. Quandop compro os livros, vem tudo junto. Já viste se tivesse de ir à FNAC diariamente buscar o capítulo do dia??
grrrrrrrrrrrr
Então?!?!
Disseste que saía hoje o último fascículo...
Já aqui vim 3 vezes...
Boa fisioterapia a minha a correr desta forma.
Vou ali massajar o meu mal, mudar a meia elástica, acabar de ver o roll de novelas e volto.
Livra-te de em teres feito vir nesta viagem em vão.
grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
POIS!!!Agora estás a por-me nos CORNOS do boi, mas não faz mal, até porque sou RIBATEJANO.
Não vai ser facil adivinhar o seguimento ou o final da história, porque muita coisa pode daqui advir, no entanto a minha rápida ideia é a seguinte.
Não se estragou um casamento, até porque o coração de Catarina é mole, ela acabou por aceitr a Criança, dando enorme bofetada sem mão nos seus Sogros e em todos os que a humilharam e repudiaram, seu marido Bernardo também foi incapaz de desprezar um fruto seu, a criança de Beatriz, tudo se resolveu de harmonia, fizeram uma grande viagem e agora conta tu o resto.
Será que mereço o veludinho?
Bom domingo!!!
bluevelvet, estou em pulgas!
para quem, num post anterior, dizia não ser capaz de escrever um livro...
É que me deixa pregada à história que, embora baseada em factos verídicos, não deixa de ser uma história bem contada.
Ai meu ovinho estrelado favorito,
às 00.01 lá tens o próximo capítulo.
Desculpa, desculpa, por favor, não rebentes que só gosto de ovos estrelados com a gema inteirinha, mas só acaba amanhã.
Mas verás que vale a pena.
Bjokas
António,
hehe, isso não valia tanto trabalho.
Era mais uma história...
Amanhã verás o final.
Mas, como prémio de consolação ganhas um lacinho de veludo.
Bjokas
Donagata,
nem me diga nada.
Estou num assado: as personagens fogem-me, cada um quer fazer sua coisa, sempre fugindo da história.
Vejo-me grega para as manter dentro do fio da meada.
Amanhã tem cá o fim, e hoje a penúltima parte.
Beijinhos e obrigada pelo seu interesse
Ai, ai. Nunca mais vou pôr a narração em dia...
N Beijos.
Já cá estou.
O capítulo?
Já cá estou.
O capítulo?
Este casal não tem sorte, hein? Com tantos problemas, ainda encaram uma revolução pela frente.
Um beijo!
Filoxera querida,
não te apoquentes que eu não apago:))
Beijinhos e bom domingo
Oliver,
e ainda a procissão vai na praça:))
Beijokas
Ainda bem. Já li e vou continuar.
Beijos.
Eu, espero fazê-lo. Mas custas próprias. Tu, tens jeito, pode ser que ainda te paguem para isso!
Um sorriso
lá vou eu ansiosamente ler a parte IV!!
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