24 August 2008

HISTÓRIA DE UMA VIDA - 4ª PARTE


Catarina e Bernardo nunca se tinham importado com política e estavam preocupados demais com o problema que tinham que resolver para pensarem que a mudança de regime poderia vir a influenciar as suas vidas.
Antes de mais tinham que resolver o que iam fazer com o pequeno Bernardo. Catarina não estava zangada com o marido: não só era um miúdo quando tudo aconteceu, como ignorava a existência do filho.
Mas estava muito revoltada com os sogros e com a vida. Afinal estava a pagar preços muito altos para ficar com o homem que amava.
E a sacro-santa pergunta que todos fazem quando algo de especial lhes acontece, ela também a fazia a toda a hora:- Porquê eu? Porquê a mim?
Por seu lado Bernardo queria muito conhecer o filho, mas não ousava pedir isso à mulher. Com uma criança recém nascida em casa e fragilizada como estava, o medo de a perder foi mais alto e calou-se.
Foi Catarina que lhe propôs uma solução. Não havia volta a dar: o pequeno Bernardo teria que ser criado pelo pai e ... por ela. Se não o fizessem o arrependimento acabaria com o casamento, e a consciência de Catarina, sobretudo agora que era mãe, dizia-lhe que não podia abandonar a criança. Começaria por passar os fins-de-semana com eles para se ir habituando, depois viria durante a semana e iria passar os fins-de-semana com a mãe, enquanto ela pudesse.
E assim foi. O primeiro encontro de Bernardo com o filho foi comovente e embora os problemas financeiros e logísticos fossem grandes foram-se habituando.
Por outro lado a criança era muito boazinha e dócil e adorava o irmãozinho. Mas era também muito quieto e triste, o que preocupava o pai e Catarina.
No fim do Verão, Beatriz que sofria de leucemia, morreu tendo à sua cabeceira Bernardo e Catarina que também providenciaram o funeral.
Entretanto já Besnico, como carinhosamente era tratado, tinha o nome do pai na sua certidão de nascimento, tratava-o por pai e chamava Catarina de Tati.
E assim, quando no final de Setembro foram para o Guincho passar o dia, Catarina apercebeu-se que num ano toda a sua vida tinha mudado, e como num passe de mágica tinha dois filhos e um marido.
Apesar das dificuldades eram felizes e Bernardo tinha uma verdadeira adoração por Catarina, mais ainda pela atitude dela para com Besnico.
Matricularam-no na infantil, num dos melhores colégios de Lisboa. O mesmo para onde iria depois Martim.
Mas nos últimos dias de Outubro, nova mudança se iria operar nas suas vidas.
Com Catarina dividida entre o emprego, o infantário de Martim, os primeiros dias de escolinha de Besnico e com Bernardo a fazer o 1º ano da Faculdade de Economia, receberam um telefonema do pai, solicitando-lhe que fosse lá a casa para terem uma conversa.
A contra gosto foi.
E ficou a saber que os pais iam para o Brasil. Que as irmãs ficariam a morar na casa de Lisboa, que Bernardo deveria ficar à frente da empresa do pai e que tinham a casa de praia em Cascais à disposição para se mudarem para lá com as crianças.
Bernardo não disse nem que sim em que não. Irritava-o que o pai continuasse a resolver tudo por ele, e depois apresentar-lhe o assunto como consumado.
Iria falar com Catarina.
O que fez.
A mulher, com o sentido prático que sempre tinha em situações de crise, pesou os prós e os contras e chegou à conclusão que o melhor era aceitar.
Afinal o pequeno estúdio era pequeno demais para eles e as duas crianças, e desde que Bernardo conseguisse continuar a estudar à noite, as novas responsabilidades iriam não só trazer-lhes um aumento de rendimento que bastante falta lhes fazia, como amadurecê-lo.
Quando lhe disse o que pensava, o marido, com o bom humor habitual respondeu-lhe:
- Mais? Já estou tão maduro que qualquer dia caio da árvore - o que provocou uma enorme gargalhada em Catarina.
Só que ela tinha mais uma coisa em mente: queria baptizar as crianças e queria as duas famílias presentes.
Chegava de guerras e estava convencida que era uma boa altura para todos se reconciliarem entre si e com a vida.
Além do mais, agora existiam 2 crianças que ela queria que tivessem uma família e não só pais.
E assim, antes dos pais de Bernardo partirem, mudaram de casa e o baptizado foi feito numa cerimónia muito bonita, à qual se juntou o casamento por igreja dos dois.
Uma surpresa armada por Catarina, mas que Bernardo adorou.
Os sogros partiram para o Brasil, e a vida seguiu o seu curso.
Bernardo pedia muitas vezes conselhos a Catarina quando as coisas na empresa se mostravam mais complicadas, uma vez que os anos post 25 de Abril não foram fáceis.
Três anos depois foram presenteados com outra criança: mais um rapaz a quem chamaram Lourenço.
Catarina torcia por uma menina, mas:
- O Bernardo só sabe fazer rapazes - dizia ela, olhando o marido com adoração.
Em 1980 os sogros voltaram do Brasil e instalaram-se na sua antiga casa de Lisboa.
Por essa altura o pai de Catarina tinha falecido e com as crianças num colégio em Lisboa e ambos a trabalharem na cidade era praticamente impossível continuar a morar em Cascais.
Nova mudança, desta vez da mãe de Catarina que foi morar para a casa do Guincho e eles passaram para a vivenda onde Catarina tinha vivido toda a sua vida e de onde tinha saído sozinha, no dia do casamento.
Os anos passaram, as crianças cresceram, o casal teve os problemas que todos os casais têm, mas eram uma família feliz.
Viajavam nas férias, sempre para destinos longínquos, aproveitando as viagens de Catarina, os 3 rapazes faziam surf com o pai que os tinha iniciado na modalidade mal foi possível ensiná-los a nadar, e no Inverno iam para a neve, desporto que todos faziam, incluíndo Catarina.
Besnico nunca gostou muito de estudar. Ia passando de ano, mas chegou ao fim do liceu sem saber bem o que queria fazer. Na verdade o que ele gostava mesmo era de viajar. Conhecer novos países, novas gentes, novos costumes. Até costumava dizer que tinha herdado isso da "mãe Tati". Era como ele tratava Catarina.
Adoravam-se. Ela nunca fez qualquer diferença entre ele e os filhos que tinha dado à luz e ele senti-a como sua mãe, embora lhe tivessem contado, quando entenderam ser a altura, a verdade acerca da sua mãe biológica.
Mas ele não tinha lembranças dela.
Para ele, Mãe era a que o embalara, passara as noites à sua cabeceira quando teve papeira, sarampo e todas as doenças que as crianças têm. Os avós adoravam-no e já ninguém se lembrava do que acontecera anos antes.
Martim era uma aluno excelente. Com notas óptimas, sempre soubera que queria ser economista como o pai, que tinha cumprido a promessa feita a Catarina e acabado o curso 5 anos depois de começar, e entrou na Faculdade com 18 anos.
Já Lourenço era uma mistura dos dois. Desde pequeno que tinha um ar blasé, fazia as maiores patifarias aos irmãos sempre com ar de mafarrico e “achava” que queria ser advogado, mas não tinha bem a certeza.
Quando acabou o colégio, Besnico pediu aos pais para ir dar uma volta pelo mundo durante um ano, comprometendo-se depois a voltar e escolher uma profissão. Em último caso, se não quisesse voltar a estudar iria trabalhar para a empresa do pai.
Catarina, sempre com o espírito abero que a caracterizava, convenceu o renitente marido que não valia a pena contrariá-lo, dado que ele não iria nem estudar nem fazer o que queria.
Era melhor deixá-lo fazer o que sonhava e quando voltasse resolveriam. Embora contrariado, Bernardo concordou.
Iria para a Índia e depois o Oriente: Singapura, Bangkok, Macau, China e voltaria pela rota polar.
Apesar da concordância, foi com o coração apertado que Catarina e Bernardo se despediram do filho no aeroporto.
Nota: É amanhã o fim. É melhor prepararem-se, porque imaginação assim, só mesmo a Vida.

29 nhận xét :

Teresa said...

Amanhã a que horas?

BlueVelvet said...

Ai que mau feitio:)))
A mesma hora, antes que me linchem:
00.01
Beijinhos e noite descansada

f@ said...

Deixou-os a vida ir andando por caminhos novos rumo às dunas que o mar visita quando as ondas em maré renovam areias...
beijinhos das nuvens

cecília said...

Uf...Uf...fui sair e voltei, a horas de ver se não deixava prámanhã o que podia fazer antes de dormir (porque já não era exactamente hoje e de manhã tenho que sair outra vez)....

Consegui!!

Já vou prá cama a saber mais um bocadinho!!!

Até amanhã!

KING SOLOMON said...

Escrita deveras cativante!! Pena ser uma história verídica...

BlueVelvet said...

Fa,
é. Com destino a rumos novos:))
Beijinhos e té manhã

BlueVelvet said...

Cecília,
já me fez rir.
Então, cá nos encontramos amanhã à mesma hora:))
Beijinhos

BlueVelvet said...

C Narciso,
obrigada pela visita.
Mas porque não gosta que seja verídica?
Sabe que escrevi-a exactamente por ser verdadeira.
Ainda ninguém sabe a razão, mas 2ªfeira saberão.
Veludinhos azuis

sagitario said...

estou a assistir a este filme, com lugar marcado e não arredo da cadeira até ao fim, histórias como esta é que nos apaixonam e sem querer entramos nela

Sunshine said...

Não preciso de ler o final para dizer que gosto muito desta história.
Grande Catarina!!! Aí está um exemplo como a nossa resposta ao que a vida nos apresenta pode marcar a diferença.
Beijinhos com raios de Sol

Maísa said...

Muito bom.
Não vou comentar um a um, comentarei no fim.
Li-os hoje todos, mas esperarei para saber o que as surpresas da vida lhes preparou.
Beijinhos.

ANTONIO SARAMAGO said...

ACHAS QUE TENHO MUITO MAIS A ACRESCENTAR?
A minha bolinha de cristal partiu-se!!!

Mar Arável said...

Sempre a chegar e a partir

BlueVelvet said...

Sagitário,
está na 1ª Plateia???
Espero que o final não a desiluda.
Beijinhos e bom domingo

BlueVelvet said...

Sunshine,
é verdade.
A Catarina é uma grande mulher.
Mais do que possas imaginar.
Beijinhos e bom domingo

BlueVelvet said...

D. Antónia,
pois cá espero pelo teu comentário final.
Beijinhos e bom domingo

BlueVelvet said...

António,
bem me queria parecer que não adivinhavas o final.
Mas não penses que é fácil: Portanto era normal que a tua bolinha desistisse.

BlueVelvet said...

Mar Arável,
e não é isso a vida?
Chegadas e partidas, as mais das vezes feitas de escolhas.
Bom domingo

Justine said...

A história é exaltante, e muito bem contada. Mas dás-me cabo do coração, com estas pausas...:))
Então até amanhã!

ANTONIO SARAMAGO said...

Talvez Bésnico, tenha ficado pelos Orientes, por lá tenha realizado a sua vida e se a pORTUGAL VOLTOU, foi só mesmo de visita a seus Progenitores.
C/ os pais de Bernardo, as coisas melhoraram, hoje é ele um grande Empresário, Catarina continua a ser uma Maravilhosa Esposa.
Martim seguiu as pisadas do pai e Lourenço dedicou-se á Advocacia.
Isto é só um cheirinho, porque adivinho que estão por aí algumas surpresas!

JC said...

A história está cativante. Faz com que venha ao seu blog todos os dias. Mas vou esperar pelo final para fazer o comentário que ela e a autora merecem.
A música que escolheu é linda...
Beijinhos.

amigona avó e a neta princesa said...

Minha querida, obrigada por esta partilha...virei ver o final,sim...é uma história de vida mas empolgante, sem dúvida! beijos...

Margarida said...

Uma questão:
- como é que a dado momento, com duas crianças e grandes dificuldades financeiras, conseguem matricular o pequeno Bernardo "num dos melhores colégios de Lisboa"?
Que eu saiba os colégios pagam-se caros e quanto melhores são, mas caros se tornam...
Apesar de a história estar a ser contada como verdadeira, este pormenor deixa transparecer pouca verosimilhança. Ou não?

carlota said...

Volto para ler o final...estou em pulgas.

BlueVelvet said...

Margarida,
embora tenha os comentários moderados, nunca deixei de publicar nenhum.
Também não aceito anónimos neste blog.
Não gosto de nada que é feito sob anonimato.
Eu dou a cara com tudo o que escrevo, sejam textos ou opiniões que manifesto, e aceito todas as críticas desde que educadas e construtivas.
É a 1ª vez que aqui vem, tem um blog aberto só a convidados e o seu comentário contém uma certa animosidade.
De qualquer forma vou responder-lhe:
As dificuldades que refiro são todas as que o casal teve que passar para ficar junto, e não económicas.
Embora não fossem ricos, Catarina ganhava bem e ela e o marido optaram por fazer um sacrifício, mas dar uma boa educação aos filhos.
Aliás, o colégio onde puseram o filho, foi o mesmo onde o pai estudou.
Qualquer outro comentário seu, seja ele de que teor for, não será publicado, só por uma razão:
não recebo pessoas em casa de quem não posso entrar.
Fique bem.

cecília said...

Blue,
Defnitivamente não é justo. Já há 4 dias que há uma avidez colectiva em beber cada uma das suas palavras, num texto muito bem construído, emotivo e emocionante.
Mas é com alguma animosidade que reclamo pelo facto de o ultimo capitulo ser publicado de domingo para 2ªfeira....Amanhã é dia de trabalho, bolas....inda falta 1 hora para o post ser publicado e já quase ne vejo o teclado de tão vesga de sono!! Não dá para passarmos temporariamente para o horário de Inverno??? Pleeeeeaaase?? rsrsrsr

BlueVelvet said...

Querida Cecília,
sem qualquer animosidade:)) te digo que tão depressa não me meto noutra.
Tive que condensar a história e reduzi-la quase só a frases telegráficas.
Nem elementos literários lhe consegui pôr.
Acho que dava para ter escrito 10 posts.
Mas a minha vizinhança não deixou.
Pronto, aí está.
Não deu mesmo para pôr mais cedo.
Foi rever e publicar.
Beijinhos e boa semana

Filoxera said...

És uma escritora e pêras. Mereces toda a admiração que estes comentários aqui reflectem.
Continua! Por ti e por nós.
Um grande beijo.

Nenúfar Cor-de-Rosa said...

Com licença...vou a correr ver o fim:-))!